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Dupla usa célula-tronco para produzir dente novo
Feito de pesquisadores paulistas foi obtido em ratos, usando células humanas
Dentes cresceram em três
meses na própria mandíbula
do animal; objetivo agora é
testar segurança da nova
técnica em seres humanos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Criar um dente novo a partir
de um velho, e ainda usando o
famigerado siso, deverá ser viável em até uma década. Quem
promete é uma dupla de pesquisadores da Universidade
Federal de São Paulo.
Os estudos realizados pelos
dentistas Silvio e Mônica Duailibi no Departamento de Cirurgia Plástica da Unifesp ainda
não são feitos em humanos,
mas estão próximos disso.
Por enquanto, o mais recente
resultado científico da dupla,
publicado neste mês no periódico "Journal of Dental Research", mostra que é viável fazer crescer dentes em ratos
usando células-tronco adultas
extraídas de um outro dente.
Estudos anteriores do casal
haviam mostrado que é possível fazer o órgão surgir no abdômen do roedor. Agora, o
avanço foi maior.
"Nós conseguimos fazer com
que o dente nascesse no lugar
onde ele realmente deveria
crescer, na mandíbula", diz Silvio Duailibi. "O processo ocorreu em três meses e deu origem
a um dente com todas as suas
estruturas, mas ainda sem as
dimensões normais."
Para chegar aos dentes nos
ratos -o grupo também já testou com sucesso o uso de células humanas neste processo- é
preciso ter em mãos três ingredientes básicos, diz a dupla.
O primeiro são as células-tronco, que no caso humano
poderão ser retiradas do siso.
Elas são colocadas em um polímero que vai servir como uma
espécie de "cimento" para que
as células possam ser fixadas na
mandíbula. Após fazer esse papel, o polímero é totalmente
absorvido pelo organismo.
O veículo com a matéria-prima celular ainda precisa de um
empurrãozinho, no caso um tecido vascularizado, para poder
fazer com que o dente, ainda
sem uma função definida, realmente cresça.
"Em termos genéticos, ao
usarmos as células de um dente
jovem na base do processo, estamos fazendo despertar uma
espécie de memória genética
que as células têm", diz Mônica.
Ou seja, usar as polêmicas células-tronco embrionárias (que
são retiradas do embrião morto) não resolveria muita coisa
neste caso, já que estas não possuem memória nenhuma.
Além disso, orientar a organização dos tecidos celulares
para que todas as partes do
dente cresçam corretamente é
muito mais fácil com as células
adultas. Elas, no passado, já
passaram por este mesmo processo uma vez.
Apesar dos obstáculos científicos que existem pela frente, é
possível, segundo Mônica, imaginar que em menos de dez
anos as pessoas já poderão desfrutar das suas terceiras dentições biológicas, depois de passarem pela de leite e também
pela da fase adulta.
O mais importante, segundo
a dupla, é ter a certeza de que o
método é seguro e confiável. A
reintrodução de células em um
paciente, mesmo que seja do
próprio, pode embaralhar o ciclo celular -processo que, em
tese, é o mesmo que faz aparecer os tumores.
"Nossa meta agora é testar a
eficácia desta técnica. Mesmo
porque, em um primeiro momento, o paciente vai pagar caro por isso e precisamos ter certeza que tudo vai funcionar como o esperado", diz Silvio.
A dupla, afirma, está otimista. "Esse caminho da bioengenharia é uma opção bastante
viável não apenas para os implantes dentários, mas também
para todos os transplantes de
órgão", diz Mônica.
Segundo a pesquisadora, no
médio prazo, a técnica pode ser
mais barata para as políticas
públicas de saúde do que os tratamentos utilizados hoje, especialmente para os mais velhos:
no Brasil, segundo dados do
Ministério da Saúde, 56% dos
idosos não possuem sequer um
dente funcional.
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