São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

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Célula pervertida causa doença nervosa

Esclerose lateral amiotrófica surge quando célula que deveria nutrir neurônio fabrica toxina contra ele, dizem estudos

Síndrome degenerativa e incurável tem no físico inglês Stephen Hawking sua vítima mais famosa; estudo pode levar a diagnóstico

DA REUTERS

As células que deveriam nutrir e dar suporte aos neurônios humanos são às mesmas que desencadeiam a esclerose lateral amiotrófica (ELA), um dos tipos mais agressivos de degeneração nervosa. A descoberta, que coloca a ciência um passo à frente no longo caminho de elaborar um tratamento eficaz contra a doença, foi anunciada no domingo em dois estudos na revista "Nature Neuroscience" (www.nature.com/neuro).
A ELA mata aos poucos os neurônios do sistema motor de suas vítimas, levando a uma paralisia generalizada dos músculos e, em geral, à morte. A doença ficou conhecida do público após ter deixado sem movimentos o físico britânico Stephen Hawking, em quem a degeneração cessou antes de comprometer órgãos vitais.
O que os cientistas anunciam agora é que os astrócitos, células de suporte e nutrição dos neurônios, ficam tóxicos quando carregam a versão mutante de um gene chamado SOD1. Esse trecho de DNA já havia sido implicado na incidência de ELA, mas como a proteína codificada por ele não se mostrou tóxica em estudos feitos só com os neurônios, isolados dos astrócitos, os médicos ainda não entendiam sua ação.
Em um dos estudos publicados agora, o grupo de Serge Przedborski, da Universidade Columbia, de Nova York, mostrou o que acontece. As proteínas fabricadas a partir do SOD1 mutante fazem um dos nutrientes fabricado pelos astrócitos virar um veneno, que só mata os neurônios motores.
"Acreditava-se que os astrócitos eram meros espectadores assistindo a neurônios motores morrerem na sua vizinhança", disse Przedborski. "Com esses resultados, aprendemos que eles não são apenas platéia, mas atores importantes."
Se a proteína degenerada que intoxica os neurônios for identificada, ela se tornará um alvo para novas drogas contra a ELA, diz o cientista.

Células-tronco
Os estudos publicados anteontem usaram células-tronco (aquelas que têm a capacidade de se diferenciar em vários tipos de tecido) de camundongos para criar tecidos vivos que reproduziam a doença em laboratório. A técnica também pode ajudar a testar tratamentos.
"Estes estudos são uma prova de princípio", diz Kevin Eggan, da Universidade Harvard, líder do outro estudo. "Com células-tronco embrionárias que carregam os genes de uma doença -neste caso a ELA- é possível criar uma quantidade ilimitada de células afetadas pela doença e estudar como ela ocorre." Segundo Eggan, a descoberta pode resultar na criação de um diagnóstico precoce.


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