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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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55ª SBPC

Novo presidente da SBPC critica ministério

ANTÔNIO GOIS
RAFAEL CARIELLO


ENVIADOS ESPECIAIS A RECIFE

O físico Ennio Candotti assumiu ontem a presidência da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) com uma postura crítica em relação à atuação do MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia). Para ele, a atual gestão do ministério é insegura e tem "levado gols" com frequência.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do ministro Roberto Amaral afirmou que a ciência não deve ser "chapa branca" e que sempre há espaço no ministério para críticas, "até as injustas". Amaral e Candotti se encontram amanhã, no encerramento da reunião.
Candotti, 61, professor da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) assumiu ontem a presidência em assembléia na 55ª Reunião Anual da SBPC, que acontece em Recife. Ele sucede a bioquímica Glaci Zancan para um mandato de dois anos.
"Eu vejo insegura a administração do próprio ministério. Toda hora eles levam gol. Agora mesmo, quando se discutiu o destino dos fundos setoriais, isso não deveria nem ser cogitado", disse Candotti em entrevista à Folha.
A discussão sobre o destino dos fundos setoriais aconteceu anteontem, na SBPC, quando foi divulgado que técnicos do Ministério do Planejamento queriam pulverizar os fundos entre os ministérios (leia texto ao lado).
O novo presidente da SBPC critica também o contingenciamento de recursos desses fundos, que têm como objetivo desenvolver a pesquisa. "Metade dos recursos dos fundos está contingenciado. Isso não deveria ser assim. Se tivéssemos esclarecido e definido com clareza as prioridades para a ciência e tecnologia, esse recurso deveria ser respeitado."
Outro receio dele sobre a atuação do MCT é o de uma descontinuidade. "Vejo uma dificuldade de dar continuidade àquilo que já havia sido feito, e que foi feito com a participação da sociedade científica. O que se faz em ciência e tecnologia não se recomeça. Ao querer mudar muito, corremos o risco de desarrumar aquilo que foi feito e não criar nada de novo. Não vi essa capacidade de dar continuidade com a segurança e firmeza necessárias para que a atividade de fato ocorra."
Segundo Candotti, um dos papéis da SBPC neste momento é o de criar um MCT forte, "que saiba aglutinar esforços com outros ministérios". Ele diz que a entidade terá sempre uma posição construtiva, mas ressalva que o problema não está no discurso do ministério, mas na prática.
Para o físico, esse dilema de construir o novo sem destruir o que já está consolidado vale para as sugestões de desenvolvimento da ciência em Estados mais pobres, nas regiões Norte e Nordeste. Ele diz ainda que, além de ser preciso pensar no Norte e no Nordeste, é necessário também levar em conta que há áreas do Sul e do Sudeste nas quais a ciência também precisa se desenvolver.

Previdência
No final da noite de ontem, a assembléia geral da SBPC também aprovou, por unanimidade, uma moção de repúdio contra a reforma da previdência. A moção afirma que a entidade não se coloca contra uma reforma em si, mas pede o debate sobre a proposta no âmbito da sociedade, pois da forma como está posta, ela prejudica o ensino e a pesquisa.


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