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Estudo vê explosão de vida na Antártida
A bordo de navio alemão, grupo acha mais de 800 novas espécies marinhas entre 748 m e 6.348 m de profundidade
Análise genética mostra
que algumas espécies do sul
migraram até o Ártico, o
que faz a região ser uma
exportadora de diversidade
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Antártida também tem sua
região rica em biodiversidade.
A revelação vem a partir de
uma campanha oceanográfica
realizada nas águas geladas do
mar de Weddell e em áreas próximas. As coletas, feitas em
profundidades que variaram de
748 m a 6.348 m, trouxeram para o convés do navio alemão Polarstern milhares de exemplares marinhos. Após a triagem,
uma grande surpresa.
O grupo de pesquisadores,
que teve a participação de uma
brasileira, a especialista em ostracodes (crustáceos microscópicos) Simone Brandão, conseguiram identificar mais de
1.400 espécies. Mais de 800 delas ainda não haviam sido descritas pela ciência.
"É correto dizer que a região
não havia sido muito bem estudada até agora. Mas isso não invalida a nossa surpresa. A vida
lá, apesar de não ser abundante,
apresenta uma diversificação
enorme", disse à Folha a pesquisadora Angelika Brandt, do
Museu de Zoologia de Hamburgo, autora principal do artigo, publicado hoje na revista
"Nature" (www.nature.com).
Segundo Brandt, apenas a
análise de um grupo encontrado nas águas geladas é suficiente para mostrar o peso dos
achados científicos. "A prospecção encontrou mais novas
espécies de isópodes [pequenos crustáceos desprovidos de
carapaça] do que havia sido
identificado durante todo o século passado na plataforma
continental antártica."
Esponjas carnívoras
Além de ostracodes e isópodes, foram catalogadas novas
espécies de foraminíferos (microrganismos com carapaça
calcária), vermes, poliquetas
(parentes da minhoca), moluscos e esponjas marinhas -algumas delas carnívoras.
Todas essas espécies de invertebrados estudadas, além
dos foraminíferos, vivem ou sobre o solo marinho ou entre os
grãos de areia. O estudo não
analisou outras espécies desses
mesmos grupos que costumam
viver na coluna d"água.
Não foi apenas a quantidade
de formas diferentes de vida
que chamou a atenção dos pesquisadores. A maneira como
elas se relacionam com as áreas
vizinhas, e até com o Ártico,
também é interessante.
"É bem provável que o oceano Austral seja um centro de
biodiversidade", explica
Brandt. Segundo a pesquisadora da Alemanha, o comportamento descoberto agora de algumas espécies de foraminíferos ilustra bem essa situação.
"Um desses grupos, que tipicamente reside em áreas mais
rasas (entre 18 m e 28 m), apresenta no oceano Austral uma
ocorrência em regiões muito
mais profundas (1.080 m) do
que já havia sido registrado antes, em outras zonas costeiras",
explica Brandt. Para ela, isso
prova que a migração de águas
rasas para águas profundas naquela parte do mundo é bem
maior do que em outros locais.
Exportação
Os cientistas também detectaram migração de foraminíferos no sentido oposto: uma espécie que vive normalmente a
5.000 m de profundidade também foi encontrada a 314 m.
Mas esses deslocamentos,
diz Brandt, também ocorrem
entre grandes distâncias.
"O fato de as águas profundas
da Antártida fluírem para o
norte faz com que as larvas das
várias espécies da região possam ser distribuídas". E, mais
uma vez, os foraminíferos entram em questão. "Eles nos trazem evidências [genéticas] de
que existe uma migração das
espécies da Antártida para o
Ártico", disse. Outras criaturas
seguiram o mesmo caminho.
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