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Célula pervertida causa doença nervosa
Esclerose lateral amiotrófica surge quando célula que deveria nutrir neurônio fabrica toxina contra ele, dizem estudos
Síndrome degenerativa e
incurável tem no físico
inglês Stephen Hawking sua
vítima mais famosa; estudo
pode levar a diagnóstico
DA REUTERS
As células que deveriam nutrir e dar suporte aos neurônios
humanos são às mesmas que
desencadeiam a esclerose lateral amiotrófica (ELA), um dos
tipos mais agressivos de degeneração nervosa. A descoberta,
que coloca a ciência um passo à
frente no longo caminho de elaborar um tratamento eficaz
contra a doença, foi anunciada
no domingo em dois estudos na
revista "Nature Neuroscience"
(www.nature.com/neuro).
A ELA mata aos poucos os
neurônios do sistema motor de
suas vítimas, levando a uma paralisia generalizada dos músculos e, em geral, à morte. A doença ficou conhecida do público
após ter deixado sem movimentos o físico britânico Stephen Hawking, em quem a degeneração cessou antes de
comprometer órgãos vitais.
O que os cientistas anunciam
agora é que os astrócitos, células de suporte e nutrição dos
neurônios, ficam tóxicos quando carregam a versão mutante
de um gene chamado SOD1.
Esse trecho de DNA já havia sido implicado na incidência de
ELA, mas como a proteína codificada por ele não se mostrou
tóxica em estudos feitos só com
os neurônios, isolados dos astrócitos, os médicos ainda não
entendiam sua ação.
Em um dos estudos publicados agora, o grupo de Serge
Przedborski, da Universidade
Columbia, de Nova York, mostrou o que acontece. As proteínas fabricadas a partir do SOD1
mutante fazem um dos nutrientes fabricado pelos astrócitos virar um veneno, que só
mata os neurônios motores.
"Acreditava-se que os astrócitos eram meros espectadores
assistindo a neurônios motores
morrerem na sua vizinhança",
disse Przedborski. "Com esses
resultados, aprendemos que
eles não são apenas platéia,
mas atores importantes."
Se a proteína degenerada
que intoxica os neurônios for
identificada, ela se tornará um
alvo para novas drogas contra a
ELA, diz o cientista.
Células-tronco
Os estudos publicados anteontem usaram células-tronco (aquelas que têm a capacidade de se diferenciar em vários
tipos de tecido) de camundongos para criar tecidos vivos que
reproduziam a doença em laboratório. A técnica também pode
ajudar a testar tratamentos.
"Estes estudos são uma prova de princípio", diz Kevin Eggan, da Universidade Harvard,
líder do outro estudo. "Com células-tronco embrionárias que
carregam os genes de uma
doença -neste caso a ELA- é
possível criar uma quantidade
ilimitada de células afetadas
pela doença e estudar como ela
ocorre." Segundo Eggan, a descoberta pode resultar na criação de um diagnóstico precoce.
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