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MEDICINA
Terapia genética hepática testada em Israel trata camundongos diabéticos, substituindo as funções do pâncreas
Célula do fígado turbinada produz insulina
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O fígado pode fazer o papel do
pâncreas em certos casos. É o que
sugere uma pesquisa realizada em
Israel. Os cientistas conseguiram,
em laboratório, converter células
hepáticas em produtoras de insulina, e acreditam que a técnica
possa futuramente ser usada no
combate ao diabetes tipo 1.
O estudo já resultou em tratamento -mas só de camundongos. Os roedores diabéticos tiveram melhora em sua condição de
hiperglicemia (excesso de açúcar
no sangue) por 60 dias, depois de
tratados com células do fígado
modificadas para esse fim.
Quem fez o serviço de "conversão" de células foi um usual vilão
do dia-a-dia, um adenovírus, causador de resfriados. Os cientistas
tiraram dele seus genes originais e
colocaram no lugar uma cópia de
um gene humano ligado à função
de produção de insulina das células beta, do pâncreas.
Depois disso, "infectaram" a
cultura de células hepáticas extraídas de um ser humano com o
vírus. O procedimento fez com
que as células se convertessem em
"beta", produtoras de insulina
-substância que regula a presença de açúcar no organismo.
O próximo passo lógico seria
reinjetar essas células de volta no
paciente, onde elas se comportariam como produtoras de insulina substitutas das células inutilizadas do pâncreas. Mas os cientistas liderados por Sarah Ferber, do
Centro Médico Sheba, ainda não
foram tão longe. Fizeram isso
apenas com camundongos, e os
resultados foram animadores.
"Induzir o redirecionamento de
desenvolvimento do fígado adulto oferece o potencial para uma
terapia de substituição de células
para diabéticos, permitindo que o
paciente seja o doador do seu próprio tecido produtor de insulina",
escreveram os cientistas, em artigo publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos
EUA, a "PNAS" (www.pnas.org).
O diabetes tipo 1 ocorre cedo na
vida, por conta de uma falha do
sistema imunológico -ele não
reconhece as células produtoras
de insulina como pertencentes ao
organismo e as ataca. Resultado: o
sujeito já não pode mais controlar
os níveis de açúcar no sangue com
a insulina feita no pâncreas.
O tratamento hoje consiste em
injeções regulares de insulina.
Técnicas para cura da doença
existem, mas têm sucesso relativo. Uma das mais eficientes é o
transplante de células do pâncreas de um indivíduo morto.
Mas a técnica envolve todos risco
de rejeição e não pode servir a todos -há mais diabéticos do que
cadáveres disponíveis.
A nova técnica contorna esses
problemas, mas traz polêmicas
adicionais, pois faz uso de terapia
genética, tendo por "instrumento" um vírus. "A questão da geneterapia é um tópico quente", comentam Irene Cozar-Castellano e
Andrew Stewart, da Universidade
de Pittsburgh, EUA, na "PNAS".
"Os adenovírus adquiriram uma
má reputação como vetores de terapia genética porque induzem
respostas imunes nos hospedeiros." Ou seja, o organismo detecta
sua presença e tenta eliminá-lo.
Com camundongos, a técnica
teve sucesso nos 60 dias em que os
cientistas monitoraram os animais. O período terá de ser ampliado em novos testes. "Sessenta
dias podem ser um bom tempo na
vida de um camundongo, mas o
diabetes tipo 1 em humanos é
uma doença de várias décadas",
dizem os cientistas de Pittsburgh.
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