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De olho na lua
Arquivo France Presse
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O astronauta Edwin "Buzz" Aldrin desce a escada do módulo lunar da Apollo-11 e se prepara para pisar o solo da Lua em 20 de julho de 1969 |
INTENÇÃO MANIFESTADA
PELO GOVERNO AMERICANO
DE VOLTAR AO SATÉLITE NATURAL DA TERRA IMPULSIONA SONHOS COMERCIAIS COM
ENERGIA, MINERAÇÃO E
TURISMO LUNAR
Barnaby J. Feder
do "New York Times"
As informações segundo as quais o presidente
Bush pretende criar uma presença humana
permanente na Lua e enviar uma missão tripulada a Marte estão injetando ânimo novo em
sonhos comerciais inspirados pelo programa Apollo,
dos anos 1960 e 1970.
As empresas mais evidentemente entusiasmadas com
a proposta dos vôos espaciais tripulados são as que trabalham com o lançamento de foguetes: a Lockheed
Martin e a Boeing. A Lockheed Martin, administradora
do programa de ônibus espaciais, tem interesse financeiro na continuidade dos vôos espaciais tripulados. A
Boeing, que esteve envolvida no programa espacial desde suas origens, foi a principal empresa fornecedora de
equipamentos para a Estação Espacial Internacional e
exerceu papel significativo no programa lunar Apollo.
Tanto a Boeing quanto a Lockheed Martin obteriam
contratos adicionais de fornecimento com o próprio
programa espacial. Mas os especialistas em comércio
espacial recordam que a maioria dos esforços empreendidos até agora para fazer negócios no espaço terminou
em decepções de alto custo.
Burocracia
"Já houve muitas tentativas de montar
projetos comerciais no espaço que foram derrotadas
pela incompetência e pela burocracia excessiva", disse
Rick N. Tumlinson, fundador do Space Frontier Foundations (Fundações Fronteira Espacial), um grupo sem
fins lucrativos que promove uma conferência anual intitulada "Retorno à Lua" para empreendedores, pesquisadores e outros que querem ir além do que foi o programa Apollo, no qual um punhado de astronautas fazia visitas breves à Lua para coletar informações.
Os conceitos comerciais mais ousados relativos à Lua
prevêem a transformação do satélite numa enorme usina elétrica para abastecer as residências e as fábricas da
Terra. Uma maneira de fazê-lo seria construir na Lua
enormes campos de coletores de energia solar que poderiam transmitir essa energia para a Terra, usando sistemas semelhantes aos que são utilizados atualmente
para transmitir sinais de rádio de alta energia.
"Basicamente, estamos falando na produção de vidro,
células solares, geradores de microondas e radares",
disse David R. Criswell, diretor do Instituto de Operações de Sistemas Espaciais da Universidade de Houston. Criswell afirmou que todos os materiais necessários para montar um projeto de energia solar na Lua foram encontrados nas rochas e na poeira lunares.
Em depoimento prestado diante de um subcomitê do
Senado em novembro, Criswell disse que a energia solar
gerada na Lua poderia tornar-se lucrativa em 2015 e aumentar a ponto de, até 2050, prover a Terra de toda a
eletricidade necessária. Outra proposta que vem sendo
aventada há muito tempo é a de explorar, para mover
turbinas, a enorme diferença de temperatura existente
entre as áreas da superfície lunar iluminadas pelo Sol e
as que ficam na sombra.
"Resorts" lunares
A geração de energia na Lua poderia mover vários empreendimentos, incluindo "resorts" turísticos para milionários intrépidos, que poderiam aproveitar a baixa gravidade da Lua para jogar golfe a distância ou alugar máquinas para voar. A cadeia de
hotéis Hilton e a construtora japonesa Shimizu estão
entre as empresas que, nos anos 1990, manifestaram interesse pelo potencial do turismo lunar.
A criação de fontes energéticas locais também poderia fazer com que fosse economicamente viável mineradoras garimparem e purificarem platina de locais onde
asteróides se chocaram com a Lua. E as imagens de satélite obtidas do gelo nos pólos lunares sugerem que seria
possível empresas produzirem na Lua combustível (hidrogênio) para os satélites de comunicações que orbitam ao redor da Terra. Com o tempo, poderia tornar-se
mais fácil fabricar os próprios satélites na Lua.
"Devido à baixa gravidade da Lua, é preciso menos de
um vigésimo da energia para enviar um quilo de material da Lua em órbita em volta da Terra do que seria preciso para erguer o mesmo quilo de material da Terra",
disse Gregg Maryniak, diretor-executivo da Fundação
Prêmio X, que criou um prêmio de 10 milhões de dólares para a primeira empresa a desenvolver uma maneira de lançar pessoas e bens ao espaço com mais frequência e por um custo menor. O primeiro objetivo estimulado pelo prêmio é a criação de uma nave comercial capaz de realizar um vôo suborbital.
É claro que a tentativa de explorar o potencial comercial do espaço será repleta de riscos. Além dos desafios
de engenharia, os pioneiros na área enfrentarão incertezas em relação a seus direitos legais. De acordo com Pamela Meredith, advogada de Washington especializada
em direito espacial, alguns termos que figuram no tratado de 1967 que rege a exploração espacial proíbem os
países de reivindicar qualquer parte da Lua como seu
território próprio. Mas alguns advogados divergem sobre o modo como essa proibição de "apropriação", como é conhecida, se aplicaria aos direitos de propriedade
em projetos como coleta de energia solar ou mineração.
Controle estatal
Outra preocupação diz respeito ao
grau de controle que será exercido pela Nasa e por outras agências governamentais. "Com a Nasa basicamente dominando a arena espacial, vem sendo muito
difícil para empresas particulares fazer negócios nessa
área", disse David Gump, presidente da LunaCorp, de
Fairfax (Virgínia, EUA), empresa que tem estado envolvida em uma série de projetos na área.
O melhor retorno comercial da volta à Lua pode estar
ligado aos desenvolvimentos tecnológicos verificados
na Terra em decorrência dessa volta. Entre os produtos
cuja invenção se deve em parte ao programa Apollo figuram equipamentos de diagnóstico médico como
aparelhos de tomografia computadorizada e ressonância magnética, as roupas protetoras usadas por pilotos
de corrida e técnicos de reatores nucleares e as ferramentas elétricas sem fio, muito populares hoje em dia.
Tradução de Clara Allain
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