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Longe de ser "único", pirahã tem traços comuns com o alemão, dizem críticos
DA REDAÇÃO
No trabalho "A Excepcionalidade do Pirahã: uma reavaliação", os lingüistas compararam
o pirahã com várias línguas e
descobriram que o idioma, longe de ser um "caso excepcional", tem semelhanças com o
alemão, o bengali e o chinês.
A suposta matemática única
dos pirahãs, afirmam, é compartilhada por outras tribos da
Amazônia, como os xetás (até
mesmo o tupi tinha um sistema
de contagem limitado), que só
contam até três. E há, sim, evidências de recursividade.
Além disso, Everett tem despertado a fúria de antropólogos
e lingüistas brasileiros, que o
acusam veladamente de "monopolizar" os pirahãs, restringindo o acesso de outros às aldeias, e de pesquisar sem autorização da Funai (Fundação
Nacional do Índio) - o que a sede da Funai confirma.
"No cerne disso tudo há uma
confusão sobre o que é a Gramática Universal", disse David
Pesetsky à Folha. Acho que
Everett confundiu a teoria de
Chomsky, Hauser e Fitch",
afirmou, referindo-se à sua reformulação, que Chomsky publicou em 2003 juntamente
com Marc Hauser, de Harvard,
e Tecumseh Fitch, da Universidade St. Andrews (Escócia).
"O fato de não se poder dizer
em pirahã "A canoa do irmão de
João", por exemplo, existe em
alemão. Everett diz que esse fato em pirahã se deve à cultura
extremamente limitada, mas
os alemães não têm essa limitação cultural. Eles navegam na
internet. Então, o fato em alemão não se deve à cultura."
Sem elaboração
Rodrigues afirma que Everett "não tem uma teoria e sim
uma hipótese", que padece de
uma "falta de elaboração teórica". "A experiência imediata,
para nós, é uma forma que ele
encontrou de colocar todas as
observações que ele acha interessantes no mesmo saco. Isso
é cientificamente frágil", disparou. "E, se fosse assim, por que
a limitação cultural só influencia a linguagem e não outras
partes do sistema cognitivo, como a visão?" -questiona.
Everett publicou no mesmo
Lingbuzz uma resposta a Rodrigues e colegas, a quem chama de "lingüistas de gabinete".
Também os acusa de ter usado
seus escritos de 20 anos atrás
para refutar sua tese.
"Não há evidência em pirahã
de recursividade", disse Everett à Folha, por e-mail, num
português perfeito. "Além do
mais, o Chomsky nem define
bem o que ele quer dizer com
isso -muito menos o Fitch,
que foi comigo para a aldeia.
Everett, que tem visto de residente permanente no Brasil,
diz que sempre pesquisa com
autorização "do delegado da
Funai de Porto Velho" e que
sempre estimula, não impede,
que outros visitem a área. "No
entanto, os pirahãs quase não
falam português e eu sou o único pesquisador secular que já
aprendeu a língua deles."
Tecumseh Fitch diz que a
questão ainda está aberta.
"[Mas] é um truísmo que a cultura molda a linguagem. É por
isso que o brasileiro tem a palavra "samba" e escocês tem a palavra "haggis". E daí? As implicações disso para a Gramática
Universal são nulas." Ele continua: "Everett, como muitos críticos de Chomsky, tem uma
concepção própria da Gramática Universal, contra a qual ele
se bate". Mas seus dados "são
tão convincentes quanto a falta
de evidência pode ser -ou seja,
não muito".
(CA)
NA INTERNET - Leia os artigos de
Nevins e colegas e a resposta de
Everett (em inglês)
http://ling.auf.net/lingbuzz/@FMOHZRLOElguQmMB/VKSrtjhf?230
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