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Chimpanzés fazem guerra de conquista
Pesquisa mostrou ataques que culminaram em 21 mortes ao longo de dez anos em parque nacional de Uganda
Após matança, grupo de
atacantes ocupou área
onde conflito ocorria, o
que aumentou sua terra
em 23%, afirma estudo
DE SÃO PAULO
"A mensagem é simples.
Os chimpanzés matam uns
aos outros, matam seus vizinhos. Até agora, não sabíamos por quê. Nossas observações indicam que fazem isso para expandir seus territórios à custa dos vizinhos."
John Mitani, antropólogo
da Universidade de Michigan
(EUA), não podia ser mais
claro ao resumir dez anos de
dados sobre uma comunidade de chimpanzés no parque
nacional Kibale, em Uganda.
Em artigo na última edição
da revista científica "Current
Biology", Mitani e seus colegas mostram que os bichos
mataram 21 membros de um
bando rival nessa década, o
que fez com que o território
do grupo atacante aumentasse em quase um quarto.
O conflito letal entre os primos mais próximos da humanidade é conhecido há décadas. Nas guerras entre dois
grupos de Gombe, na Tanzânia, um bando chegou a ser
extinto, com membros remanescentes sendo incorporados à "tribo" vencedora.
BANANAS DA DISCÓRDIA
O problema é que, em
Gombe, os bichos estavam
recebendo bananas dos pesquisadores, o que pode ter
catalisado a pancadaria
-um contexto que não seria
natural para chimpanzés.
Em outros locais, as brigas
não tinham sido vistas diretamente. Mitani e companhia
sanaram tais dúvidas ao presenciar 18 das mortes ou ferimentos letais em Kibale.
No parque de Uganda, o
grupo atacante ocupava uma
área de cerca de 30 km2 entre
1999 e 2008. Os bichos, no
entanto, às vezes deixavam
esse território em "patrulhas
de fronteira", caminhando
em fila indiana, quietos, em
busca de sinais de outros macacos. Em 17 dos casos, os
ataques letais foram obra de
grupos de patrulha formados
por machos adultos.
Talvez um dos motivos para a sanha "conquistadora"
do grupo seja seu tamanho:
são cerca de 150 indivíduos,
enquanto é mais comum que
as comunidades de chimpanzés tenham em torno de
30 membros. O que está claro
é que as áreas antes patrulhadas, a nordeste do território do bando, passaram a ser
ocupadas com regularidade.
Antes do novo trabalho,
especulava-se que os ataques pudessem estar ligados
à obtenção de fêmeas de grupos rivais. Mitani e seus colegas dizem que ainda não é
possível descartar esse hipótese, mas argumentam que a
aquisição de território está
mais bem fundamentada.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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