UOL


São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

Texto Anterior | Índice

SAÚDE

Agente da pneumonia asiática isolado de pacientes humanos causa sintomas semelhantes em pulmões de primatas

Macaco atesta que coronavírus é culpado

LAWRENCE K. ALTMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Macacos infectados experimentalmente com o novo coronavírus desenvolveram uma doença similar à misteriosa pneumonia asiática, também conhecida pela abreviação Sars [síndrome respiratória aguda grave, em inglês". Agora, é quase certo que o coronavírus causa a doença, disse um representante da Organização Mundial da Saúde (OMS).
David L. Heymann, diretor-executivo encarregado de doenças transmissíveis da OMS, afirmou que a agência está 99% segura de que a pneumonia asiática é causada pelo novo coronavírus, com base em experimentos com macacos realizados na Holanda. Experimentos com animais são necessários porque a falta de um tratamento eficaz contra a Sars e a alta taxa de mortalidade tornam antiético conduzir tais experimentos com seres humanos.
Resultados preliminares indicam que os macacos desenvolveram uma doença similar à Sars depois que o coronavírus foi depositado em suas narinas. Alguns dos primatas desenvolveram pneumonia, e o exame de seus pulmões sob microscópio revelou um padrão de lesões semelhante àquele manifestado em humanos.
Os experimentos com macacos são essenciais para cumprir os passos conhecidos como postulados de Koch, necessários para estabelecer a prova de que um vírus ou um micróbio causa uma doença. Na aplicação dos postulados à pneumonia asiática, os cientistas têm de determinar se a injeção de coronavírus em animais causa sintomas similares àqueles experimentados por humanos.
Verificar a causa da Sars é essencial para o desenvolvimento de testes de diagnóstico confiáveis para determinar quem tem a doença, para que pacientes afetados possam ser tratados em isolamento e aqueles não afetados possam prosseguir com suas atividades normais.
Até ontem, a doença tinha afetado 3.293 pessoas e provocado a morte de 159, em 22 países e Hong Kong. A taxa de mortalidade subiu de 4% para 5% recentemente.
Ainda não está claro se a Sars tem potencial para provocar uma epidemia de escala planetária e se tornar uma causa permanente de doença, como a tuberculose, disse Heymann. "Não podemos fazer previsões até que entendamos o que está acontecendo na China."

Sigilo criticado
A China tem sofrido críticas de várias partes do mundo por não relatar de modo completo -até as últimas semanas- o número de casos registrados desde novembro e por não ter permitido que equipes internacionais de especialistas visitassem as áreas afetadas, até pouco tempo atrás.
Apesar da promessa da China de relatar todos os casos da pneumonia, nos últimos dias médicos chineses têm denunciado que haviam tratado muitos casos em hospitais militares que o governo chinês não teria notificado à OMS. A equipe de especialistas da agência vinha tendo seu acesso negado a esses hospitais, mas anteontem a OMS anunciou que o grupo visitou um hospital militar em Pequim e que contava com visitas a outros em breve.
A decisão do governo chinês de dar acesso aos hospitais militares é "uma indicação bem-vinda da disposição da China de controlar o surto de Sars no continente", afirmou a OMS. Na segunda-feira, o presidente da China, Hu Jintao, havia dito na TV estatal que estava "muito preocupado".
Heymann disse que a China criou um sistema nacional de notificação sobre a pneumonia, nas últimas três semanas, e elevou o status da doença ao de cólera e febre amarela, para as quais o governo pode impor quarentenas.
Só em Hong Kong morreram nove pessoas com Sars, anteontem, o que representou um novo recorde diário de casos fatais. Cinco desses mortos eram pessoas com menos de 45 anos, inclusive uma grávida e quatro pacientes sem quaisquer outras moléstias. No mesmo dia, a cidade de Xangai impôs pela primeira vez na China restrições de viagem, ordenando a interrupção de excursões para Hong Kong.
Até o momento, os Estados Unidos notificaram à OMS 193 casos de pneumonia asiática, sem a ocorrência de mortes. Com exceção de 19, todos envolviam pessoas que haviam viajado para áreas afetadas. Esses 19 casos representam transmissão secundária para 14 pessoas da própria família e 5 para profissionais do setor de saúde. A expectativa nos EUA é de que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) diminuam o total oficial de casos de Sars, nas próximas semanas, para cerca de 30. Os CDC empregaram deliberadamente uma definição mais abrangente de casos de pneumonia asiática do que a da OMS, para não deixar escapar casos menos graves.


Texto Anterior: Prontos para voar
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.