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POLÍTICA CIENTÍFICA
Ministro Roberto Amaral diz que inadimplência chega a 68% nos empréstimos para gerar inovações
MCT aponta rombo de R$ 600 mi na Finep
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia cuja
principal finalidade é financiar
pesquisa e desenvolvimento de
inovações tecnológicas, está com
um rombo de R$ 600 milhões no
caixa por conta de inadimplência
dos tomadores de recursos.
Segundo o ministro da Ciência e
Tecnologia, Roberto Amaral, a
inadimplência corresponde a
68% da carteira de empréstimos
da instituição. Os R$ 600 milhões
que não foram pagos equivalem a
dois anos de empréstimos do órgão que, segundo Sérgio Rezende,
presidente da Finep, empresta a
média de R$ 300 milhões por ano.
Relatórios do TCU
O ministro Amaral disse que já
recebeu dois relatórios produzidos pelo TCU (Tribunal de Contas da União), ainda reservados.
Além disso, a situação da Finep
está sendo objeto de uma auditoria independente, contratada pelo
governo, cujo relatório deverá ficar pronto nesta semana. O ministro disse que a Corregedoria
Geral da União também está investigando o órgão.
Amaral não fez acusação específica a antigos dirigentes da Finep,
mas não descartou que possam
ter ocorrido irregularidades no
passado. "Eu tenho de admitir todas as hipóteses", disse.
"Nós encontramos até empréstimos para funerárias. Eu tenho a
impressão de que [elas] não contribuem em nada para a inovação
tecnológica", afirmou Amaral.
"Há muitos empréstimos para
restaurantes, uma atividade que
não tem muito a ver com ciência e
tecnologia", disse Rezende.
Outro tipo de atividade financiada no passado pela Finep e que
também foi incluída no rol das
"surpreendentes" pelo ministro
Amaral foi a produção de filmes.
Segundo a Finep, os empréstimos
problemáticos estão concentrados no período entre 1991 e 1998.
Rezende disse que 50 empresas
concentram cerca de 80% (R$ 480
milhões) do total de dívidas em
atraso. Ao todo, segundo a Folha
apurou, são 350 empresas inadimplentes com a Finep.
O período no qual, segundo o
ministro e o presidente da Finep,
está concentrada a concessão dos
empréstimos problemáticos engloba a gestão do ex-presidente
Lourival Carmo Mônaco, atual
assessor especial da Secretaria de
Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo.
Embora ele não tenha sido alvo
de acusação, a Folha procurou
Mônaco para saber se ele desejava
comentar a situação que teria sido
herdada de seu período. Ele disse
ser "muito difícil" falar alguma
coisa sem saber em detalhe o que
está sendo criticado, mas ressalvou que todas as operações feitas
na sua gestão passaram pelo crivo
do TCU e que tudo foi feito dentro
das regras vigentes.
"Todo o processo foi aprovado
pelo Tribunal de Contas [da
União]", afirmou. Para o ex-presidente da Finep, o problema da
inadimplência decorre do fato de
a economia não ter reagido como
os investidores esperavam na
época dos empréstimos.
BNDES
Por causa da elevada inadimplência, a Finep está pedindo ao
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) um aporte de recursos para
recompor seu capital e viabilizar o
orçamento deste ano, que prevê
empréstimos de R$ 400 milhões
ao setor empresarial.
Os recursos da Finep saem de
três fontes: do FND (Fundo Nacional de Desenvolvimento), cujas verbas vêm do Orçamento Geral da União; do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador); e do retorno dos empréstimos feitos. Essa parcela do retorno está comprometida pela inadimplência.
A Finep funciona como uma espécie de pequeno BNDES, o grande banco estatal para financiamentos de longo prazo, atuando
especificamente no nicho voltado
para o desenvolvimento de projetos tecnológicos.
Além de emprestar para empresas, ela também destina uma parcela de recursos, sem necessidade
de reembolso, para universidades
e para instituições de pesquisa.
Para este ano, a parcela não-reembolsável está orçada em R$
500 milhões.
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