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NEUROLOGIA
Ratos que receberam doses extras do elemento durante três dias apresentaram sintomas dessa doença cerebral
Estudo aponta elo entre ferro e Parkinson
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O consumo excessivo de ferro
pode ser um dos fatores para o
surgimento do mal de Parkinson
e aumentar o risco de outras
doenças degenerativas do cérebro. A constatação, feita por cientistas gaúchos, sugere que é preciso dosar com cuidado suplementos alimentares à base de ferro
(usados para combater anemia,
ou de forma preventiva), especialmente para bebês.
Os testes mostraram que ratos
recém-nascidos aos quais era dada uma determinada dose de ferro por três dias tinham sua memória e sua coordenação motora
severamente diminuídas, além de
apresentarem danos na chamada
substância negra -a região na
base do cérebro que perde seus
neurônios no mal de Parkinson.
O ponto de partida da pesquisa,
porém, não foram os roedores. É
o que explica Nadja Schröder, 31,
da PUC (Pontifícia Universidade
Católica) do Rio Grande do Sul.
Ela diz que a análise de seres humanos que morreram em consequência da doença já mostrava
uma relação entre o ferro e o mal.
"Muitos trabalhos publicados
mostram um acúmulo de ferro na
substância negra das pessoas com
Parkinson", diz Schröder. "O problema é saber se o ferro é causa ou
consequência", afirma.
Na ponta nutricional do problema, existiam outros estudos que
mostravam que a maior absorção
de ferro pelo cérebro ocorre no
chamado período neonatal, que
em humanos vai do nascimento
até cerca de um ano de idade.
Esse intervalo é o palco da
maior parte do desenvolvimento
do sistema nervoso e também da
formação da barreira sangue-cérebro, que protege o órgão de
substâncias tóxicas. E, nessa fase,
as substâncias que transportam
ferro para dentro do cérebro se
concentram na barreira.
"Há testes que utilizam átomos
de ferro marcados radioativamente mostrando que a quantidade desse elemento que você adquire nessa fase não sai mais do
cérebro", afirma Schröder. Por isso, suspeita-se que essa fase seja
crucial para o acúmulo de ferro
que causaria danos aos neurônios
(células nervosas) mais tarde.
Doses diárias
Para testar o possível efeito nocivo do ferro, os pesquisadores
administraram doses do elemento a ratos recém-nascidos do 12º
ao 14º dia de vida e acompanharam os bichos até a idade adulta.
Os roedores que ganharam doses extras de ferro superiores a 3,7
mg por quilo de peso corporal andavam menos e de forma menos
coordenada que os demais, além
de apresentarem problemas sérios de memória.
Em termos relativos, a dose diária dada aos animais seria cerca de
dez vezes maior que a recebida
por uma criança. Isso porque o
teste dura só três dias, enquanto a
criança receberia ferro por meses,
tornando seu efeito cumulativo,
explica a pesquisadora.
De acordo com Schröder, o mecanismo que pode estar por trás
dos danos causados aos ratos e
também aos pacientes humanos é
a ação do ferro como catalisador
(acelerador de reações químicas)
dos chamados radicais livres.
Esses vilões fisiológicos são átomos isolados de oxigênio cuja
ação química é letal para as células. A substância negra do cérebro
dos roedores revelou danos causados pelos radicais livres.
Trabalhos sobre a experiência,
feita em colaboração com pesquisadores suecos e da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande
do Sul), foram publicados nas revistas "Developmental Brain Research" (www.elsevier.com/locate/bres) e "Parkinsonism & Related Disorders" (www.elsevier.com/locate/parkreldis).
Schröder diz que a intenção da
pesquisa não é levar as pessoas a
deixar de comer alimentos que
contenham ferro naturalmente.
"Uma dieta balanceada provavelmente não faria mal nenhum.
Mas, embora mais estudos sejam
necessários, eu adoto a seguinte
regra: não tomar suplemento alimentar de ferro a menos que a
pessoa esteja com anemia e realmente precise", afirma.
Recomendação
A quantidade diária de ferro recomendada pelo Ministério da
Saúde para crianças até 5 meses é
de 6 mg por dia, e sobe para 10 mg
de 6 meses a um ano de idade. Em
200 ml de leite enriquecido com
ferro, existem 3 mg do elemento.
Para Schröder, a cautela não precisaria ser tão grande com alimentos enriquecidos, embora o
excesso deles também não seja
necessário ou recomendável.
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