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Financiamento não é esmola, diz mexicano
DOS ENVIADOS A COPENHAGUE
Fernando Tudela é o homem
por trás do Fundo Verde. Foi o
subsecretário de Planejamento
e Política Ambiental do México
e negociador-chefe do país em
Copenhague quem propôs sua
criação, em 2008.
Para ele, a contribuição dos
países em desenvolvimento é
necessária para assinalar a responsabilidade coletiva -ainda
que bem menor- no aquecimento global: "É uma questão
de princípio".
(LC, CA e MS)
FOLHA - Por que a ideia de todos
contribuírem?
FERNANDO TUDELA - Porque seria
tomar ao pé da letra a questão
das responsabilidades diferenciadas, mas comuns. E a mudança climática não tem solução se só os países desenvolvidos se mobilizarem. Entendo
bem essa questão da responsabilidade histórica [pelas emissões]. Mas o México acha que
isso não apaga a responsabilidade comum, que são as nossas
emissões hoje. Por isso, achamos que é uma atitude ética
aceitar uma parte, ainda que
muito pequena, de responsabilidade, como uma forma de ter
acesso a incentivos econômicos. Os países em desenvolvimento têm de ser, afinal, beneficiários líquidos [do fundo].
FOLHA - Qual seria o princípio da
contribuição?
TUDELA - Quem emite mais paga mais. E quem tem mais capacidade econômica também paga mais. Estamos abertos. Os
exercícios que fizemos incluem
intensidade de carbono, emissões, emissões per capita, PIB.
E até os pequenos países teriam de desenvolver algum tipo
de contribuição, mesmo que
paga pelos desenvolvidos.
FOLHA - O Brasil insiste em manter
um tópico do plano assinado na
COP-13, determinando que os países desenvolvidos devem pagar pelo combate à mudança climática nos
países em desenvolvimento.
TUDELA - Concordamos. E falar
em contribuintes líquidos e beneficiários líquidos é isso. Se
você dá um e tira três, o benefício é notável. Mas o fato de colocar um é o reconhecimento
de responsabilidade. A responsabilidade de Cingapura não é a
mesma de uma ilha do Pacífico,
por exemplo. É preciso mudar
o paradigma de doações e receptores como se fossem esmolas. Todos sabem que a mudança climática não vai ser resolvida com doações, mas com uma
forma coletiva de assumir compromissos. E para os países desenvolvidos, a contribuição
econômica é obrigação, não é
um ato de altruísmo.
FOLHA - O México falou ao Brasil
sobre o fundo? Como foi a reação?
TUDELA - Falamos. [A reação]
foi cética, eu diria bastante cautelosa. Não há uma negativa.
FOLHA - O Brasil pensa em um modelo de acordo tipo Kyoto, que não
prevê metas para países pobres.
TUDELA - Nós também pensamos. Mas esses instrumentos
jurídicos têm de avançar. Se antes éramos vítimas, hoje podemos vitimar, pois se as emissões crescerem, há países insulares que vão submergir. Para
eles tanto faz de onde vem o
CO2 que os condena a extinção.
FOLHA - Não há mais alternativas
na mesa para gerar fundos?
TUDELA - Há algumas, como
imposto sobre aviação e barcos.
As fórmulas que poderíamos
negociar num fundo verde têm
muito mais alcance que isso.
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