|
Próximo Texto | Índice
"Vulcão" artificial pode resfriar o planeta
Climatologista propõe lançar dióxido de enxofre com aviões a grandes altitudes para combater o aquecimento global
Cientistas estudou erupção
do vulcão Pinatubo em 1991
para calcular quantidade de
substância necessária para
amenizar o efeito estufa
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma proposta polêmica para
combater o aquecimento global
-lançar milhões de toneladas
de um poluente na alta atmosfera- parece ganhar força com
a demora da humanidade em
reduzir as emissões de gases do
efeito estufa. A idéia partiu de
um conceituado climatologista,
que propõe aviões para lançar
dióxido de enxofre (SO2) no ar,
mais ou menos como uma
erupção vulcânica faz.
"O SO2 oxida e adere ao vapor
d'água para formar pequenas
gotas de ácido sulfúrico", explica Tom Wigley, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA. "As gotículas refletem de volta a radiação solar
e resfriam a baixa atmosfera",
disse à Folha o cientista, que
detalhou seu plano ontem, em
estudo na revista "Science".
Um detalhe: o ácido sulfúrico
é tóxico e responsável pela famigerada chuva ácida.
A medida poderia inibir o
aquecimento por um período
limitado, antes da redução efetiva das emissões. Wigley defende que seu plano seja adotado ao lado de acordos para cortar a emissão de gases-estufa.
Propostas similares à de Wigley já haviam sido lançadas na
década de 1970, mas foram logo
descartadas em razão dos prováveis efeitos colaterais que
trariam. Criar chuva ácida, afinal, não parece boa coisa, mas
Wigley afirma que os benefícios superariam os custos.
"O montante que eu calculo
que tenhamos de jogar [na alta
atmosfera] é de 5 milhões de
toneladas de enxofre por ano,
mas nós já estamos jogando entre 60 milhões e 70 milhões de
toneladas na baixa atmosfera
ao queimar combustíveis fósseis", diz o pesquisador. "O
montante extra, portanto, é relativamente pequeno."
Para estimar o quanto de SO2
seria necessário para levar a cabo seu plano, Wigley usou como base de cálculo a erupção
do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, em 1991. Na época, o fenômeno causou um leve resfriamento na média de temperaturas terrestres, mas sem desequilibrar o sistema. O ideal,
portanto, seria criar um "Pinatubo virtual" em intervalos de
um a três anos, até que as políticas de redução de gases-estufa comecem a ter efeito.
O estudo de Wigley, porém,
ainda não oferece uma estimativa de custo para a ousada proposta. O pesquisador acredita
que seja necessário mobilizar
uma frota de aviões maior do
que a de todas as companhias
aéreas comerciais do mundo
somadas para atingir a meta.
O cientista insiste em ressaltar que a solução deve ser temporária, porque não combate
um outro problema causado
pelos gases-estufa, a acidificação dos mares. "Além disso, o
aerossol [as partículas de ácido
sulfúrico] pode atrasar em algumas décadas a recuperação
da camada de ozônio."
Próximo Texto: Americana é primeira a receber braço "biônico" Índice
|