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Alzheimer pode ser "diabetes cerebral"
Medicamentos que ajudam diabéticos melhoraram os sintomas de mal neurológico em estudos com animais
Insulina protege célula
do cérebro de proteína
que destrói conexões
entre neurônios, afirma
pesquisa feita no Rio
REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO A CAXAMBU (MG)
Novos dados obtidos por
pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro) reforçam a ideia de
que há uma relação íntima
entre o diabetes e o mal de Alzheimer, devastadora doença degenerativa do cérebro.
Para ser mais exato, o Alzheimer seria, grosso modo,
a diabetes do cérebro, interferindo na sinalização do
hormônio insulina, o mesmo
cuja ação fica desregulada
no organismo de diabéticos.
"É claro que o mal de Alzheimer continuará sendo
uma doença multifatorial [ligada a múltiplos fatores]",
disse à Folha a neurocientista Fernanda De Felice, do
Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. "Mas achamos
que a insulina pode ser central na gênese da doença."
De Felice apresentou os últimos resultados a respeito
da ideia durante o 34º congresso anual da SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento),
na cidade de Caxambu (MG).
Estudos com dois tipos de
cobaias -camundongos
transgênicos e macacos cinomolgos (Macaca fascicularis)-, feitos pelos cientistas
da UFRJ, indicam que remédios originalmente projetados para tratar diabetes poderiam, portanto, ser úteis
contra o Alzheimer, mal que
ainda não tem cura.
As primeiras pistas sobre o
mecanismo ligando as duas
doenças vieram de estudos
in vitro. Sabe-se que o Alzheimer é desencadeado por maçarocas da proteína beta-amiloide, que têm efeitos nada agradáveis sobre o funcionamento dos neurônios.
Um desses efeitos é a diminuição no número de projeções das células nervosas. Isso, por sua vez, tem impacto
negativo nas conexões de
neurônios, cruciais para a
memória (veja quadro).
De Felice e seus colegas tinham verificado, em pesquisa publicada no ano passado
na revista científica "PNAS",
que as maçarocas de beta-amiloide tendiam a ficar grudadas justamente em regiões
da membrana das células onde a insulina se "conecta".
Bastava fornecer insulina
aos neurônios para impedir
que isso acontecesse e protegê-los da perda de conexões.
DESEMPENHO
Agora, com as cobaias,
eles viram que medicamentos que potencializam a ação
da insulina não só combatem
a beta-amiloide como também fazem com que bichos
doentes tenham desempenho melhor em tarefas de
memória, por exemplo.
De Felice conta que já há
planos para testar drogas
contra diabetes em pacientes
com Alzheimer. Os pesquisadores da UFRJ querem que
parte desse teste clínico envolva pacientes brasileiros.
Por enquanto, quem tem a
doença não deve arriscar
uma aplicação de insulina,
pois o organismo pode até ficar resistente ao hormônio.
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