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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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PROGRAMA ESPACIAL

Comissão já prepara relatório final, diz representante das famílias dos mortos no incêndio do foguete

Investigação do VLS-1 deve ser prorrogada

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os trabalhos de investigação do acidente com o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites) já entraram em sua fase derradeira, mas deve haver mais uma prorrogação do prazo para a apresentação das conclusões, que expira em cinco dias. Será o terceiro pedido de prorrogação feito pela comissão -e talvez o último.
"Deve ocorrer um novo pedido de prorrogação", afirma Luciano Varejão, representante das famílias das 21 vítimas na comissão e irmão de um dos mortos pelo ignição prematura de um dos motores do foguete brasileiro. "Ao longo dos próximos 30 dias deve sair o relatório. Já estamos na reta final", diz Varejão.
O incêndio de 22 de agosto matou 21 funcionários civis do CTA (Centro Técnico Aerospacial) na base de Alcântara (MA).
A subcomissão responsável por explicar a origem da misteriosa corrente elétrica que acionou um dos motores do primeiro estágio (dando início ao incêndio que queimou 41 toneladas de propelente sólido) é a técnica, majoritariamente composta por membros da equipe que trabalha no projeto do VLS. Essa explicação, ao que parece, ainda não foi achada.
"A causa exata ainda está em aberto, mas eles estão bem próximos", diz Varejão. "O que tem consumido tempo são os exames das hipóteses. É preciso fazer uma experiência que reproduza exatamente a situação do acidente."
Um relatório preliminar preparado por outra das quatro subcomissões que investigam o acidente, a operacional, vai apontar várias irregularidades nas ações que antecederam a tragédia. Segundo a Folha apurou, o relatório deve ser apresentado nesta semana à comissão de investigação da Aeronáutica, chefiada pelo brigadeiro-do-ar Marco Antonio Couto do Nascimento.
O relatório reconstitui os eventos e os procedimentos adotados e identifica várias "não-conformidades". Esse é o jargão para designar procedimentos executados de maneira incorreta ou diferente da especificada pelas normas.
Entre os problemas apontados estão falhas de manutenção das instalações em Alcântara, falta de treinamento adequado para a execução de tarefas e inobservância de protocolos ligados à preparação do lançador e à segurança.
O relatório interno só leva em conta os dois meses que antecederam o acidente e não apresenta fortes ligações causais entre os problemas detectados e a ocorrência da tragédia. Também não aponta culpados, embora cite nominalmente as equipes envolvidas nas atividades executadas.
O documento explica, entre outras coisas, por que havia iniciadores dos dispositivos pirotécnicos de alguns dos motores do foguete já instalados e 21 pessoas trabalhando simultaneamente no local, em várias atividades, no momento do acidente.
O relatório preliminar conclui com uma série de recomendações sobre manutenção de equipamentos, treinamento e procedimentos de segurança.
A equipe que o preparou não tem envolvimento direto com o projeto do VLS-1. Foi convocada pela comissão de investigação para verificar os aspectos relativos a operações durante o processo de preparação do lançamento.
Além dela, existem três subcomissões trabalhando em relatórios separados, lidando especificamente com os aspectos técnicos, metrológicos e de fatores humanos. O relatório final deve sair da consolidação desses quatro documentos preliminares.
O documento relativo a operações é considerado por engenheiros do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço, órgão responsável pelo desenvolvimento do VLS) o ponto-chave das investigações, pois deve evidenciar os problemas mais profundos que rondam a execução do programa.
Até agora, nenhuma das subcomissões conhece o resultado do trabalho das demais. Mas, à medida que se aproxima a fase de redação do relatório final, membros da comissão que participaram ativamente das ações que ocasionaram o acidente terão de confrontar-se com as não-conformidades indicadas por outras equipes.
Segundo Luciano Varejão, até agora tem sido "total" a cooperação da comissão com o grupo de membros externos (além dele, Carlos Henrique de Brito Cruz, da Unicamp, Fernando Cosme Rizzo Assunção, da PUC-RJ, e Paulo Murilo Castro de Oliveira, da UFRJ). "Temos tido acesso a todos os depoimentos. Nada tem sido escondido ou sonegado."


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