São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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ANÁLISE

Copenhague virou "Flopenhague"

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Os americanos têm uma palavra bem sonora para definir fiasco: "flop". E Copenhague "flopou". Depois de passar meses bradando que não havia um "plano B", o premiê dinamarquês Lars Rasmussen jogou a toalha e admitiu que o novo acordo do clima não será firmado no reino da Dinamarca.
Rasmussen capitula um dia antes de sua ministra de Energia, Connie Hedegaard, reunir outros ministros em Copenhague para tentar produzir um impulso político final para o encontro de dezembro. Melhor fariam os ministros se poupassem o carbono da viagem.
Esse desfecho não surpreende: ele vinha se armando havia meses. Anos, na verdade. Já em 2007, analistas americanos alertavam que não haveria tempo de os EUA terem uma legislação sobre clima pronta a tempo de um acordo em 2009. E, como os EUA são uma democracia avançada, nem o mais ambientalista dos presidentes teria força para fechar um acordo sem o aval do Congresso. Sem os EUA, que respondem por quase um quarto das emissões mundiais, não há acordo que faça diferença para o clima.
Aos olhos do mundo, parecerá injusto que picuinhas internas americanas coloquem em risco o futuro de boa parte da humanidade. Mas os EUA são apenas a Geni do processo. Os europeus estão divididos, sem liderança e pressionados pelas próprias picuinhas internas -a resistência dos países mais pobres do Leste, por exemplo. Foi a UE, aliás, que cunhou o eufemismo "politicamente vinculante" para "acordo fracassado", na semana retrasada, em Barcelona. Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia também não querem compromisso, mas se escondem atrás dos EUA.
Com um clima desses, é melhor mesmo suspender a reunião e reconvocá-la depois. Resta saber se o planeta pode esperar -e sem garantia de sucesso. De toda forma, antes correr esse risco do que fechar um acordo frouxo, à la Kyoto, na capital dinamarquesa - que talvez fizesse bem em mudar seu nome para "Flopenhague".


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