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Gado derruba a Amazônia, reconhece Stephanes
Ministro da Agricultura admite que governo trata do problema apenas "em tese"
Estudo revelado pela "Folha"
domingo mostra que região
foi grande responsável pelo
aumento das exportações
brasileiras de carne bovina
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Agricultura,
Reinhold Stephanes, admitiu
ontem que há derrubada de floresta amazônica para uso como
pasto, reconheceu que o governo trata do tema somente "em
tese", disse que está preocupado e torceu para que o rebanho
que come a floresta não se destine ao aumento das exportações brasileiras.
"Já tinha enviado uma equipe de técnicos do ministério
para a região, tenho mais de
250 fotos que não vou divulgar.
O outro lado disso é que a abertura da região se deu há 30
anos. Ainda estão derrubando,
mas é pouca coisa. A gente tenta segurar esse processo", afirmou o ministro.
Stephanes só conheceu alguns detalhes do problema ao
ler reportagem da Folha de domingo: terra barata e crédito de
bancos oficiais estimulam o
avanço cada vez maior da pecuária. Hoje a Amazônia Legal
responde por 36% do rebanho
nacional e um terço das exportações, segundo relatório compilado pela ONG Amigos da
Terra - Amazônia Brasileira.
Virtualmente todo o crescimento do rebanho nacional entre 2003 e 2006 aconteceu naquela região.
Questão de fé
"Como ministro da Agricultura, quero crer que não precisamos disso [ataque à floresta]
para exportar carne."
O Brasil é alvo constante de
questionamentos de países desenvolvidos sobre as origens de
seus produtos agrícolas, envolvimento de trabalho degradante e outros problemas. A temática ambiental também sempre
surge nessas discussões.
Segundo Stephanes, o governo precisa passar à prática para
impedir o avanço do pasto sobre a floresta. "Esta questão está colocada em tese, em nível de
decisão política. O governo tomou a decisão política, algo que
também é extremamente importante, que é a seguinte: não
se derruba mais árvore para a
expansão da agricultura e da
pecuária brasileira", disse.
Entre as ações teóricas, inclui-se a preocupação do governo com o fenômeno da pecuária na Amazônia. "Estamos
muito preocupados com aquilo
que foi demonstrado na reportagem", afirmou Stephanes.
O ministro abordou o assunto ontem, ao divulgar os dados
da balança comercial do agronegócio brasileiro. O complexo
de carnes foi destaque, com aumento de 12,8% nas vendas de
carne bovina. Em 2007, o Brasil
embarcou 1,62 milhão de toneladas de carne bovina em direção a 150 países, um número
6% superior ao ano anterior.
Em suas projeções, o Ministério da Agricultura espera um
crescimento de 31,5% na produção bovina até 2017/2018.
Segundo o ministro, há espaço
para o aumento sem interferência em biomas protegidos,
como a Amazônia e o Pantanal.
O cerrado participa do cálculo como área para pastagem. Isso apesar de ser um bioma rico
em biodiversidade e altamente
ameaçado: estima-se que 40%
dele já tenha sido alterado pela
ação humana, e as pressões do
agronegócio sobre a savana
central brasileira só crescem.
"Estamos conscientes de que
com a área que temos podemos
ampliar a nossa produção agropecuária dentro das necessidades que teremos nos próximos
dez anos sem precisar derrubar
nenhuma árvore", disse.
Entre as medidas citadas pelo ministro está o incentivo de
áreas de pastagens degradadas.
O problema é justamente convencer pecuaristas a voltar a esses espaços, abandonados
quando a quantidade de nutrientes no solo diminui consideravelmente. Para isso, seria
preciso incentivos públicos financeiros para a compra de
adubo e fertilizantes.
"Temos de ter um uso mais
intensivo, mais racional. Precisamos criar programas para
uso de pastagem degradada, é
uma proposta que precisa ser
implementada", afirmou o ministro da Agricultura.
A recuperação de áreas degradadas era justamente uma
das tarefas que cabiam àquela
pasta dentro do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, coordenado pela Casa
Civil. A ação nunca chegou a ser
implementada.
Colaborou a Redação
Leia o relatório da ONG Amigos da Terra www.amazonia.org.br
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