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Com Obama, cético do clima perde espaço
Críticos reclamam do que chamam de "visão apocalíptica" do debate sobre o aquecimento global, reforçada pelo novo governo
Movimento lança livro e instituto conservador prepara contra-ataque em conferência sobre o assunto em Washington em junho
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em fevereiro deste ano, o colunista conservador George F.
Will, do jornal "Washington
Post" e da revista semanal
"Newsweek", escreveu um artigo em que elencava uma série
de estatísticas passadas e presentes para criticar o que batizou de "ecopessimistas", os que
sempre veem um futuro sombrio quando se trata de ambiente. "Uma premissa não declarada deles é que as condições ambientais são, ou eram
até recentemente, as melhores
possíveis", disse.
Will, 68, citava como exemplo em seu artigo uma onda de
estudos e reportagens de publicações sérias nos anos 1970 que
davam conta de que o mundo
corria grande risco de entrar
em uma nova Era do Gelo, pelo
ritmo da queda da temperatura
no planeta então. Se não são os
mesmos, concluía o colunista,
os que hoje falam dos perigos
de aquecimento global têm atitude igualmente alarmista.
Polêmicas não são exatamente novidade para o jornalista veterano, que ganhou o
Prêmio Pulitzer por seus comentários em 1977 e foi o escolhido por Barack Obama para
ser o anfitrião de um jantar do
então presidente-eleito com
colunistas conservadores, em
janeiro último. Mas Will não
esperava a avalanche de cartas,
e-mails e telefonemas provocada por sua coluna.
Foram milhares, que levaram o ombudsman do "Post" a
escrever uma coluna a respeito
e a apontar pelo menos um erro
factual, que Will contestou em
colunas seguintes.
Erros à parte, afirmava o ombudsman, "há um tom perturbador de "se não concorda comigo, você é um idiota" no debate sobre o aquecimento global". Will voltaria ao tema em
outras três colunas, e a briga
renderia reportagem no "New
York Times", segundo a qual
"ambos os lados exageram".
Como exemplos eram citados o ex-vice-presidente Al Gore, no lado dos pessimistas, que
defendem que a atividade humana vem aumentando a temperatura do planeta e que é preciso intervenção imediata para
reverter esse processo, e Will,
no canto dos céticos, que postulam que a temperatura do
planeta varia, ponto, independentemente dos humanos.
Maré baixa
O equilíbrio no debate público sugerido pelo texto não se
traduz na realidade. Com a eleição de Obama, que baseou sua
plataforma ambiental na luta
contra o aquecimento global, os
chamados "céticos climáticos"
estão em baixa. Essa retração
começou com o sucesso do filme de Gore, "Uma Verdade Inconveniente", de 2006, que ganhou dois Oscars e faturou US$
30 milhões nos EUA.
Em geral ligada à direita do
espectro político e a indústrias
campeãs de popularidade negativa como a do petróleo, essa
corrente minoritária segue a
maré baixa em que estão hoje
os republicanos -em novembro, além de perder a presidência, o partido virou minoria em
ambas as Casas do Legislativo e
nos governos estaduais.
Mas isso não quer dizer que o
movimento esteja dormente.
No mês de abril, o centro de
pensamento conservador Cato
Institute, de Washington, foi
palco de uma noite de autógrafos e debate com uma das facetas moderadas do grupo, os autores do livro "Climate of Extremes" (Clima de Extremos).
Nele, Patrick J. Michaels, climatologista do instituto, e Robert C. Balling Jr., do programa
de climatologia da Escola de
Geografia da Universidade Estadual do Arizona, defendem
que há todo um grupo novo de
cientistas que discutem com
seriedade o aquecimento global, mas que são contrários ao
que chamam de "visão apocalíptica da mudança climática".
"Não que você vá saber de algo a esse respeito", escrevem.
"Consulte seu jornal diário ou
telejornal noturno: previsões
fatalistas é quase tudo o que você vai ler ou ouvir." De fato,
com a escolha da estrela Steven
Chu para a pasta de Energia,
Obama ajudou a monopolizar o
noticiário para os pessimistas.
Ganhador do Nobel de Física
de 1997, Chu é um defensor do
modelo chamado "cap-and-trade", que limita ("cap") a
emissão de gases-estufa por
empresas ao mesmo tempo que
permite a comercialização
("trade") entre elas das chamadas "cotas de poluição", caso reduzam mais do que sua meta.
A ideia toda arrepia o ultraconservador Heartland Institute, um dos principais defensores da não-regulação do setor
e, de maneira geral, do livre
mercado sem qualquer interferência do governo. "Algumas
pessoas nos EUA veem o comando e o controle de indivíduos como o ápice da política",
diz Dan Miller, vice-presidente
executivo desse instituto baseado em Chicago. "Nós achamos que isso é terrível."
Instado pela Folha, ele manda uma amostra dos e-mails e
cartas que recebe dos que discordam de sua posição. A
maior parte é impublicável. "As
paixões que cercam a questão
do aquecimento global têm se
intensificado nos últimos anos
porque a posição dos céticos
substituiu o argumento dos
alarmistas como ponto de vista
dominante entre os cientistas",
exagera Miller -na verdade, é
o oposto o que ocorre.
Mas os céticos preparam novo contra-ataque. No começo
de junho, reúnem 200 cientistas e políticos em Washington
para conferência que discutirá
o custo financeiro de novas
medidas propostas por Obama,
via Orçamento de 2010 e leis
ordinárias, para sobretaxar
empresas emissoras de gases
causadores do efeito estufa.
Entre os oradores, estrelas
do movimento como Richard
Lindzen, do MIT, Willie Soon,
do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, Roy Spencer, da Nasa, e o geólogo Harrison "Jack" Schmitt. Ex-senador republicano, ele é um dos
dois astronautas ainda vivos da
Apollo-17, a última missão tripulada na Lua.
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