São Paulo, quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

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Financiamento não é esmola, diz mexicano

DOS ENVIADOS A COPENHAGUE Fernando Tudela é o homem por trás do Fundo Verde. Foi o subsecretário de Planejamento e Política Ambiental do México e negociador-chefe do país em Copenhague quem propôs sua criação, em 2008.
Para ele, a contribuição dos países em desenvolvimento é necessária para assinalar a responsabilidade coletiva -ainda que bem menor- no aquecimento global: "É uma questão de princípio". (LC, CA e MS)

 

FOLHA - Por que a ideia de todos contribuírem?
FERNANDO TUDELA
- Porque seria tomar ao pé da letra a questão das responsabilidades diferenciadas, mas comuns. E a mudança climática não tem solução se só os países desenvolvidos se mobilizarem. Entendo bem essa questão da responsabilidade histórica [pelas emissões]. Mas o México acha que isso não apaga a responsabilidade comum, que são as nossas emissões hoje. Por isso, achamos que é uma atitude ética aceitar uma parte, ainda que muito pequena, de responsabilidade, como uma forma de ter acesso a incentivos econômicos. Os países em desenvolvimento têm de ser, afinal, beneficiários líquidos [do fundo].

FOLHA - Qual seria o princípio da contribuição?
TUDELA
- Quem emite mais paga mais. E quem tem mais capacidade econômica também paga mais. Estamos abertos. Os exercícios que fizemos incluem intensidade de carbono, emissões, emissões per capita, PIB. E até os pequenos países teriam de desenvolver algum tipo de contribuição, mesmo que paga pelos desenvolvidos.

FOLHA - O Brasil insiste em manter um tópico do plano assinado na COP-13, determinando que os países desenvolvidos devem pagar pelo combate à mudança climática nos países em desenvolvimento.
TUDELA
- Concordamos. E falar em contribuintes líquidos e beneficiários líquidos é isso. Se você dá um e tira três, o benefício é notável. Mas o fato de colocar um é o reconhecimento de responsabilidade. A responsabilidade de Cingapura não é a mesma de uma ilha do Pacífico, por exemplo. É preciso mudar o paradigma de doações e receptores como se fossem esmolas. Todos sabem que a mudança climática não vai ser resolvida com doações, mas com uma forma coletiva de assumir compromissos. E para os países desenvolvidos, a contribuição econômica é obrigação, não é um ato de altruísmo.

FOLHA - O México falou ao Brasil sobre o fundo? Como foi a reação?
TUDELA
- Falamos. [A reação] foi cética, eu diria bastante cautelosa. Não há uma negativa.

FOLHA - O Brasil pensa em um modelo de acordo tipo Kyoto, que não prevê metas para países pobres.
TUDELA
- Nós também pensamos. Mas esses instrumentos jurídicos têm de avançar. Se antes éramos vítimas, hoje podemos vitimar, pois se as emissões crescerem, há países insulares que vão submergir. Para eles tanto faz de onde vem o CO2 que os condena a extinção.

FOLHA - Não há mais alternativas na mesa para gerar fundos?
TUDELA
- Há algumas, como imposto sobre aviação e barcos. As fórmulas que poderíamos negociar num fundo verde têm muito mais alcance que isso.


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