São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011 |
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
UFSCar vai transformar alga em biodiesel Parceria com empresa receberá aporte de R$ 3,2 milhões do BNDES; plano é usar dejeto da indústria da cana Vinhaça, que é sobra da destilação do etanol, servirá de comida para micróbios produtores de matéria-prima REINALDO JOSÉ LOPES EDITOR DE CIÊNCIA Quem já passou pelos imensos canaviais do interior paulista conhece o cheiro desagradável da vinhaça, líquido que sobra após a produção de álcool. Cientistas e empresários apostam que o dejeto pode virar a base de um novo tipo de biodiesel. A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e a empresa Algae Biotecnologia assinaram ontem um contrato de cooperação tecnológica para colocar a ideia em prática. O plano é usar a vinhaça como "ração" para algas microscópicas, cujas células, ricas em moléculas de gordura, virariam biocombustível. Nos próximos 30 meses, a parceria vai receber R$ 3,24 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), enquanto a Algae investirá mais R$ 320 mil. Novas tecnologias criadas pelo projeto serão patenteadas, e possíveis lucros oriundos delas serão divididos meio a meio entre a universidade e a empresa, disse à Folha Sergio Goldemberg, gerente técnico da Algae. "Vamos tomar cuidado para que os resultados das pesquisas não sejam publicados antes de garantirmos a propriedade intelectual sobre eles", afirma. Se tudo der certo, o projeto pode ajudar a resolver uma série de problemas ambientais e tecnológicos com uma cajadada só. A vinhaça, que é basicamente a "água suja" que sobra depois da fermentação e da destilação do caldo de cana, é muito rica em sais e em compostos orgânicos difíceis de degradar. TRATAMENTO Por isso mesmo, é poluente e demanda tratamento antes de ser lançada na natureza. "As algas removeriam parte desses poluentes e virariam matéria-prima", explica Reinaldo Gaspar Bastos, engenheiro de alimentos do campus da UFSCar em Araras (SP) e líder da pesquisa. O desafio é achar o tipo certo de alga para o propósito desejado, conta Bastos. Dependendo da espécie, há diferentes proporções de gorduras e proteína nas células. Caberia ao interessado escolher linhagens mais "gordurosas" (voltadas para a produção de biodiesel) ou ricas em proteína (que virariam ração animal, outra possível abordagem do projeto). Na corrida por biocombustíveis mais baratos e eficientes, o biodiesel de microalgas desperta interesse, primeiro, por não ocupar terras que poderiam ser usadas para produzir alimentos. Mas o principal, diz Bastos, "é o tempo de geração, a capacidade de dobrar a própria biomassa muito rapidamente". Nesse ponto, as algas ganham fácil dos vegetais terrestres, mas o problema é encontrar uma maneira de otimizar industrialmente a produção delas. "Nesse ponto, o etanol ainda é muito competitivo", afirma o pesquisador. Goldemberg diz que a expectativa é criar um biodiesel de alga capaz de competir com o produzido com vegetais como soja em até cinco anos. Hoje, avalia ele, o custo do óleo feito com algas é entre cinco e dez vezes mais alto. Combinar a produção de biocombustível com serviços de despoluição e produção de ração tornaria a equação mais vantajosa, afirma. Próximo Texto: USP produz etanol de casca de eucalipto Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |