|
Próximo Texto | Índice
BIOMEDICINA
Estruturas transformadas para tratar diabetes roubam insulina do meio em vez de fabricá-la, afirma estudo
Células-tronco enganam pesquisadores
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
O sonho de usar células-tronco
de embriões para curar diabetes
vai ter de esperar. Um grupo de
pesquisadores da Universidade
Harvard (EUA) descobriu que células que se achava terem sido
transformadas para produzir o
hormônio que falta em portadores da doença estavam, na verdade, absorvendo-o do ambiente e
secretando-o depois.
O truque celular foi descoberto
pela equipe do médico indiano
Jerry Rajagopal e denunciado na
edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org). "Foi
uma surpresa para nós, pois trata-se de um fenômeno novo", afirmou. Apesar de não achar que isso seja um golpe mortal nas pesquisas, Rajagopal diz que os estudiosos vão precisar descobrir um
novo método para transformar
células-tronco em células produtoras desse hormônio, a insulina.
Células-tronco embrionárias
são uma grande promessa da medicina porque têm a capacidade
de se transformar em virtualmente qualquer tipo de tecido no organismo. Em tese, seria possível
programá-las para recompor cérebros, corações e fígados, por
exemplo. Doenças degenerativas
como o mal de Alzheimer, no
qual células do cérebro morrem,
poderiam ser tratadas com um
implante dessas células multiuso.
Portadores de diabetes têm um
defeito no pâncreas que faz com
que eles produzam pouca ou nenhuma insulina, hormônio que
ajuda as células a absorver açúcar.
Os cientistas têm tentado usar células-tronco para produzir as chamadas ilhotas de Langerhans, células produtoras de insulina.
Embora nenhum ser humano
tenha recebido esse tipo de tratamento ainda, vários estudos têm
demonstrado que células-tronco
de embrião podem ser programadas para produzir o hormônio.
Para testar o sucesso da transformação, os cientistas misturam-nas a um anticorpo -molécula que reage com a insulina.
O que o grupo de Rajagopal descobriu foi que essa reação não garante o "pedigree" das ilhotas.
Como a insulina é usada no laboratório para estimular a diferenciação das células-tronco, elas
simplesmente absorvem o hormônio do meio de cultura e secretam-no aos poucos -dando a
impressão de que são as suas verdadeiras produtoras.
Os médicos de Harvard desmascararam as falsas ilhotas cultivando-as num meio pobre em insulina. "Ninguém esperava que
isso pudesse acontecer. E não sabemos bem como acontece", contou Rajagopal. "Mas os implantes
de ilhotas feitos em camundongos terão de ser revistos."
Não é que a diferenciação não
aconteça. "Havia células genuínas, mas em quantidade muito
pequena, não o bastante para produzir insulina em quantidade [terapêutica]", afirmou. Mesmo assim, o pesquisador se disse animado com o potencial das células
embrionárias. "As perspectivas
são grandes."
Próximo Texto: Biologia: Reprodução sem sexo faz sucesso de parasita Índice
|