São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011

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Cientistas recriam rosto de inconfidente

José Resende da Costa participou de conspiração mineira com Tiradentes e morreu exilado na África portuguesa

Ele e mais dois rebeldes contra a Coroa tiveram restos identificados por grupo da Unicamp após quase 20 anos de estudo

MARÍLIA ROCHA
DE CAMPINAS

Pela primeira vez, é possível ter uma ideia das feições de um dos integrantes da Inconfidência Mineira, a conspiração contra Portugal que, mais tarde, transformaria Tiradentes em herói nacional.
Usando uma tomografia computadorizada e contando com a ajuda de cientistas britânicos, um grupo da Unicamp recriou o rosto de José Resende da Costa, militar e fazendeiro que foi preso em 1789 e exilado na África, onde acabou morrendo.
A equipe da Unicamp identificou a ossada de Costa e a de outros dois inconfidentes, Domingos Vidal Barbosa e João Dias Mota, cujos restos estavam em situação duvidosa desde que voltaram ao Brasil nos anos 1930.
Ocorre que o local da sepultura do trio de degredados foi identificado apenas com base na tradição oral da região. Foram exumados em 1932 e, quatro anos depois, o presidente Getúlio Vargas determinou a repatriação de todos os inconfidentes mortos durante a pena de exílio.
As urnas de 13 inconfidentes foram enviadas para Ouro Preto, mas as ossadas dos três permaneceram no arquivo do Itamaraty, alimentando as dúvidas dos historiadores sobre a identidade dos revolucionários defuntos.

NA IGREJA
"Num dado momento elas [as ossadas] chegaram ao museu [da Inconfidência], mas não foram recebidas porque havia dificuldade de verificar a autenticidade delas, então ficaram guardadas em uma igreja local", diz o diretor do museu, Rui Mourão.
"Para não eternizar a dúvida, procuramos apoio da equipe da Unicamp."
A equipe de pesquisa de pós-graduação coordenada por Eduardo Daruge, do campus da Unicamp em Piracicaba, analisou as ossadas.
"Deve ter sido uma exumação na base da pá e do enxadão, muito mal realizada, porque o material veio ao Brasil quase sem cuidado, com pedras, terra e até pedaços de jornal junto", afirma ele.
As três ossadas foram separadas por características anatômicas, morfologia, espessura e cor, entre outras características. Exames de DNA não deram certo, porém.
A saída foi utilizar outra técnica. As peças foram submetidas a exames de densitometria óssea, método que mede a densidade dos ossos para indicar a idade.
O resultado coincidiu com a faixa etária de cada inconfidente. Ao morrer, Costa tinha cerca de 70 anos, enquanto Mota morreu aos 50 anos e Barbosa, aos 31.
Apenas uma das ossadas tinha pedaços de um crânio. Os 140 fragmentos foram reunidos e completados com cera branca para remontagem.
A tomografia computadorizada 3D foi enviada ao University College de Londres, onde foi feita a reconstrução facial de Costa com idade entre 45 anos e 50 anos.
"Comparamos a imagem com a fotografia de um provável trineto de Costa e foi impressionante ver a semelhança de certos traços", afirma o pesquisador. Há previsão de que a presidente Dilma compareça ao enterro dos restos no feriado do dia 21 de abril.


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