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São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2003

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BIOTECNOLOGIA

UFC ganha primeiro laboratório fora de São Paulo; grupo se especializa na análise de compostos vegetais

Cristalização de proteínas chega ao Ceará

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

É numa sala semi-subterrânea sob uma mangueira que pesquisadores da UFC (Universidade Federal do Ceará), há uma semana, cristalizam proteínas e aminoácidos em Fortaleza. O laboratório é um dos oito do país que desenvolvem pesquisas na área de proteômica (estudos sobre a estrutura de proteínas). Desde o início do mês, é o único fora do Estado de São Paulo capaz de cultivar os cristais necessários.
O local contraria o mito de que o processo só seria possível no espaço. "Há uma mistificação sobre o processo de cristalografia protéica. Na verdade é um processo simples, que, com pouco dinheiro e boas cabeças, é possível fazer", disse Benildo Sousa Cavada, do BioMol-Lab (Laboratório de Moléculas Biologicamente Ativas).
A cristalografia é fundamental por permitir o estudo da atividade antiviral, antibacteriana e antifúngica de proteínas específicas. Pode ser aplicado nas áreas de farmacologia, alimentos, eletrônica, óptica e odontologia.
A partir dos cristais, que só podem ser originados de proteínas puras, é possível modelar a proteína em supercomputadores e verificar sua estrutura tridimensional, para tentar prever como ela funcionaria, por exemplo, dentro de uma estrutura cancerígena. "A cristalografia é uma mistura de arte e ciência", diz Cavada.
A especialidade do laboratório de Fortaleza são estudos de proteínas vegetais. O BioMol-Lab é pioneiro no isolamento de estruturas de lectina marinha, como de algas. Também foram iniciados estudos sobre animais marinhos.
Iniciar o trabalho de cristalografia de proteínas e aminoácidos foi possível com um investimento de apenas R$ 50 mil pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a partir de idéia de dois estudantes de mestrado, bolsistas do laboratório. Antes, todo o material pesquisado na universidade seguia para institutos na Espanha.
O coordenador do laboratório defende a expansão pelo país de laboratórios especializados em proteômica, nos moldes do que ocorre hoje com a genômica (estudos do repertório dos genes).
"Você vê hoje, no Pará, estudos sobre os genes do guaraná, por exemplo, o que é fantástico. O mesmo tem de acontecer quanto à proteômica, para aproveitarmos toda a biodiversidade do nosso país, antes que gente de fora venha, patenteie tudo, e tenhamos de pagar caríssimo em royalties para utilizar o que é nosso."
O laboratório tem sete doutores e 30 bolsistas de mestrado, doutorado e iniciação científica.


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