São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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"Doença era tabu familiar que quebrei"

DA REPORTAGEM LOCAL

Dona Eudóxia (nome fictício), 67 anos, faz a lista: do ano 2000 até hoje, médicos retiraram dela tumores na veia cava inferior, na tireoide, na mama esquerda, nos dois pulmões, na pele da perna ("uma verruguinha", diz).
Sete pequenos cânceres apareceram em seu couro cabeludo. Perdeu um dos rins. Em geral, apenas cirurgias foram usadas para tratar os tumores recorrentes. Ela é a primeira pessoa da família a tentar entender o pedaço trágico de sua herança genética.
"Na família dela isso era um tabu. Não se dizia nem o nome da doença", diz seu Heitor (nome também fictício), o marido, que, protetor, pega a extensão do telefone para estimular e corrigir o que a mulher diz. "A gente só sabia que as pessoas acabavam morrendo, chorando de dor", afirma dona Eudóxia, cuja irmã morreu de câncer aos 35 anos, logo seguida pela filha, de apenas 12.
Seu Heitor conta que a mulher procurou os pesquisadores do Hospital A.C. Camargo que trabalhavam com a ligação entre genoma humano e câncer. Ajudou-os a traçar as ocorrências da doença na própria árvore genealógica. A história familiar parece bater com a hipótese da médica Maria Isabel Achatz: "Minha avó se casou com um tropeiro", diz dona Eudóxia. Embora more na capital paulista hoje, seus parentes estão todos numa cidade do interior que ficava na rota dos tropeiros antigos.
Relutante em divulgar seu nome ou ser fotografada, ela diz que não quer prejudicar os filhos, hoje executivos. "De repente as pessoas podem ter dificuldade de alugar uma casa ou até de conseguir um emprego se ficam sabendo que elas têm a mutação", diz seu Heitor. (RJL)


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