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55ª SBPC
Novo presidente da SBPC critica ministério
ANTÔNIO GOIS
RAFAEL CARIELLO
ENVIADOS ESPECIAIS A RECIFE
O físico Ennio Candotti assumiu ontem a presidência da SBPC
(Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) com uma postura crítica em relação à atuação
do MCT (Ministério de Ciência e
Tecnologia). Para ele, a atual gestão do ministério é insegura e tem
"levado gols" com frequência.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do ministro
Roberto Amaral afirmou que a
ciência não deve ser "chapa branca" e que sempre há espaço no
ministério para críticas, "até as injustas". Amaral e Candotti se encontram amanhã, no encerramento da reunião.
Candotti, 61, professor da Ufes
(Universidade Federal do Espírito
Santo) assumiu ontem a presidência em assembléia na 55ª Reunião Anual da SBPC, que acontece em Recife. Ele sucede a bioquímica Glaci Zancan para um mandato de dois anos.
"Eu vejo insegura a administração do próprio ministério. Toda
hora eles levam gol. Agora mesmo, quando se discutiu o destino
dos fundos setoriais, isso não deveria nem ser cogitado", disse
Candotti em entrevista à Folha.
A discussão sobre o destino dos
fundos setoriais aconteceu anteontem, na SBPC, quando foi divulgado que técnicos do Ministério do Planejamento queriam
pulverizar os fundos entre os ministérios (leia texto ao lado).
O novo presidente da SBPC critica também o contingenciamento de recursos desses fundos, que
têm como objetivo desenvolver a
pesquisa. "Metade dos recursos
dos fundos está contingenciado.
Isso não deveria ser assim. Se tivéssemos esclarecido e definido
com clareza as prioridades para a
ciência e tecnologia, esse recurso
deveria ser respeitado."
Outro receio dele sobre a atuação do MCT é o de uma descontinuidade. "Vejo uma dificuldade
de dar continuidade àquilo que já
havia sido feito, e que foi feito
com a participação da sociedade
científica. O que se faz em ciência
e tecnologia não se recomeça. Ao
querer mudar muito, corremos o
risco de desarrumar aquilo que
foi feito e não criar nada de novo.
Não vi essa capacidade de dar
continuidade com a segurança e
firmeza necessárias para que a atividade de fato ocorra."
Segundo Candotti, um dos papéis da SBPC neste momento é o
de criar um MCT forte, "que saiba
aglutinar esforços com outros ministérios". Ele diz que a entidade
terá sempre uma posição construtiva, mas ressalva que o problema não está no discurso do ministério, mas na prática.
Para o físico, esse dilema de
construir o novo sem destruir o
que já está consolidado vale para
as sugestões de desenvolvimento
da ciência em Estados mais pobres, nas regiões Norte e Nordeste. Ele diz ainda que, além de ser
preciso pensar no Norte e no Nordeste, é necessário também levar
em conta que há áreas do Sul e do
Sudeste nas quais a ciência também precisa se desenvolver.
Previdência
No final da noite de ontem, a assembléia geral da SBPC também
aprovou, por unanimidade, uma
moção de repúdio contra a reforma da previdência. A moção afirma que a entidade não se coloca
contra uma reforma em si, mas
pede o debate sobre a proposta no
âmbito da sociedade, pois da forma como está posta, ela prejudica
o ensino e a pesquisa.
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