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Mutação torna africanos mais suscetíveis ao HIV
Variação no DNA facilita infecção, mas faz sintomas surgirem mais lentamente
Alteração genética está em 90% da população da África subsaariana e surgiu com
a evolução para proteger pessoas contra a malária
Divulgação
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Fotografia de microscópio mostra HIV atacando glóbulo branco
DA REDAÇÃO
Uma mutação genética que
surgiu há milhares de anos na
África para proteger as pessoas
da malária pode, por outro lado, tornar seus portadores mais
vulneráveis à infecção por HIV.
Uma vez expostas ao vírus, essas pessoas o contraem com
mais facilidade, mas também
resistem a ele por mais tempo
antes de seus organismos sucumbirem à Aids.
A descoberta, descrita ontem
por cientistas dos EUA e do
Reino Unido no periódico científico "Cell Host & Microbe",
pode explicar porque a Aids
tem castigado a África mais do
que todas as outras partes do
mundo. Segundo os pesquisadores, 90% das pessoas na África subsaariana têm essa variante do gene, e cerca de 60% dos
norte-americanos afrodescendentes também o possuem.
O estudo, liderado pelo infectologista Sunil Ahuja, da Universidade do Texas, afirma que
o comportamento sexual e a
falta de médicos não podem explicar sozinhos a concentração
da epidemia. Hoje, mais de dois
terços dos 33 milhões de soropositivos do mundo vivem na
África subsaariana.
Pessoas com a variação genética recém-identificada têm
risco 40% maior de serem infectadas pelo HIV. Apesar de
ela proteger contra a malária,
se ela não existisse a epidemia
de Aids na África seria 11% menor, estimam os pesquisadores.
Dos 2,1 milhões de pessoas
que morreram de Aids no mundo ano passado, 1,6 milhão
eram da África subsaariana.
A mutação descoberta por
Ahuja e seus colaboradores
cancela a produção de uma proteína que recobre a superfície
dos glóbulos vermelhos do sangue. Apesar de ela facilitar a circulação do HIV de pessoa para
pessoa, ela ajuda o organismo a
combater o vírus e retardar o
aparecimento dos sintomas da
Aids. Os soropositivos portadores da mutação vivem em média dois anos a mais que os outros. Para a epidemiologia, diz
Ahuja, essa variação do DNA é
uma "faca de dois gumes".
Alarme desligado
A proteína ligada ao gene foi
batizada como Darc. Ela é uma
espécie de "fechadura" molecular que abre uma "porta" de
entrada nas células. Sem a fechadura, de nada adianta um
dos parasitas da malária, o Plasmodium vivax, ter a "chave" para abri-la, e por isso a mutação
protege contra essa doença.
Como a malária é endêmica
na África, a mutação surgiu e se
espalhou com o tempo porque
a população local evoluiu para
adquirir resistência. "Isso provavelmente foi há milhares de
anos", diz Robin Weiss, co-autora do estudo de Ahuja.
Em relação ao HIV, porém, o
efeito é inverso. A Darc ajuda a
emitir as chamadas citocinas
-moléculas que dão sinais ao
sistema imunológico para ampliar as defesas contra o vírus.
Quando a proteína está ausente, o HIV se beneficia e trafega
no sangue sem ser delatado.
Os pesquisadores fizeram a
descoberta em negros americanos e não na população da África. Eles observaram 1.266 soropositivos na Força Aérea dos
EUA, registrados desde a década de 1980, bem como 2.000
pessoas não infectadas. Eles
descobriram que a variante é
muito mais comum entre os
negros americanos portadores
do HIV do que entre aqueles
que não o contraíram.
Apenas uma pequena proporção das pessoas de ascendência não-africana carregava
essa mutação genética.
Com Reuters
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