São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2007

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Estudo mostra que monóxido de carbono pode combater malária

Forma da doença que costuma atingir as células do cérebro é a mais letal

João Wainer - 14.dez.2005/Folha Imagem
Anopheles, vetor da malária


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mesmo gás que costuma matar pessoas desavisadas em garagens fechadas pode ser a esperança para salvar uma parte do milhão de vítimas que a malária causa por ano, especialmente entre crianças pequenas na África.
Estudo feito por treze pesquisadores em Portugal e na Hungria, incluindo uma brasileira, mostra que o monóxido de carbono - aquele que sai do escapamento dos automóveis- pode diminuir os danos da malária cerebral, a forma mais letal da doença.
A pesquisa, feita com camundongos, está publicada na revista científica "Nature Medicine" pelos grupos liderados por Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência, e Maria Mota, atualmente no Instituto de Medicina Molecular. A equipe inclui a brasileira Sabrina Epiphanio, de São Paulo, pesquisadora dos dois institutos localizados em Lisboa.
O parasita da malária, que pode chegar ao cérebro nos casos mais graves da doença, causa grande destruição dos glóbulos vermelhos sangüíneos. Parte do pigmento vermelho dessas células, a hemoglobina, liberada na corrente sangüínea, leva à formação da substância heme (ou hematina). Essa molécula, vinculada à malária cerebral, é letal para as células.
Tanto os roedores quanto os humanos costumam produzir uma enzima (a HO-1) para lidar com esse processo fatal.
"O que nos levou ao monóxido de carbono foi mostrar que roedores que aumentam a expressão da heme-oxigenase-1 [HO-1] no cérebro durante uma infecção estão mais protegidos que roedores que não o fazem. A atividade da HO-1 leva à produção de monóxido de carbono e daí a ligação", disse à Folha a pesquisadora Maria Mota.
Resta saber se o letal gás das garagens frias poderá servir em terapias em seres humanos. "É difícil responder. Primeiro será preciso averiguar se o mesmo sistema funciona em infecções de malária em humanos, e como funciona. Só depois será possível pensar nessa possibilidade", diz a pesquisadora.
Mas há bons indícios. Segundo Miguel Soares, "há uma empresa que está a fazer estudos nesse sentido. Portanto a mensagem é que é possível, mas ainda não foi feito".


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