São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006

Próximo Texto | Índice

"Vulcão" artificial pode resfriar o planeta

Climatologista propõe lançar dióxido de enxofre com aviões a grandes altitudes para combater o aquecimento global

Cientistas estudou erupção do vulcão Pinatubo em 1991 para calcular quantidade de substância necessária para amenizar o efeito estufa

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma proposta polêmica para combater o aquecimento global -lançar milhões de toneladas de um poluente na alta atmosfera- parece ganhar força com a demora da humanidade em reduzir as emissões de gases do efeito estufa. A idéia partiu de um conceituado climatologista, que propõe aviões para lançar dióxido de enxofre (SO2) no ar, mais ou menos como uma erupção vulcânica faz.
"O SO2 oxida e adere ao vapor d'água para formar pequenas gotas de ácido sulfúrico", explica Tom Wigley, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA. "As gotículas refletem de volta a radiação solar e resfriam a baixa atmosfera", disse à Folha o cientista, que detalhou seu plano ontem, em estudo na revista "Science".
Um detalhe: o ácido sulfúrico é tóxico e responsável pela famigerada chuva ácida.
A medida poderia inibir o aquecimento por um período limitado, antes da redução efetiva das emissões. Wigley defende que seu plano seja adotado ao lado de acordos para cortar a emissão de gases-estufa.
Propostas similares à de Wigley já haviam sido lançadas na década de 1970, mas foram logo descartadas em razão dos prováveis efeitos colaterais que trariam. Criar chuva ácida, afinal, não parece boa coisa, mas Wigley afirma que os benefícios superariam os custos.
"O montante que eu calculo que tenhamos de jogar [na alta atmosfera] é de 5 milhões de toneladas de enxofre por ano, mas nós já estamos jogando entre 60 milhões e 70 milhões de toneladas na baixa atmosfera ao queimar combustíveis fósseis", diz o pesquisador. "O montante extra, portanto, é relativamente pequeno."
Para estimar o quanto de SO2 seria necessário para levar a cabo seu plano, Wigley usou como base de cálculo a erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, em 1991. Na época, o fenômeno causou um leve resfriamento na média de temperaturas terrestres, mas sem desequilibrar o sistema. O ideal, portanto, seria criar um "Pinatubo virtual" em intervalos de um a três anos, até que as políticas de redução de gases-estufa comecem a ter efeito.
O estudo de Wigley, porém, ainda não oferece uma estimativa de custo para a ousada proposta. O pesquisador acredita que seja necessário mobilizar uma frota de aviões maior do que a de todas as companhias aéreas comerciais do mundo somadas para atingir a meta.
O cientista insiste em ressaltar que a solução deve ser temporária, porque não combate um outro problema causado pelos gases-estufa, a acidificação dos mares. "Além disso, o aerossol [as partículas de ácido sulfúrico] pode atrasar em algumas décadas a recuperação da camada de ozônio."


Próximo Texto: Americana é primeira a receber braço "biônico"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.