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Firma australiana detém patentes sobre o uso médico do
"DNA-lixo"
RACHEL NOWAK
DAVID CONCAR
DA "NEW SCIENTIST"
A revolução médica que permitirá o tratamento personalizado
de doenças vai custar mais caro
do que se pensava. Uma pequena
empresa de biotecnologia da Austrália tem patentes que ela diz cobrirem métodos-chave de diagnosticar o quão suscetível um indivíduo é a uma dada doença. E
quer ganhar dinheiro com isso.
Mesmo antes do sequenciamento do genoma humano, já havia uma corrida para identificar as
variações genéticas que os médicos poderiam usar para determinar se este ou aquele paciente era
suscetível a doenças cardíacas,
por exemplo, ou se uma droga específica funcionaria para ele.
Quando as empresas começaram a pedir patentes de marcadores genéticos para essas variações,
especialmente aquelas conhecidas como SNPs (polimorfismos
de nucleotídeo único, na sigla em
inglês), instituições de pesquisa e
companhias farmacêuticas ficaram tão preocupadas que iniciaram o Consórcio SNP. Seu propósito é descobrir SNPs e fornecer
acesso gratuito aos dados, para
manter os custos baixos.
O problema é que a Genetic
Technologies de Melbourne detém várias patentes, registradas
no nome da GeneType, da Suíça,
que cobrem parte do conceito da
análise de SNPs. "Todas as companhias que usam SNPs não-codificantes estão infringindo as
nossas patentes", diz o presidente
da empresa, Mervyn Jacobson.
As patentes foram concedidas
nos anos 90 e se referem a trabalhos realizados na década de 80.
Na época, o genoma humano parecia tão distante que os geneticistas se contentavam em classificar
os 97% do DNA que não representam genes como "lixo".
Mas um pesquisador que trabalhava para a GeneType mostrou
que, se você está tentando descobrir que variante de gene ou combinação de genes possui uma pessoa, planta ou animal, as regiões
não-codificantes na vizinhança
desses genes são tão úteis quanto
as próprias regiões codificantes.
A grande maioria das SNPs fica
nas regiões não-codificantes do
genoma. Então, usá-las para fazer
inferências sobre genes infringirá
as patentes na maioria dos casos,
diz Jacobson. A Genetic Technologies está, agora, cobrando taxas
de licenciamento de empresas
que estejam desenvolvendo produtos baseados nesse conceito.
Três companhias já pagaram.
A Sequenom, de San Diego
(EUA), por exemplo, que vende
equipamento de análise de SNPs,
pagou US$ 500 mil por uma licença não-exclusiva. Como parte do
acordo com a Sequenom, a Genetic Technologies garantiu que licenças dadas a outras empresas
custariam mais caro.
Algumas pessoas na indústria
biotecnológica dizem que a companhia merece as taxas, pela sua
visão. Mas Martin Bobrow, da
Universidade de Cambridge, um
dos principais especialistas britânicos em genética médica, vê o fato como mais uma evidência de
que as patentes em biotecnologia
são fáceis demais de obter e que as
regras que definem o que pode e o
que não pode ser patenteado precisam ser endurecidas logo.
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