São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

saiba mais

Quilombolas vivem em "grande família"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALCÂNTARA (MA)

Casamentos consangüíneos transformaram as comunidades quilombolas de Alcântara em aglomerados familiares.
Isolados pela floresta e pelo mar, os vilarejos são hoje territórios habitados por moradores com poucos sobrenomes diferentes. Nas casas de barro cobertas com folhas de palmeira, é comum encontrar casais formados por primos. "Quase todo mundo já tirou uma casquinha com um parente", diz o lavrador quilombola Domingos Santos Pinheiro, 42. "Tia eu tenho respeito, mas prima já namorei muito", afirma.
Pinheiro mora na comunidade de Mamuna, onde "todo mundo é parente", diz uma das mais antigas moradoras do local, a aposentada Isabel Pinheiro Mendes, 74.
Para a lavradora Venerável Silva Moraes, o isolamento é o que aproxima os familiares. Venerável vive há 14 anos com o primo Adrião Silva Moraes. Na família do casal, diz ela, há mais quatro primos casados com primas. "Não é que a gente só queira ficar com parente, mas é porque não tem muita pessoa para olhar", afirma.
O vilarejo de Mamuna é formado por 70 famílias. O local, que só recebeu energia elétrica há dois anos, é um dos principais focos de resistência à construção da base do foguete Cyclone-4.
A líder da comunidade, Militina Garcia Serejo, 46, casada por oito anos com um primo de segundo grau, atribui a força do grupo ao "espírito de união de família".
Para o integrante do Mabe (Movimento dos Atingidos pela Base Espacial), Danilo Serejo Lopes, os quilombolas reagem às tentativas de remoção "como qualquer família da cidade faria com quem invadisse sua casa".
Os grupos não se misturaram nem nas agrovilas, para onde foram transferidas as famílias removidas da área onde foi construída a base militar. Cada vilarejo ocupa uma rua.
(FG)



Texto Anterior: Novo centro espacial ainda é clareira na mata
Próximo Texto: +Marcelo Gleiser: Sobre a criatividade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.