São Paulo, quinta-feira, 17 de setembro de 2009

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Terapia gênica faz macaco daltônico ver qualquer cor

Vírus com DNA humano evitou que bichos confundissem o vermelho e o verde

Terapia para pessoas com a dificuldade é possível, mas ainda deve demorar anos, afirmam pesquisadores; 8% de homens são afetados


Laboratório Neitz/Universidade de Washington
O macaco-de-cheiro Dalton, "curado" pelos pesquisadores

RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cientistas americanos fizeram com que dois macacos de uma espécie naturalmente daltônica parassem de confundir vermelho com verde. Como os seus cérebros e os seus olhos são parecidos com os humanos, isso significa que, no futuro, pessoas poderiam ser curadas com a terapia criada -cerca de 8% dos homens são daltônicos.
Os pesquisadores estão animados porque Sam e Dalton são macacos adultos. Cogitava-se, anteriormente, que uma eventual cura só funcionaria em indivíduos cujo cérebro ainda estivesse em desenvolvimento e pudesse se adaptar. O trabalho feito nos EUA mostra que isso não é verdade.
Ele foi publicado hoje na revista "Nature". Consistiu em injetar um vírus nas células sensíveis à luz da retina dos animais. Ele carregava um gene "corretivo", de origem humana.
Os seres humanos têm a chamada visão tricromática. Os cones, células que captam cores na retina, sintetizam pigmentos sensíveis à luz azul, verde e vermelha. Os macacos-de-cheiro, espécie amazônica usada na experiência, são bicromatas: seus cones não fabricam o pigmento sensível ao vermelho, o que faz com que eles não consigam distinguir essa cor.
Da mesma forma como gene para o pigmento vermelho foi inserido nos macacos, os pesquisadores acreditam que é possível corrigir a mutação que causa o daltonismo -depois que os problemas de segurança da técnica forem resolvidos.
"Nós estamos otimistas. De qualquer forma, determinar a segurança é um processo bem longo. Serão necessários vários anos para que uma cura para o daltonismo em humanos esteja disponível", disse à Folha Katherine Mancuso, da Universidade de Washington.
É preciso ser criativo para saber se um macaco está vendo todas as cores. Os cientistas bolaram uma experiência, aproveitando-se da paixão desses macaquinhos por suco de uva.
Eles eram postos na frente de uma tela sensível ao toque, com desenhos de bolinhas de várias cores. Se conseguissem se manter apertando sempre a mesma cor, eram recompensados com suco. Senão, nada.
Como humanos no bar, eles ficavam empolgados com o líquido. Mas, antes do tratamento, perdiam-se cada vez que as cores mudavam de lugar. Depois a terapia, nunca mais trocaram o verde pelo vermelho.
O daltonismo atinge principalmente em homens brancos. A doença foi descoberta pelo britânico John Dalton, que não sabia diferenciar verde do vermelho, no século 18.


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