São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2007

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Americanos clonam embrião de macaco

Pesquisa é um passo importante para clonagem terapêutica, mas taxa de sucesso obtida na pesquisa foi de apenas 0,7%

Estudo publicado na revista "Nature" é 1ª clonagem confirmada de primatas; sucesso reanima campo de pesquisa abalado por fraude

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A clonagem com fins terapêuticos finalmente parece ter desempacado ontem. Em artigo na revista "Nature", pesquisadores americanos anunciaram ter conseguido clonar embriões de macacos e, a partir deles, isolar linhagens de células-tronco embrionárias. É a primeira vez que isso é feito -e confirmado- em primatas.
A técnica, grande esperança da medicina no desenvolvimento futuro de tratamentos para uma série de doenças incuráveis, até hoje havia sido aplicada com êxito apenas em camundongos. O novo estudo partiu de células da pele de macacos resos (Macaca mulatta). Depois de isolados, os núcleos dessas células foram injetados em oócitos (células precursoras do óvulo) sem núcleo. A evolução do embrião foi interrompida logo no começo para o isolamento das células-tronco.
O primeiro anúncio de uma clonagem terapêutica de primatas havia sido feito com estardalhaço em 2004, quando a revista americana "Science" publicou um estudo do coreano Hwang Woo-suk que dizia ter clonado humanos. O trabalho se mostrou uma fraude.
Escaldada com o caso, a "Nature" divulgou os resultados do grupo de Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, de forma discreta, em seu site (www.nature.com). Além disso, publicou um artigo independente, que validou a pesquisa. "Sem dúvida, todos agora se cercaram de cautela, o que é melhor", disse à Folha a pesquisadora da USP Lygia da Veiga Pereira.
O artigo da validação, assinado por David Cram e colaboradores, confirma que se trata realmente de clones. E que a "reprogramação" genética das células da pele do macaco realmente ocorreu.

Duros de clonar
O grupo americano não desenvolveu nenhuma técnica revolucionária; apenas aperfeiçoou a já conhecida transferência nuclear, método usado para criar a ovelha Dolly, adaptando-a a idiossincrasias de células de primatas.
Macacos -e humanos- são notoriamente difíceis de clonar, porque uma proteína essencial para o processo sempre se degrada antes da divisão celular que origina o embrião clonado. O grupo de Mitalipov resolveu o problema com inovações na manipulação dos oócitos e na cultura das células em laboratório. Mas só em parte. Os cientistas obtiveram uma taxa de sucesso baixa, o que significa que essa técnica ainda está longe de aplicações em humanos. Apesar disso, Mitalipov está confiante. "Certamente isso vai funcionar em humanos", disse o pesquisador em coletiva de imprensa ontem.
O grupo liderado por ele conseguiu apenas duas linhagens de células-tronco embrionárias a partir de 304 oócitos de 14 macacas. O que dá uma taxa de sucesso de 0,7%. O grupo tampouco conseguiu produzir filhotes (clones).
As células-tronco embrionárias, cuja obtenção é o objetivo da clonagem terapêutica, têm a capacidade de se diferenciar em qualquer tipo de tecido no organismo. Daí seu potencial terapêutico contra doenças hoje intratáveis, como mal de Parkinson e alguns tipos de câncer.
"Está provado que esse é o caminho. O que precisamos é fazer pesquisa", disse Pereira.


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