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Telescópios verão toda a história do cosmo
Grandes instrumentos que funcionarão a partir da próxima década irão revelar eventos celestes inéditos, diz cientista
Máquinas vão investigar
as primeiras estrelas do Universo, a forma da Via Láctea e a composição de planetas extrassolares
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A partir da próxima década, a
astronomia terá pela primeira
vez um arsenal de telescópios
capaz de investigar toda a história do cosmo. Em um dos encontros que encerraram anteontem a Assembleia Geral da
IAU (União Astronômica Internacional), cientistas relataram que sete das propostas
mais ambiciosas de telescópios
estão em andamento.
Por serem caros, alguns projetos ainda não obtiveram financiamento completo, mas
todos têm pelo menos o dinheiro inicial. Uma vez prontos, os
instrumentos revelarão em detalhes como eram as primeiras
estrelas do Universo, mostrarão qual é a forma da Via Láctea
e captarão com facilidade a luz
vinda direto de planetas de fora
do Sistema Solar.
"Nós seremos, então, literalmente, capazes de estudar objetos de todas as idades do Universo, desde as primeiras coisas
que se formaram até hoje", disse Gerard Gilmore à Folha, astrônomo da Universidade de
Cambridge (Reino Unido).
Capazes de enxergar a luz e
outros tipos de radiação magnética em todas as frequências,
cientistas terão pela primeira
vez uma visão em alta resolução delas.
Gilmore, que coordenou o
encontro sobre telescópios no
Rio de Janeiro, participa do
Gaia, da ESA (Agência Espacial
Europeia). O projeto, que recebeu 500 milhões, está com a
agenda em dia, e decola ao espaço em 2012.
O Telescópio Espacial James
Webb, iniciativa conjunta da
Nasa e da ESA, de US$ 5 bilhões, deve zarpar em 2014.
Ambição
Em terra firme, o gigantesco
GMT (Telescópio Gigante de
Magalhães), de 24 metros de
largura, mal começou a ser fabricado. Segundo Matthew Colless, astrônomo encarregado
de representar o projeto na
IAU, US$ 200 milhões do total
de US$ 690 necessários já estão
em caixa, saídos de EUA, Austrália e Coreia do Sul. O GMT
será instalado no Observatório
Las Campanas, no Chile, mas
deve ficar pronto só em 2018.
Será um salto ambicioso para a
astronomia. O maior instrumento óptico em operação hoje, o Grande Telescópio das Canárias, não tem nem a metade
deste tamanho.
Se tudo correr certo, em 2018
deverão estar prontos também
outros dois projetos, maiores
ainda. Eles são o TMT (Telescópio de Trinta Metros), no
Havaí, e o E-ELT (Telescópio
Europeu Extremamente Grande), com 42 metros de largura,
que ainda não escolheu locação. Cada um deverá custar algo em torno de US$ 1 bilhão.
Não é megalomania, dizem os
astrônomos. O problema é que
a precisão desses instrumentos
depende diretamente de seu
diâmetro, explica Markus Kissler-Patig, do E-ELT.
A façanha do ponto de vista
de engenharia, porém, fascina a
todos. "O domo do nosso telescópio será do tamanho de um
estádio de futebol".
O observatório gigante mais
perto de começar a operar, porém, não terá telescópios individuais tão largos. O projeto
ALMA, no Chile, um arranjo de
66 grandes antenas parabólicas
para captação de micro-ondas
emitidas por corpos celestes,
fará as primeiras observações
em 2011. Micro-ondas não são
visíveis pelo olho humano, mas
são fundamentais em astronomia, explica Alison Peck, que
apresentou o projeto no Rio.
"Elas permitem ver atrás de
grandes nuvens de poeira e gás,
como aquelas em regiões onde
nascem as estrelas", diz.
O maior observatório do
mundo, o SKA (Square Kilometer Array), também não verá
luz. Especializado em captar
ondas de rádio, deve ficar pronto em 2017, construído num esforço conjunto entre 19 países.
Austrália e África do Sul disputam a hospedagem. Custando
cerca de US$ 1,5 bilhão, o SKA
consistirá em 3.000 radiotelescópios espalhados numa área
de até 3.000 km de extensão.
Com tanta verba gasta em telescópios, a impressão que se
tem é de não falta dinheiro. Segundo Gilmore, porém, o que
permitiu aos telescópios darem
um salto tão grande não foi o
dinheiro, e sim a engenharia.
"Aprendemos a usar computadores com muita precisão".
Ainda assim, Gilmore diz temer que a astronomia caia no
mesmo beco sem saída da física
de partículas: o orçamento do
mundo inteiro para esse campo
é consumido basicamente pelo
acelerador de partículas LHC.
"O espaço para individualismo
está diminuindo na astronomia, também", diz.
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