São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Aura do Nobel se dissolve rápido para painel do clima

IPCC começa a preparar 5º Relatório de Avaliação com o desafio de fazer países agirem contra o aquecimento, mas sem ditar políticas

ANDREW C. REVKIN
DO "NEW YORK TIMES"

Dois anos atrás, uma reunião científica atraiu atenção mundial ao reportar que a atividade humana estava aquecendo o planeta de formas que poderiam afetar seriamente os assuntos e a natureza humanos.
O trabalho do grupo, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), dividiu o Prêmio Nobel da Paz de 2007 com o vice-presidente americano Al Gore.
Contudo, enquanto o painel se prepara para seu próximo relatório, especialistas avisam que ele poderia rapidamente perder relevância.
Embora o IPCC, fundado em 1988 e operando sob proteção das Nações Unidas, tenha colecionado prêmios e aclamações, há poucas evidências de que os países estejam fazendo algo a respeito de seus alertas. As emissões de gases-estufa aumentaram. Conversas sobre o novo tratado do clima permanecem basicamente travadas.
"O IPCC conseguiu a atenção mundial, mas agora o desafio é fazer o tigre seguir na direção correta", disse Michael MacCracken, antigo membro do painel e cientista-chefe do Climate Institute, um grupo sem fins lucrativos. "Para o IPCC, isso significa oferecer diretrizes que irão minimizar os impactos climáticos e maximizar os investimentos num futuro próspero e sustentável."
Ambientalistas afirmam que os relatórios do painel são atrapalhados pela exigência de que os governos patrocinadores aprovem seus resumos.
Alguns especialistas consideram que o IPCC fracassou em acompanhar o ritmo da explosão de pesquisas climáticas.
Ao mesmo tempo, cientistas que questionam a probabilidade de uma interferência calamitosa no clima da Terra, acusam o painel de escolher a dedo os estudos e subestimar os níveis de incerteza. Rajendra Pachauri, presidente do painel, rechaça a acusação de viés, apontando que todo o processo é pautado pelo "peer-review", ou revisão por pares -um mecanismo antifraude da ciência.
Todavia, ele reconhece os desafios que o grupo enfrenta ao traduzir ciência complexa de uma forma que produza reações significativas.
O painel não pode recomendar um curso de ação. Ele apenas aponta trajetórias de emissão de gases-estufa. Por exemplo, Pachauri apontou que enquanto os líderes do G8 prometeram, no mês passado, limitar o aquecimento global a 2C, eles não conseguiram adotar as reduções de emissões que o IPCC diz serem necessárias para manter a promessa.
Encontrar maneiras de direcionar nações sem ser prescritivo é dos focos principais do 5º Relatório de Avaliação, a ser lançado em 2014.
Uma meta para o próximo relatório é uma avaliação muito mais completa do quanto, e do quão rápido, os mares poderiam se elevar com o aquecimento ininterrupto.
Será dedicada maior atenção a pesquisas sobre o potencial de alterações perigosas na química do oceano. Outro foco serão os métodos artificiais de grande escala para confrontar o aquecimento, mais conhecida como geoengenharia.
O painel também tentará, com mais afinco, identificar impactos antecipados de mudanças climáticas em certas regiões, e opções para estimular a adaptabilidade em locais especialmente vulneráveis, como a África abaixo do Saara.
Pachauri disse que o painel doou os US$ 670 mil do Nobel para ajudar os países pobres a enfrentar riscos climáticos. Gore doou sua parte à Aliança para a Proteção do Clima.


Tradução de PEDRO KUYUMIJAN



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