São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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Hormônios influenciam ganho na bolsa de valores

Estudo com operadores de Londres relaciona alto nível de testosterona a lucro

Cortisol, hormônio ligado ao controle do estresse, subiu com a variação do resultado do operador e em resposta à volatilidade do mercado

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Hormônios não afetam apenas humores; aumentam a chance de fazer fortuna ou cometer bobagens em uma bolsa de valores. Uma pesquisa mostrou que operadores do mercado financeiro que começam a trabalhar com altos níveis de testosterona no sangue tiveram lucros acima da média.
A pesquisa, feita com operadores em Londres, mostrou ainda que o hormônio cortisol, ligado ao controle do estresse, aumenta de acordo tanto com a variação dos resultados do operador quanto em resposta à volatilidade do mercado.
"Eu costumava trabalhar em Wall Street e observava alguns operadores tomarem atitudes não-racionais, e a pesquisa foi uma tentativa de explicar isso", disse à Folha por telefone o líder do estudo, John Coates, professor do Departamento de Fisiologia, Desenvolvimento e Neurociência da Universidade de Cambridge, Reino Unido, e também da sua escola de administração de empresas.
Coates e o colega Joe Herbert, do departamento de fisiologia da mesma universidade, fizeram medidas de hormônios no local de trabalho de 17 operadores -homens de 18 a 38 anos com rendas anuais que variavam de 12 mil a mais de 5 milhões de libras.
As medidas eram feitas a partir de amostras de saliva às 11h e às 16h. Nenhum dos operadores tomou medicação ou comeu algo que pudesse interferir no sistema endócrino, nem recebeu notícia de caráter pessoal que pudesse afetar o humor (e os hormônios).
A testosterona é produzida em parte nos testículos, em parte no córtex adrenal (a região mais externa das glândulas supra-renais). Ela medeia o comportamento sexual e comportamentos competitivos.
"O papel da testosterona já foi notado antes em atletas", diz Coates. Ela aumenta em esportistas se preparando para uma competição, ainda mais se eles ganham, além de diminuir nos que perdem. O efeito aumenta a confiança e a propensão a correr riscos e eleva as chances de ganhar de novo.
"Como a testosterona provou estar associada a ganhar e perder, e o cortisol tem um papel na resposta ao estresse e à incerteza, desenvolvemos a hipótese de que esses esteróides responderiam à tomada de risco financeiro", escreveram os dois autores em artigo na edição de hoje da revista "PNAS" (www.pnas.org), da Academia de Ciências dos EUA.
Eles previram que a testosterona aumentaria em dias lucrativos e o cortisol aumentaria pelo estresse das perdas acima da média. Os resultados confirmaram a primeira previsão, mas sugerem que o cortisol está mais vinculado à incerteza do que à perda de dinheiro.
Eles alertam, porém, que testosterona em excesso pode ser algo negativo: o operador fica muito ousado e assume riscos perigosos. Segundo Herbert, isso pode influenciar outras pessoas que trabalham sobre grande pressão e têm de tomar decisões rápidas -como controladores de tráfego aéreo-, podendo alterar seu desempenho.


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