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Quilombolas vivem em "grande família"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALCÂNTARA (MA)
Casamentos consangüíneos transformaram as comunidades quilombolas de
Alcântara em aglomerados
familiares.
Isolados pela floresta e pelo mar, os vilarejos são hoje
territórios habitados por
moradores com poucos sobrenomes diferentes. Nas casas de barro cobertas com folhas de palmeira, é comum
encontrar casais formados
por primos. "Quase todo
mundo já tirou uma casquinha com um parente", diz o
lavrador quilombola Domingos Santos Pinheiro, 42. "Tia
eu tenho respeito, mas prima
já namorei muito", afirma.
Pinheiro mora na comunidade de Mamuna, onde "todo mundo é parente", diz
uma das mais antigas moradoras do local, a aposentada
Isabel Pinheiro Mendes, 74.
Para a lavradora Venerável
Silva Moraes, o isolamento é
o que aproxima os familiares.
Venerável vive há 14 anos
com o primo Adrião Silva
Moraes. Na família do casal,
diz ela, há mais quatro primos casados com primas.
"Não é que a gente só queira
ficar com parente, mas é porque não tem muita pessoa
para olhar", afirma.
O vilarejo de Mamuna é
formado por 70 famílias. O
local, que só recebeu energia
elétrica há dois anos, é um
dos principais focos de resistência à construção da base
do foguete Cyclone-4.
A líder da comunidade,
Militina Garcia Serejo, 46,
casada por oito anos com um
primo de segundo grau, atribui a força do grupo ao "espírito de união de família".
Para o integrante do Mabe
(Movimento dos Atingidos
pela Base Espacial), Danilo
Serejo Lopes, os quilombolas
reagem às tentativas de remoção "como qualquer família da cidade faria com quem
invadisse sua casa".
Os grupos não se misturaram nem nas agrovilas, para
onde foram transferidas as
famílias removidas da área
onde foi construída a base
militar. Cada vilarejo ocupa
uma rua.
(FG)
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