São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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Astro semelhante à Terra possui órbita estável, afirmam cientistas

DA REPORTAGEM LOCAL

Até agora, mais de 90 planetas extra-solares já foram encontrados -todos gigantes gasosos, como Júpiter. Mais ainda, a maioria dos sistemas planetários catalogados apresenta configurações tão exóticas, com os planetas tão próximos da estrela ou em órbitas tão achatadas, que muitos cientistas achavam difícil imaginar que possa haver por lá mundos habitáveis. Mas a maré está mudando.
Em um estudo publicado na última edição da revista "The Astrophysical Journal", o físico Matthew Noble e seus colegas, da Universidade do Texas em Arlington, nos EUA, analisaram três sistemas estelares já conhecidos, na esperança de verificar se há órbitas estáveis para planetas rochosos na famosa zona habitável.
Esse nome sugestivo foi dado pelos astrônomos para determinar a área de um sistema planetário em que um planeta rochoso (como a Terra, diferentemente dos gigantes gasosos, como Júpiter) seria capaz de manter água líquida na superfície. No Sistema Solar, os extremos dessa região seriam demarcados pelas órbitas de Vênus e Marte (a Terra fica posicionada bem no meio).
As três estrelas estudadas por Noble com simulações foram escolhidas para representar bem os padrões exóticos dos sistemas planetários já encontrados.
A estrela 47 UMa, na constelação de Ursa Maior, tem dois planetas gigantes, posicionados um pouco além da zona habitável. Já a 51 Peg (da constelação de Pégaso) possui um gigante girando rapidamente, bem colado à estrela. Finalmente, a estrela HD 210277, perto da constelação de Aquário, possui um gigante em uma órbita bem achatada, com meio percurso dentro da zona habitável.
Com as análises, os cientistas descobriram que em dois dos três casos há órbitas estáveis e viáveis para planetas na região habitável. O único sistema totalmente inviável é o da HD 210277 -o percurso do planeta gigante pela zona habitável varreria do mapa qualquer planeta que estivesse por lá.
No caso da 47 UMa, as órbitas estáveis se encontram na região mais interna da zona habitável. Finalmente, em 51 Peg, o gigante colado à estrela nem chega a incomodar, tornando toda a zona habitável viável para planetas.
Apesar do bom resultado estatístico, ainda não se pode afirmar com certeza que planetas como a Terra estáveis são comuns em outras estrelas. Um dos opositores da idéia de que há Terras aos montes é Donald Brownlee, astrônomo da Universidade de Washington que escreveu com o geólogo Peter Ward o livro "Sós no Universo?", que questiona a possibilidade de vida inteligente fora daqui. E ele mantém a opinião.
"O método de Noble só é preciso para o curto prazo", disse Brownlee à Folha. "A maioria das simulações de longo prazo mostrou que planetas da Zona Habitável são instáveis a não ser que os gigantes estejam a 3 unidades astronômicas (três vezes a distância distância Terra-Sol)."
Para Brownlee, o caso de 51 Peg é interessante. "Mas é provável que sistemas com gigantes colados à estrela tenham se formado por migração orbital. Planetas como a Terra teriam sido atirados de suas órbitas quando o gigante adentrasse a região." (SN)


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