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Uruguaios acham roedor pré-histórico de 1 tonelada
Animal viveu à margem do rio da Prata e é o maior do seu grupo já encontrado
Crânio do mamífero gigante
tem 53 centímetros e cerca
de 3 milhões de anos; por
duas décadas, ficou jogado
num museu sem ser descrito
DA REDAÇÃO
Imagine ouvir gritos de "Socorro! Um rato!" de sua mulher
ou seu marido, chegar na cozinha e topar com um bicho do
tamanho de um búfalo e uma
tonelada de peso. Se houvesse
humanos no Uruguai há 3 milhões de anos, eles bem poderiam testemunhar essa cena bizarra. Ali viveu aquele que provavelmente foi o maior roedor
de todos os tempos.
A criatura, que estava mais
para uma capivara do que para
um rato propriamente dito, foi
batizada Josephartigasia monesi. Só seu crânio mede 53 centímetros, mais do que o comprimento total da pacarana, seu
parente vivo mais próximo.
Esse crânio foi descrito na
edição de hoje do periódico
"Proceedings of the Royal Society, B", pelo paleontólogo Andrés Rinderknecht e o físico Ernesto Blanco. Mas, antes de ser
revelado aos cientistas, o J. monesi precisou amargar muito
tempo num lugar bem propício
a ratos: um porão.
"O fóssil foi achado há mais
de 20 anos por um paleontólogo amador, mas ficou todo esse
tempo guardado sem identificação no Museu Nacional de
História Natural [em Montevidéu]", disse Blanco à Folha,
por telefone "Isso decorre da
pouca relevância que era dada
a esse museu e à ciência em geral no Uruguai", continuou.
Somente quando Rinderknecht foi contratado para começar a catalogar a coleção, há
alguns anos, é que o fóssil foi
redescoberto e estudado.
Tamanho sem documento
A primeira coisa que espanta
no J. monesi, claro, são suas dimensões. Os roedores são o
mais bem-sucedido grupo de
mamíferos (representam 40%
das espécies atuais) e sua diversificação e seu grau de adaptação a vários ambientes são conhecidos. Mas eles nunca foram famosos pelo tamanho. Os
maiores fósseis dificilmente ultrapassavam os 200 quilos. E a
capivara, o maior roedor vivo,
tem 60 quilos no máximo. O
animal achado no Uruguai (e
que deve ter habitado também
o Brasil) pesava 15 vezes mais.
Blanco diz que a linhagem do
J. monesi provavelmente teve
muito tempo para crescer: até
3 milhões de anos atrás, os herbívoros sul-americanos viveram praticamente isolados e
com comida de sobra. Os únicos predadores que havia então
no continente eram tigres marsupiais e aves. Os felinos e os
ursos só chegariam depois, vindos da América do Norte.
"Todos esses roedores floresceram antes do intercâmbio
[de fauna entre as Américas].
Acabaram ocupando nichos
ecológicos de mega-herbívoros, como os que foram ocupados por hipopótamos e rinocerontes na África", afirma.
E ser gigante, diz o cientista,
tem muitas vantagens. Um trato intestinal maior permite,
por exemplo, digerir celulose
de plantas -ampliando razoavelmente as opções de dieta.
Animais grandes também impõem respeito aos predadores.
Por fim, o tamanho GG ajuda
na competição por fêmeas.
"[Mas] nenhuma dessas coisas é claramente aplicável a esse animal ainda", disse Blanco.
Uma coisa, no entanto, os
cientistas sabem: o J. monesi
não seguia a dieta-padrão de
um roedor. Seus molares têm o
mesmo tamanho dos molares
de uma capivara -adequados a
um bicho de 60 quilos, não de
uma tonelada- e sua mordida
provavelmente era fraca para o
seu tamanho. "Então ele não
pastava. Provavelmente comia
frutas ou plantas aquáticas",
diz Blanco. "Mas seus incisivos
eram extremamente grandes.
Talvez ele não os usasse para
comer, mas para defesa."
(CLAUDIO ANGELO)
Leia o estudo que descreve o animal http://journals.royalsociety.org
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