São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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Estudo vê explosão de vida na Antártida

A bordo de navio alemão, grupo acha mais de 800 novas espécies marinhas entre 748 m e 6.348 m de profundidade

Análise genética mostra que algumas espécies do sul migraram até o Ártico, o que faz a região ser uma exportadora de diversidade

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Antártida também tem sua região rica em biodiversidade. A revelação vem a partir de uma campanha oceanográfica realizada nas águas geladas do mar de Weddell e em áreas próximas. As coletas, feitas em profundidades que variaram de 748 m a 6.348 m, trouxeram para o convés do navio alemão Polarstern milhares de exemplares marinhos. Após a triagem, uma grande surpresa.
O grupo de pesquisadores, que teve a participação de uma brasileira, a especialista em ostracodes (crustáceos microscópicos) Simone Brandão, conseguiram identificar mais de 1.400 espécies. Mais de 800 delas ainda não haviam sido descritas pela ciência.
"É correto dizer que a região não havia sido muito bem estudada até agora. Mas isso não invalida a nossa surpresa. A vida lá, apesar de não ser abundante, apresenta uma diversificação enorme", disse à Folha a pesquisadora Angelika Brandt, do Museu de Zoologia de Hamburgo, autora principal do artigo, publicado hoje na revista "Nature" (www.nature.com).
Segundo Brandt, apenas a análise de um grupo encontrado nas águas geladas é suficiente para mostrar o peso dos achados científicos. "A prospecção encontrou mais novas espécies de isópodes [pequenos crustáceos desprovidos de carapaça] do que havia sido identificado durante todo o século passado na plataforma continental antártica."

Esponjas carnívoras
Além de ostracodes e isópodes, foram catalogadas novas espécies de foraminíferos (microrganismos com carapaça calcária), vermes, poliquetas (parentes da minhoca), moluscos e esponjas marinhas -algumas delas carnívoras.
Todas essas espécies de invertebrados estudadas, além dos foraminíferos, vivem ou sobre o solo marinho ou entre os grãos de areia. O estudo não analisou outras espécies desses mesmos grupos que costumam viver na coluna d"água.
Não foi apenas a quantidade de formas diferentes de vida que chamou a atenção dos pesquisadores. A maneira como elas se relacionam com as áreas vizinhas, e até com o Ártico, também é interessante.
"É bem provável que o oceano Austral seja um centro de biodiversidade", explica Brandt. Segundo a pesquisadora da Alemanha, o comportamento descoberto agora de algumas espécies de foraminíferos ilustra bem essa situação.
"Um desses grupos, que tipicamente reside em áreas mais rasas (entre 18 m e 28 m), apresenta no oceano Austral uma ocorrência em regiões muito mais profundas (1.080 m) do que já havia sido registrado antes, em outras zonas costeiras", explica Brandt. Para ela, isso prova que a migração de águas rasas para águas profundas naquela parte do mundo é bem maior do que em outros locais.

Exportação
Os cientistas também detectaram migração de foraminíferos no sentido oposto: uma espécie que vive normalmente a 5.000 m de profundidade também foi encontrada a 314 m.
Mas esses deslocamentos, diz Brandt, também ocorrem entre grandes distâncias.
"O fato de as águas profundas da Antártida fluírem para o norte faz com que as larvas das várias espécies da região possam ser distribuídas". E, mais uma vez, os foraminíferos entram em questão. "Eles nos trazem evidências [genéticas] de que existe uma migração das espécies da Antártida para o Ártico", disse. Outras criaturas seguiram o mesmo caminho.


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