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PROGRAMA ESPACIAL
Comissão já prepara relatório final, diz representante das famílias dos mortos no incêndio do foguete
Investigação do VLS-1 deve ser prorrogada
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os trabalhos de investigação do
acidente com o VLS-1 (Veículo
Lançador de Satélites) já entraram em sua fase derradeira, mas
deve haver mais uma prorrogação do prazo para a apresentação
das conclusões, que expira em
cinco dias. Será o terceiro pedido
de prorrogação feito pela comissão -e talvez o último.
"Deve ocorrer um novo pedido
de prorrogação", afirma Luciano
Varejão, representante das famílias das 21 vítimas na comissão e
irmão de um dos mortos pelo ignição prematura de um dos motores do foguete brasileiro. "Ao
longo dos próximos 30 dias deve
sair o relatório. Já estamos na reta
final", diz Varejão.
O incêndio de 22 de agosto matou 21 funcionários civis do CTA
(Centro Técnico Aerospacial) na
base de Alcântara (MA).
A subcomissão responsável por
explicar a origem da misteriosa
corrente elétrica que acionou um
dos motores do primeiro estágio
(dando início ao incêndio que
queimou 41 toneladas de propelente sólido) é a técnica, majoritariamente composta por membros
da equipe que trabalha no projeto
do VLS. Essa explicação, ao que
parece, ainda não foi achada.
"A causa exata ainda está em
aberto, mas eles estão bem próximos", diz Varejão. "O que tem
consumido tempo são os exames
das hipóteses. É preciso fazer uma
experiência que reproduza exatamente a situação do acidente."
Um relatório preliminar preparado por outra das quatro subcomissões que investigam o acidente, a operacional, vai apontar várias irregularidades nas ações que
antecederam a tragédia. Segundo
a Folha apurou, o relatório deve
ser apresentado nesta semana à
comissão de investigação da Aeronáutica, chefiada pelo brigadeiro-do-ar Marco Antonio Couto
do Nascimento.
O relatório reconstitui os eventos e os procedimentos adotados
e identifica várias "não-conformidades". Esse é o jargão para designar procedimentos executados de
maneira incorreta ou diferente da
especificada pelas normas.
Entre os problemas apontados
estão falhas de manutenção das
instalações em Alcântara, falta de
treinamento adequado para a
execução de tarefas e inobservância de protocolos ligados à preparação do lançador e à segurança.
O relatório interno só leva em
conta os dois meses que antecederam o acidente e não apresenta
fortes ligações causais entre os
problemas detectados e a ocorrência da tragédia. Também não
aponta culpados, embora cite nominalmente as equipes envolvidas nas atividades executadas.
O documento explica, entre outras coisas, por que havia iniciadores dos dispositivos pirotécnicos de alguns dos motores do foguete já instalados e 21 pessoas
trabalhando simultaneamente no
local, em várias atividades, no
momento do acidente.
O relatório preliminar conclui
com uma série de recomendações
sobre manutenção de equipamentos, treinamento e procedimentos de segurança.
A equipe que o preparou não
tem envolvimento direto com o
projeto do VLS-1. Foi convocada
pela comissão de investigação para verificar os aspectos relativos a
operações durante o processo de
preparação do lançamento.
Além dela, existem três subcomissões trabalhando em relatórios separados, lidando especificamente com os aspectos técnicos, metrológicos e de fatores humanos. O relatório final deve sair
da consolidação desses quatro
documentos preliminares.
O documento relativo a operações é considerado por engenheiros do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço, órgão responsável
pelo desenvolvimento do VLS) o
ponto-chave das investigações,
pois deve evidenciar os problemas mais profundos que rondam
a execução do programa.
Até agora, nenhuma das subcomissões conhece o resultado do
trabalho das demais. Mas, à medida que se aproxima a fase de redação do relatório final, membros
da comissão que participaram ativamente das ações que ocasionaram o acidente terão de confrontar-se com as não-conformidades
indicadas por outras equipes.
Segundo Luciano Varejão, até
agora tem sido "total" a cooperação da comissão com o grupo de
membros externos (além dele,
Carlos Henrique de Brito Cruz, da
Unicamp, Fernando Cosme Rizzo
Assunção, da PUC-RJ, e Paulo
Murilo Castro de Oliveira, da
UFRJ). "Temos tido acesso a todos os depoimentos. Nada tem sido escondido ou sonegado."
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