São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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Ciência em Dia

Olha para o céu, presidente

Marcelo Leite
colunista da Folha

Começa amanhã a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (www.mct.gov.br/semanact). É uma espécie de mutirão descentralizado, com a participação de três centenas de instituições e mais de 1.300 atividades voltadas para o público, em 200 municípios. Em boa hora chega essa iniciativa da área de popularização e difusão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
A hora é boa porque o momento vivido pela C&T é ruim. Explico: essa sigla, que já foi dotada de enorme prestígio social e político, anda por baixo. Na sociedade, ele ainda é alto, mas de implantação adventícia, um pouco como a questão ambiental. Todo mundo está a favor, mas ela permanece à margem do centro do poder.
Nesse sentido, é bem-vinda toda e qualquer iniciativa para aumentar a capilaridade dos valores científicos no Brasil. De exposição da Agência Espacial Brasileira num shopping de Salvador a palestras do pré-astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes no Maranhão, de ciclo de filmes em Campinas a um Trem da Ciência no Rio, há de tudo na Semana Nacional. Até em Aquidauana, Naviraí, Coxim, Ivinhema, Maracaju, Amambaí, Nova Andradina e Paranaíba, em Mato Grosso do Sul, a pesquisa estará dando o ar de sua graça.
O efeito, claro, será residual. Mas milhares de crianças e jovens serão expostos a algumas migalhas de procedimentos e de descobertas. Algumas vocações serão despertadas. Alguma informação ficará retida. Na falta de bom ensino de ciências e de bons museus, o país precisa de mais eventos como esse.
A principal efeméride, no entanto, ficou de fora do programa oficial, que termina domingo que vem. Três dias depois, na data em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa 59 anos, quiseram os astros que ocorra também um eclipse total da Lua. Não é mais que uma coincidência, certamente.
Eclipses, da Lua ou do Sol, constituem momentos únicos e raros. Nestes dois anos de governo Lula, os brasileiros foram agraciados com três eclipses totais da Lua, média acima do normal: 16 de maio e 9 de novembro de 2003, mais este agora. O anterior tinha ocorrido em 9 de janeiro de 2001. Não dá para se queixar -pelo menos disso- no país.
Também é fato que um eclipse da Lua, mesmo total, fica devendo a um eclipse do Sol, em matéria de espetáculo do obscurecimento. Quando a Terra projeta sua sombra sobre a Lua, um distraído pode nem notar. Bem mais chocante é a Lua se interpor entre a Terra e o Sol, cobrindo o disco da estrela, em pleno dia, para espanto de milhões de pessoas.
De todo modo, um eclipse total da Lua ainda constitui um acontecimento emocionante. Por isso mesmo representa uma grande oportunidade de despertar interesse pela ciência, em especial entre crianças e jovens. Salvo engano, pelo menos eles ainda não perderam a capacidade de se espantar com eventos celestes.
O pessoal do MCT não perdeu a chance e programou uma série de eventos para dia 27, sob a rubrica Brasil, Olha para o Céu. É uma espécie de extensão e coroamento da semana, prudentemente deslocada em relação ao aniversário do presidente. Em boa hora.
Seria ótimo se Lula olhasse a Lua e se espantasse com algo mais que uma coincidência lisonjeira.

E-mail: cienciaemdia@uol.com.br


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