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BIOTECNOLOGIA
UFC ganha primeiro laboratório fora de São Paulo; grupo se especializa na análise de compostos vegetais
Cristalização de proteínas chega ao Ceará
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
É numa sala semi-subterrânea
sob uma mangueira que pesquisadores da UFC (Universidade
Federal do Ceará), há uma semana, cristalizam proteínas e aminoácidos em Fortaleza. O laboratório é um dos oito do país que
desenvolvem pesquisas na área de
proteômica (estudos sobre a estrutura de proteínas). Desde o início do mês, é o único fora do Estado de São Paulo capaz de cultivar
os cristais necessários.
O local contraria o mito de que
o processo só seria possível no espaço. "Há uma mistificação sobre
o processo de cristalografia protéica. Na verdade é um processo
simples, que, com pouco dinheiro
e boas cabeças, é possível fazer",
disse Benildo Sousa Cavada, do
BioMol-Lab (Laboratório de Moléculas Biologicamente Ativas).
A cristalografia é fundamental
por permitir o estudo da atividade
antiviral, antibacteriana e antifúngica de proteínas específicas.
Pode ser aplicado nas áreas de farmacologia, alimentos, eletrônica,
óptica e odontologia.
A partir dos cristais, que só podem ser originados de proteínas
puras, é possível modelar a proteína em supercomputadores e
verificar sua estrutura tridimensional, para tentar prever como
ela funcionaria, por exemplo,
dentro de uma estrutura cancerígena. "A cristalografia é uma mistura de arte e ciência", diz Cavada.
A especialidade do laboratório
de Fortaleza são estudos de proteínas vegetais. O BioMol-Lab é
pioneiro no isolamento de estruturas de lectina marinha, como de
algas. Também foram iniciados
estudos sobre animais marinhos.
Iniciar o trabalho de cristalografia de proteínas e aminoácidos foi
possível com um investimento de
apenas R$ 50 mil pelo CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a partir de idéia de dois estudantes de mestrado, bolsistas do
laboratório. Antes, todo o material pesquisado na universidade
seguia para institutos na Espanha.
O coordenador do laboratório
defende a expansão pelo país de
laboratórios especializados em
proteômica, nos moldes do que
ocorre hoje com a genômica (estudos do repertório dos genes).
"Você vê hoje, no Pará, estudos
sobre os genes do guaraná, por
exemplo, o que é fantástico. O
mesmo tem de acontecer quanto
à proteômica, para aproveitarmos toda a biodiversidade do
nosso país, antes que gente de fora venha, patenteie tudo, e tenhamos de pagar caríssimo em royalties para utilizar o que é nosso."
O laboratório tem sete doutores
e 30 bolsistas de mestrado, doutorado e iniciação científica.
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