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Americanos clonam embrião de macaco
Pesquisa é um passo importante para clonagem terapêutica, mas taxa de sucesso obtida na pesquisa foi de apenas 0,7%
Estudo publicado na revista "Nature" é 1ª clonagem confirmada de primatas; sucesso reanima campo de pesquisa abalado por fraude
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A clonagem com fins terapêuticos finalmente parece ter
desempacado ontem. Em artigo na revista "Nature", pesquisadores americanos anunciaram ter conseguido clonar embriões de macacos e, a partir
deles, isolar linhagens de células-tronco embrionárias. É a
primeira vez que isso é feito -e
confirmado- em primatas.
A técnica, grande esperança
da medicina no desenvolvimento futuro de tratamentos
para uma série de doenças incuráveis, até hoje havia sido
aplicada com êxito apenas em
camundongos. O novo estudo
partiu de células da pele de macacos resos (Macaca mulatta).
Depois de isolados, os núcleos
dessas células foram injetados
em oócitos (células precursoras do óvulo) sem núcleo. A
evolução do embrião foi interrompida logo no começo para o
isolamento das células-tronco.
O primeiro anúncio de uma
clonagem terapêutica de primatas havia sido feito com estardalhaço em 2004, quando a
revista americana "Science"
publicou um estudo do coreano Hwang Woo-suk que dizia
ter clonado humanos. O trabalho se mostrou uma fraude.
Escaldada com o caso, a "Nature" divulgou os resultados do
grupo de Shoukhrat Mitalipov,
da Universidade de Ciência e
Saúde do Oregon, de forma discreta, em seu site (www.nature.com). Além disso, publicou
um artigo independente, que
validou a pesquisa. "Sem dúvida, todos agora se cercaram de
cautela, o que é melhor", disse à
Folha a pesquisadora da USP
Lygia da Veiga Pereira.
O artigo da validação, assinado por David Cram e colaboradores, confirma que se trata
realmente de clones. E que a
"reprogramação" genética das
células da pele do macaco realmente ocorreu.
Duros de clonar
O grupo americano não desenvolveu nenhuma técnica revolucionária; apenas aperfeiçoou a já conhecida transferência nuclear, método usado para
criar a ovelha Dolly, adaptando-a a idiossincrasias de células
de primatas.
Macacos -e humanos- são
notoriamente difíceis de clonar, porque uma proteína essencial para o processo sempre
se degrada antes da divisão celular que origina o embrião clonado. O grupo de Mitalipov resolveu o problema com inovações na manipulação dos oócitos e na cultura das células em
laboratório. Mas só em parte.
Os cientistas obtiveram uma
taxa de sucesso baixa, o que significa que essa técnica ainda está longe de aplicações em humanos.
Apesar disso, Mitalipov está
confiante. "Certamente isso vai
funcionar em humanos", disse
o pesquisador em coletiva de
imprensa ontem.
O grupo liderado por ele conseguiu apenas duas linhagens
de células-tronco embrionárias
a partir de 304 oócitos de 14
macacas. O que dá uma taxa de
sucesso de 0,7%. O grupo tampouco conseguiu produzir filhotes (clones).
As células-tronco embrionárias, cuja obtenção é o objetivo
da clonagem terapêutica, têm a
capacidade de se diferenciar
em qualquer tipo de tecido no
organismo. Daí seu potencial
terapêutico contra doenças hoje intratáveis, como mal de Parkinson e alguns tipos de câncer.
"Está provado que esse é o
caminho. O que precisamos é
fazer pesquisa", disse Pereira.
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