São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Grupo descobre "dino-guilhotina" na África

Animal tinha boca adaptada para comer vegetação rasteira; espécies parecidas podem ter habitado o Brasil

National Geographic/Reuters
Reconstituições mostram Nigersaurus em vida e seu crânio


DA REDAÇÃO

Cientistas americanos encontraram no Níger os restos de um animal que seria o sonho de consumo de muito jardineiro: um dinossauro adaptado para cortar grama.
Claro, a grama propriamente dita ainda não existia no Cretáceo Inferior, quando o bicho viveu (cerca de 100 milhões de anos atrás). Mas as duas fileiras de 60 dentes cada na boca do bicho, que lhe davam um aspecto de guilhotina ambulante, eram eficientíssimas para cortar e picotar vegetação rasteira, como samambaias.
Tamanha era a voracidade desse superpastador que ele precisava trocar seus dentes uma vez por mês. Um crânio do bicho, desenterrado pela equipe do paleontólogo Paul Sereno em 2000 no deserto do Ténéré, tem nada menos do que 500 dentes -a maioria para repor o desgaste na "guilhotina".
"Entre todos os dinossauros, o Nigersaurus taqueti sem dúvida batia o recorde de número de dentes sobressalentes", afirmou Sereno, professor da Universidade de Chicago.
O Nigersaurus também tinha o crânio proporcionalmente mais leve entre todos herbívoros conhecidos. Geralmente, o crânio de um comedor de plantas precisa ser robusto para suportar o impacto da ação dos dentes. O desse bicho, que tinha o peso de um elefante, parece estar no limite do que se pode conseguir de força com um mínimo de material.
Uma tomografia computadorizada do crânio mostrou outra esquisitice do N. taqueti. A julgar pela estrutura do ouvido responsável pelo equilíbrio do animal, ele passava boa parte do tempo com a cabeça baixa, pastando. Isso significa, disse Sereno, que acreditou-se erroneamente que muitos dinossauros herbívoros -como o diplodoco, parente próximo do Nigersaurus- se comportavam como girafas. "Acho que estávamos cegos e não notamos as vacas do Mesozóico."
Uma das especulações mais surpreendentes do trabalho, publicado na revista PLoS One (www.plosone.org), é que os dinossauros pastadores teriam causado um pequeno desastre ecológico na vegetação em algumas regiões no Cretáceo.
E o Brasil pode ter sido uma dessas regiões. As rochas onde os fósseis do Nigersaurus foram achados pertencem a uma formação geológica equivalente à de algumas rochas do Nordeste (no passado, ambas as regiões eram interligadas). E dentes de criaturas parecidas com o Nigersaurus já foram achados na América do Sul.


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