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AMBIENTE
Injeção de gás carbônico em reservas geológicas pode reduzir sua ação na atmosfera; Petrobras tem dois projetos
Painel debate ataque a efeito estufa na BA
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Durante três dias, a capital da
Bahia vai reter todo o conhecimento do mundo sobre manuseio
de CO2. De amanhã até quinta-feira, a cidade será sede de um encontro do 3º Grupo de Trabalho
do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática,
na sigla em inglês), grupo de especialistas voltado para a captura e o
armazenamento de carbono.
O manuseio do dióxido de carbono (CO2) é uma estratégia pleiteada pelo órgão internacional, ligado à ONU, para reduzir os gases-estufa presentes na atmosfera.
A idéia é impedir que o carbono
inorgânico, produzido por queima, seja liberado no ar. Ao invés
disso, ele seria captado e "guardado" em reservas geológicas (como
salitres e poços esgotados de combustíveis fósseis) ou nos oceanos.
No Brasil, há pelo menos dois
projetos em operação, ainda que
o pontapé inicial não tenha sido
altruísta. Há mais de dez anos, a
Petrobras injeta 250 toneladas por
dia de CO2 -vindo de uma fábrica de fertilizantes nitrogenados-
em duas antigas jazidas petrolíferas no recôncavo baiano. Com a
pressão exercida pelo gás, a companhia retira o petróleo residual.
A tecnologia aplicada nesses locais serve para capturar o carbono
que escapa e reinjetá-lo até extinguir a vida produtiva do poço, explicou à Folha o consultor da Petrobras Paulo Sérgio Rocha, também membro do IPCC. Acontece
que apenas uma parte do CO2 que
entra sai: em um dos reservatórios, há um índice de retenção de
20%, e no outro, de 50%.
No mundo, há quatro grandes
experiências de injeção de carbono em reservas geológicas: duas
na Noruega, uma no Canadá e
uma na Argélia. O IPCC usa os
dados para quantificar quanto gás
escapa, projetar investimentos e
analisar impactos da tecnologia.
"Nunca se pesquisou tanto sobre o assunto", diz o consultor da
Petrobras. Parte do estímulo intelectual vem do emergente mercado de créditos de carbono. Países
desenvolvidos que não atingem
seus objetivos de redução das
emissões podem "comprar" créditos excedentes das nações que
poluem pouco ou que não possuem metas oficiais.
O sistema está atrelado ao Protocolo de Kyoto, acordo internacional para a redução dos gases-estufa na atmosfera, que atualmente espera a ratificação da Rússia para entrar em vigor. "Mesmo
que Kyoto não aconteça, alguns
países, como os da Europa, vão
impor a demanda", diz Rocha.
Sob as águas
Já o armazenamento de carbono nos oceanos ainda está no
campo das idéias. "O CO2 pode
ser mantido em "lagos" submarinos, por exemplo, pois sob determinadas condições de pressão e
temperatura ele é mais denso do
que a água", diz o cientista americano Chris Sabine, que participa
da reunião em Salvador. O problema é que ninguém sabe como
o gás afetaria os ecossistemas subaquáticos, pois até hoje não foram feitas experiências em larga
escala, pelos custos proibitivos.
Os mares são "esponjas" naturais do CO2 atmosférico. Um estudo conduzido por Sabine e seu colega Richard Felly afirma que 118
bilhões de toneladas de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis entre 1800 e 1994 foram parar nos oceanos. "Só que
esse carbono permanece de forma superficial nos oceanos, é diferente do que aconteceria se injetássemos propositalmente", diz.
Papel político
Mesmo com poucos dados, o
grupo dedicará um capítulo para
o tema, num relatório que será
apresentado ao plenário do IPCC.
Caso seja aprovado, deve ser publicado em 2005 ou 2006, quando
o público terá acesso às conclusões dos especialistas. Cada governo então decidirá se o material
serve como base para suas diretrizes de desenvolvimento limpo.
"O IPCC é um painel de técnicos, não uma instituição", diz José
Domingos Gonzalez Miguez,
coordenador-geral de mudanças
globais do clima no Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT). No
entanto, ele admite que a reunião
possui caráter político, por reunir
formadores de opinião: "Os cientistas, inclusive os brasileiros, como membros da sociedade, assumem um papel de disseminadores da visão de seu país", afirma.
Os países que participam do
IPCC dividem-se no papel de anfitrião das reuniões. No Brasil, a
responsabilidade foi assumida
pelo MCT, pelo Ministério de Minas e Energia e pela Secretaria de
Meio Ambiente da Bahia.
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