UOL


São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Próximo Texto | Índice

ASTRONOMIA

Simulações mostram que, em sistemas como o Solar, surgimento de mundo habitável ocorre em 25% dos casos

Planetas como a Terra devem ser comuns

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Via Láctea deve abrigar, sendo conservador, pelo menos algumas centenas de milhões de mundos habitáveis similares à Terra. Um novo estudo conduzido por astrônomos americanos sugere que os cobiçados planetas terrestres sejam comuns no Universo.
Até agora, os únicos planetas encontrados fora do Sistema Solar são gigantes gasosos, muito parecidos com Júpiter. As tecnologias de detecção usadas pelos caçadores de planetas extra-solares ainda não permitem a detecção de mundos tão pequenos quanto a Terra, o que deixa os cientistas neste momento com a tarefa de simplesmente tentar adivinhar quão comuns eles são.
Foi o que fizeram Sean Raymond, Thomas Quinn e Jonathan Lunine. Os dois primeiros são da Universidade de Washington, e o último, da Universidade do Arizona. O trio desenvolveu um programa de simulação de formação planetária em computador, considerando o que se sabe a respeito de como esses astros emergem.
Repetiram o experimento 44 vezes, alterando alguns dos parâmetros a cada nova simulação. Da sequência emergiram várias versões de sistemas planetários. Em todas as ocasiões, de um a quatro planetas rochosos (como Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) surgiram a até 300 milhões de quilômetros da estrela central (o dobro da distância Terra-Sol, ou duas unidades astronômicas).
O estudo de Raymond e seus colegas será publicado na revista "Icarus" (icarus.cornell.edu).
Em 11 dos casos houve um planeta com uma órbita aproximadamente circular, localizada entre 0,9 e 1,1 unidades astronômicas -bem no coração da chamada "zona habitável", onde está localizada a Terra, com relação ao Sol. Define-se por zona habitável a região do sistema em que um planeta consegue preservar água (substância essencial à vida) em estado líquido na superfície.
A pesquisa só se aplica a estrelas cujo desenvolvimento é similar ao do Sol, ou seja, cerca de 5% dos astros da Via Láctea, de um total de 200 bilhões. E, apesar de sugerir que planetas rochosos sejam comuns, ela dá bastante espaço para a existência de objetos bem diferentes dos que são vistos no Sistema Solar.
"Acho realmente interessante que tenhamos uma variedade tão grande de sistemas planetários, que vão desde "mundos de água" com quatro massas terrestres a muitos planetas menores, similares a Marte, em massa", diz Raymond. "E no meio estão sistemas que se parecem com os nossos, planetas de massa mediana e uma quantidade mediana de água. E toda essa imensa variedade pode ocorrer na zona habitável."
Apesar do sucesso, há uma grande incógnita encravada no meio da pesquisa. Ela não responde pela presença de planetas gigantes gasosos muito próximos à estrela apelidados de "Jupiteres quentes" -fenômeno surpreendente que começou a ser observado com a detecção dos primeiros planetas extra-solares, em 1995.
"Obviamente, nossas simulações atuais só investigam formação de planetas terrestres em casos em que há um planeta gigante a pelo menos quatro unidades astronômicas de distância", diz Raymond. "Não está claro agora que fração de estrelas tem esses planetas gigantes, mas se espera que seja bem maior do que a dos que têm "Jupiteres quentes" muito próximos a suas estrelas. Assim, nossas simulações não testam todas as possibilidades, mas é um começo. Estou atualmente executando mais simulações para ver se planetas terrestres se formam quando há um "Júpiter quente"."


Próximo Texto: Vizinha da Via Láctea flagrada em ultravioleta
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.