São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

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Grupo ressuscita bactéria enterrada sob 3 km de gelo

Estudo americano aumenta esperança de descobrir vida em outros planetas

Linhagens de duas espécies de micróbios sobreviveram por mais de 120 mil anos à temperatura de -56C e com pouco oxigênio, diz cientista

Universidade do Estado da Pensilvânia
Colônia de Chryseobacterium greenlandensis, descoberta sob gelo

STEVE CONNOR
DO "INDEPENDENT"

Bactérias que haviam sido sepultadas sob mais de 3 quilômetros de gelo há pelo menos 120 mil anos foram ressuscitadas em laboratório, dizem cientistas. O estudo traz a perspectiva de que formas de vida semelhantes possam ter sobrevivido em outros planetas.
Um grupo nos Estados Unidos descobriu pelo menos duas espécies, muito menores do que micróbios comuns, em um testemunho de gelo escavado sob a superfície de uma geleira na Groenlândia.
Eles conseguiram isolar e multiplicar as bactérias em laboratório, onde estabeleceram colônias dos micróbios -que, de tão pequenos, conseguem passar pelos filtros comuns usados para esterilização.
A capacidade dessas bactérias de sobreviver ao ambiente hostil da geleira por dezenas de milhares de anos sugere que formas de vida extraterrestre poderiam sobreviver em condições igualmente extremas em Marte ou em Europa, a lua congelada de Júpiter que provavelmente abriga um oceano.
"Esses ambientes extremamente frios são os melhores análogos de possíveis habitats extraterrestres", afirmou Jennifer Loveland-Curtze, da Universidade do Estado da Pensilvânia, que liderou o estudo.
"As temperaturas excepcionalmente baixas podem preservar as células e os ácidos nucléicos [como o DNA] por milhões de anos", disse Loveland-Curtze, cujo estudo é publicado hoje pelo periódico científico "International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology".

Veios
O tamanho reduzido das bactérias -que têm um quinquagésimo das dimensões da E. coli, encontrada normalmente no intestino humano- pode tê-las ajudado a sobreviver em minúsculos veios líquidos entre cristais de gelo, afirmou a pesquisadora americana.
"Elas estiveram aprisionadas no gelo por pelo menos 120 mil anos e possivelmente muito mais do que isso", afirmou Loveland-Curtze. "Não temos certeza de quanta atividade metabólica havia, mas provavelmente houve alguma, para preservar o DNA", continuou. "Elas poderiam se dividir uma vez a cada cem ou mil anos."
Os pesquisadores até agora reviveram duas espécies de bactéria, formalmente batizadas Herminiimonas glaciei e Chryseobacterium greenlandensis. Ambas foram recuperadas em testemunhos (cilindros) de gelo escavados a 3.042 m. "Estudá-las pode nos dar vislumbres sobre como células podem sobreviver e até crescer a -56C, com pouco oxigênio e alta pressão", disse a cientista.


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