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Hormônios influenciam ganho na bolsa de valores
Estudo com operadores de Londres relaciona alto nível de testosterona a lucro
Cortisol, hormônio ligado ao controle do estresse, subiu com a variação do resultado do operador e em resposta à volatilidade do mercado
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Hormônios não afetam apenas humores; aumentam a
chance de fazer fortuna ou cometer bobagens em uma bolsa
de valores. Uma pesquisa mostrou que operadores do mercado financeiro que começam a
trabalhar com altos níveis de
testosterona no sangue tiveram lucros acima da média.
A pesquisa, feita com operadores em Londres, mostrou
ainda que o hormônio cortisol,
ligado ao controle do estresse,
aumenta de acordo tanto com a
variação dos resultados do operador quanto em resposta à volatilidade do mercado.
"Eu costumava trabalhar em
Wall Street e observava alguns
operadores tomarem atitudes
não-racionais, e a pesquisa foi
uma tentativa de explicar isso",
disse à Folha por telefone o líder do estudo, John Coates,
professor do Departamento de
Fisiologia, Desenvolvimento e
Neurociência da Universidade
de Cambridge, Reino Unido, e
também da sua escola de administração de empresas.
Coates e o colega Joe Herbert, do departamento de fisiologia da mesma universidade,
fizeram medidas de hormônios
no local de trabalho de 17 operadores -homens de 18 a 38
anos com rendas anuais que
variavam de 12 mil a mais de 5
milhões de libras.
As medidas eram feitas a
partir de amostras de saliva às
11h e às 16h. Nenhum dos operadores tomou medicação ou
comeu algo que pudesse interferir no sistema endócrino,
nem recebeu notícia de caráter
pessoal que pudesse afetar o
humor (e os hormônios).
A testosterona é produzida
em parte nos testículos, em
parte no córtex adrenal (a região mais externa das glândulas supra-renais). Ela medeia o
comportamento sexual e comportamentos competitivos.
"O papel da testosterona já
foi notado antes em atletas",
diz Coates. Ela aumenta em esportistas se preparando para
uma competição, ainda mais se
eles ganham, além de diminuir
nos que perdem. O efeito aumenta a confiança e a propensão a correr riscos e eleva as
chances de ganhar de novo.
"Como a testosterona provou estar associada a ganhar e
perder, e o cortisol tem um papel na resposta ao estresse e à
incerteza, desenvolvemos a hipótese de que esses esteróides
responderiam à tomada de risco financeiro", escreveram os
dois autores em artigo na edição de hoje da revista "PNAS"
(www.pnas.org), da Academia
de Ciências dos EUA.
Eles previram que a testosterona aumentaria em dias lucrativos e o cortisol aumentaria
pelo estresse das perdas acima
da média. Os resultados confirmaram a primeira previsão,
mas sugerem que o cortisol está mais vinculado à incerteza
do que à perda de dinheiro.
Eles alertam, porém, que testosterona em excesso pode ser
algo negativo: o operador fica
muito ousado e assume riscos
perigosos. Segundo Herbert, isso pode influenciar outras pessoas que trabalham sobre grande pressão e têm de tomar decisões rápidas -como controladores de tráfego aéreo-, podendo alterar seu desempenho.
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