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Estudo revê colapso da corrente do Golfo
Medo de que o aquecimento global "desligue" o fluxo oceânico que leva calor à Europa pode ser exagerado, diz análise
Circulação das águas do
Atlântico Norte sofre uma
grande variação sazonal, e
não é possível distinguir
efeito do clima sobre ela
Stuart Cunningham e Torsten Kanzow
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Grupo instala bóia com equipamento de medição nas Bahamas |
DA REPORTAGEM LOCAL
Um efeito bizarro do aquecimento global que ameaça criar
uma "era do gelo regional" na
Europa pode não ser uma
ameaça tão grande quanto se
pensava, indica um novo estudo. Uma série de medições feitas sobre a corrente oceânica
que leva águas quentes do
Atlântico tropical à costa da
Europa mostra que seu fluxo
pode não estar desacelerando,
como temiam climatologistas.
Para quem não se lembra, o
problema é relatado no filme-catástrofe "O Dia Depois de
Amanhã" (2004), que mostra
todo o hemisfério Norte mergulhando no gelo com o desligamento daquela corrente. O
efeito também é citado no documentário "Uma Verdade Inconveniente". Mas um grupo
de pesquisadores que instalou
uma grande rede de equipamentos de medição ao longo do
Atlântico Norte diz que o fenômeno é mais complexo. Segundo os cientistas, a variação sazonal de temperatura, pressão
e outros parâmetros da chamada "corrente do Golfo" é maior
do que se pensava. O fluxo da
corrente pode diminuir ou aumentar em até 8 vezes durante
um ano, diz o novo estudo.
Isso põe em questão vários
estudos que se baseavam em
medições esparsas sobre o que
está acontecendo com as águas
que vão do Caribe ao Ártico. Essa é a corrente que, depois de
resfriada, desce ao fundo do
oceano, por onde retorna para
o sul (veja ilustração abaixo).
O problema é que, como os
dados coletados até hoje são
poucos, uma variação sazonal
pode induzir os cientistas a
pensarem que ela é uma mudança de longo prazo impulsionada pelo aquecimento global.
Os novos dados trazem mais
dúvidas do que certezas e não
são um álibi para eximir a crise
do clima da culpa por qualquer
alteração oceânica. "Acho que é
muito cedo para dizer", afirma
Stuart Cunningham, do Centro
Nacional de Oceanografia do
Reino Unido, instituição que liderou um dos dois estudos sobre o problema publicados hoje
na revista "Science". "Basicamente, as observações anteriores eram estimativas instantâneas, e há muita incerteza associada à interpretação delas."
Rendido aos fatos
Stuart e dois de seus colegas
que co-assinam os dois estudos
talvez sejam o mais "prejudicados" pela descoberta de que a
dinâmica das correntes do
Atlântico é mais complicada do
que se imaginava. Eles foram
autores também de um trabalho de 2005 na revista "Nature"
que apontou a desaceleração da
corrente do Golfo. Agora o britânico revê a própria pesquisa.
Os dados usados no novo estudo, coletados entre as Bahamas e a África, incluem temperatura, pressão e salinidade da
corrente. Tudo foi feito sem interrupção entre março de 2003
e maio de 2004. Os ventos, que
influenciam o fluxo de superfície, também foram analisados.
Ainda assim, a informação é
pouca para tirar uma conclusão
sobre o efeito da mudança climática na circulação oceânica.
Acentuando a dúvida, há simulações de computador sobre o
futuro do clima que apontam o
colapso da corrente do Golfo.
"Fundamentalmente, precisamos de séries de dados mais
longas sobre a alternância [da
corrente] para definir sua variação entre os anos", escrevem
Cunningham e colegas. "Dez
anos de medidas ininterruptas
poderiam garantir que quaisquer ciclos sazonais sejam bem
definidos e separados da natureza de variações interanuais,
sejam elas oscilações, tendências ou mudanças súbitas."
Os aparelhos instalados no
Atlântico, prometem os britânicos, ficam ligados até 2014.
Com Reuters
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