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Aquecimento é bom para a floresta, afirma Ab'Sáber
Para geógrafo, estudos não consideram a importância das correntes marítimas
Há 6.000 anos, condições
climáticas que permitiram a
"tropicalização" do Brasil
se pareciam com as criadas
pelas mudanças globais
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Atento aos estudos sobre os
impactos das mudanças climáticas globais, o geógrafo Aziz
Ab'Sáber, 83, concorda com a
tese de que o homem está aquecendo o planeta. Mas, quando o
assunto é o impacto da nova
realidade climática nos biomas
brasileiros, a tese do pesquisador contraria as previsões recentes dos cientistas.
"A tendência no caso das matas atlânticas e da Amazônia é
que elas cresçam e não que sejam reduzidas", disse o pesquisador, em entrevista à Folha.
Para ele, a região conhecida
como mata atlântica na verdade é formada por três biomas:
as matas, o planalto das araucárias e as pradarias mistas, que
ocorrem apenas no Sul.
O geógrafo afirma ser impossível o fato de um estudo apresentado no Rio de Janeiro no
início da semana ter previsto
que o aquecimento global poderá reduzir em até 60% a mata atlântica brasileira.
Para Ab'Sáber, muitos cientistas estão esquecendo de considerar as correntes marítimas
brasileiras. "Elas vão continuar
mais ou menos como hoje."
Se isso ocorrer, explica
Ab'Sáber, o chamado ótimo climático, registrado entre 5.000
e 6.000 anos atrás, vai se repetir, não de causa natural, mas
por causa antrópica.
"Quem não conhece o conceito de ótimo climático vai inverter a situação. Há 6.000
anos, a umidade mais alta nos
mares foi fundamental para
manter as florestas atlânticas."
Para Ab"Sáber, as causas que
permitiram a "retropicalização" do Brasil depois do último
período de glaciação serão apenas reforçadas agora.
"As correntes marítimas de
água quente, na atualidade, migram até o sul do Brasil a partir
da região equatorial. Desconsiderar isso implica errar tudo".
Além disso, segundo o geógrafo, é preciso que as pessoas
"leiam o passado". Principalmente no intervalo de tempo
que começou há 11 mil anos.
"É preciso saber que, quando
o mar esteve 95 metros mais
baixo do que é hoje, no último
período de glaciação, a corrente fria que nós chamamos das
Malvinas (ou de Falklands
também, para não brigar com
os cartógrafos), vinha até além
da Bahia. Ela não deixava passar os ventos úmidos para dentro do continente. Climas frios
se estabeleceram. Ela era uma
barragem para penetração de
ventos marítimos", ressalta.
Segundo Ab'Sáber, o fenômeno era a semelhante ao que
ocorre hoje na costa do Pacífico, entre o Chile e o Peru. "Lá a
corrente é fria e toda a região
costeira é semidesértica."
Com o aumento do nível do
mar -entre 5.000 e 6.000 anos
ele esteve três metros acima do
que está hoje-, a corrente
quente chegou ao sul do Brasil,
onde ainda está hoje.
"Ela levou consigo uma umidade que permitiu a formação
de florestas costeiras até perto
de Porto Alegre, que seguiu depois pela serra Gaúcha desde a
cidade de Taquara até além da
cidade de Santa Maria."
No caso da Amazônia, principalmente na região oriental, as
previsões dos cientistas, segundo o professor da USP, também
estão erradas. "Todos falaram
que a floresta vai diminuir e ganhar cerrado. O aquecimento
global não vai destruir floresta.
No máximo, vai haver uma nova delimitação nos bordos da
Amazônia. Novos minibiomas
vão entrar, até pode ser o cerrado. É certo que vamos continuar com grandes florestas a
oeste, porque o regime de chuvas não será muito alterado."
Uma concordância com a
maior parte dos estudos. Para o
geógrafo da USP é realmente
preciso ter cuidado com as zonas litorâneas, porque o mar de
fato vai subir.
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