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Energia "do nada" pode destruir estrelas
Físicos da USP descobriram que partículas contidas no vácuo podem provocar "explosão" de astros inteiros
Por sumir em frações de segundos, influência dessas partículas era desconsiderada por outros pesquisadores
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Físicos brasileiros descobriram que, em certas circunstâncias, a energia do vácuo pode crescer de forma
descontrolada, levando até à
destruição quase instantânea de estrelas inteiras.
À primeira vista, parece
uma contradição em termos.
Pela física clássica, o vácuo-
que é definido como a ausência de qualquer coisa- deveria ter conteúdo zero.
Ocorre que, no misterioso
reino da mecânica quântica,
que rege o comportamento
das menores coisas do Universo, o espaço vazio está
sempre sendo preenchido
pela existência das chamadas partículas virtuais.
Elas podem ser prótons,
elétrons, fótons ou quaisquer
outras. Seu diferencial com
relação à matéria e energia
tradicionais é que elas surgem e desaparecem em uma
fração de segundo.
A energia para essa efêmera vida sai do vácuo.
Como essas partículas não
duram muito, sempre se imaginou que esses efeitos de
flutuação seriam irrelevantes
num contexto macroscópico.
Daí veio a surpresa do estudo conduzido por Daniel
Vanzella, físico da USP em
São Carlos, e William Lima,
seu estudante de doutorado.
Ao efetuar uma combinação desses efeitos quânticos
com a ação da gravidade (como descrita pela teoria da relatividade), eles descobriram
que, em certas circunstâncias, o crescimento da energia do vácuo poderia, em tese, acontecer de maneira exponencial e descontrolada.
MISTÉRIO ANTIGO
"Na época do meu doutorado, apareceu um resultado
que a gente não entendeu.
Não era essencial para nós,
então deixamos na gaveta",
afirma Vanzella.
Quando foi fazer seu pós-doutorado nos EUA, Vanzella teve a ideia para o trabalho atual: o resultado estranho poderia ser a energia do
vácuo atuando no sistema.
Foi o que ele e Lima concluíram, em estudo publicado em abril no periódico
"Physical Review Letters",
descrevendo o que chamaram de "despertar do vácuo".
Em outro trabalho, agora
com seu antigo orientador do
doutorado, George Matsas,
da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Vanzella investigou especificamente o
efeito do "despertar do vácuo" em sistemas conhecidos, como estrelas de nêutrons -os objetos mais densos do Universo que podem
ser observados diretamente.
Ao calcular o efeito que a
gravidade nas imediações de
uma estrela de nêutrons teria
sobre o vácuo, eles descobriram que certas configurações
(dependendo da massa e do
raio do astro) poderiam, em
tese, "despertar o vácuo".
"Em um milésimo de segundo, a energia do vácuo
dispara e passa a ser maior
que a energia da própria estrela", conta Matsas.
Os físicos não sabem o que
aconteceria a seguir. De toda
forma, seria um catastrófico
e violento para o astro.
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