São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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Espécie de lagarto duplica seus genes para viver sem sexo

Dobrar número de cromossomos ajuda a produzir variabilidade na ausência de machos, diz estudo

Peter Baumann
Quatro gerações de fêmeas de lagarto geradas sem machos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe de pesquisadores nos EUA resolveu o mistério por trás de uma população de lagartos na qual só existem fêmeas que se reproduzem sozinhas, dispensando a fertilização por machos -uma forma de reprodução sem sexo conhecida como partenogênese.
Os cientistas descobriram que elas produzem células germinativas -as que dão origem a espermatozoides e óvulos- com o dobro de cromossomos dos lagartos que fazem sexo.
Toda reprodução sem sexo é intrigante para aos biólogos, pois a menor variabilidade genética poderia diminuir a capacidade da espécie de se adaptar ao ambiente e lidar com novos parasitas e predadores.
Sexo também traz problemas: a eficiência da transmissão de genes cai e há grande custo energético. Mas isso é compensado pela variabilidade genética, que leva a indivíduos potencialmente mais aptos.
Os lagartos da espécie Aspidoscelis tesselata vivem no sudoeste dos EUA e norte do México e têm cerca de 10 cm.
A equipe liderada por Peter Baumann, do Instituto Stowers de Pesquisa Médica, mostrou que, com o dobro de cromossomos na divisão celular, é possível haver recombinação de genes entre cromossomos geneticamente idênticos.
"Nosso trabalho mostra que animais podem abandonar a reprodução sexual, pelo menos por muitas e muitas gerações, se outras táticas forem usadas para gerar e preservar a diversidade genética", disse Baumann à Folha. O estudo foi publicado na semana passada na revista científica "Nature".
A partenogênese ("nascimento virgem", em grego) ocorre em plantas e animais, incluindo vespas, peixes, salamandras e répteis, mas não há casos entre mamíferos.
"Se estima que 0,1% das espécies multicelulares se reproduzem via partenogênse", diz Baumann. "Nos lagartos com que trabalhamos há uma incidência muito alta. Cerca de um terço das 50 espécies próximas são partenogenéticas."
O porquê disso é algo que ainda se pesquisa.
"Se um animal está bem adaptado ao seu ambiente e este não muda muito, a diversidade genética dentro da espécie se torna muito menos importante do que o grau de reprodução. Uma espécie partenogenética pode se reproduzir mais rápido porque cada indivíduo pode ter crias e não se gasta nem tempo nem energia na busca de um parceiro", afirma Baumann.
Isso ajuda as explicar o porquê de espécies partenogenéticas conseguirem se espalhar e competir com as sexuais em alguns habitats. Basta uma fêmea para colonizar uma ilha, enquanto seria preciso um macho e uma fêmea para fazer o mesmo na espécie sexuada -e eles teriam de se encontrar e "gostar" um do outro.


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