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ANTÁRTIDA
Sem verba para manter logística de operações no continente, militares querem atrair bancos e empresas privadas
Marinha quer dinheiro privado na Antártida
JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A PUNTA ARENAS (CHILE)
A Cirm (Comissão Interministerial para os Recursos do Mar)
decidiu recorrer às empresas para
impedir que pesquisas científicas
desenvolvidas por brasileiros na
Antártida sejam paralisadas. O
primeiro acordo está sendo costurado com a Petrobras. A estatal
doará 20 novos tanques de combustível para a estação Comandante Ferraz, a base brasileira instalada desde fevereiro de 1984 na
península Antártica.
A intenção é impedir vazamentos de óleo diesel, uma vez que o
mais novo dos atuais tanques foi
instalado há uma década. Isso
preocupa a Marinha, que vê risco
com o desgaste nos equipamentos provocado pelo tempo. "Qualquer acidente teria efeito duplo",
disse o contra-almirante José
Eduardo Borges de Souza, secretário da Cirm. "Seria um desastre
para a natureza e para a imagem
do país. Temos de nos prevenir."
Os tanques em funcionamento
têm, juntos, capacidade para armazenar ate 320 mil litros de óleo
diesel. O combustível é fornecido
pela Petrobras e serve para movimentar os geradores de energia
da estação. Lá trabalham até 28
pesquisadores nos meses de verão, além do grupo-base de dez
militares, o ano inteiro.
A estimativa, segundo o diretor
de Abastecimento da Petrobras,
Paulo Roberto Costa, é que os novos tanques custem entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. "Estamos
avaliando apenas quem vai construí-los", disse.
Outras empresas, além da Petrobras, estão na mira dos militares para desenvolver projetos
conjuntos na Antártida. Representantes de bancos privados e de
empresas de telecomunicações
participam, a convite da Marinha,
de uma missão que visita Ferraz
neste final de semana.
"Para os bancos pode ser um
bom negócio estreitar o relacionamento com as Forças Armadas,
até para disputar a sua folha de
pagamento. Não dá para esquecer
que a modalidade de financiamento que mais cresceu nos últimos tempos é o crédito consignado", diz o superintendente da
área de negócios com o governo
do Unibanco, Marcos Bonel.
Segundo cálculos da Cirm, o
Proantar (Programa Antártico
Brasileiro) necessita de pelo menos R$ 10 milhões em 2006 para
não ser paralisado. Outros R$ 8,45
milhões são necessários em 2007 e
2008, respectivamente. No ano de
2009, a exigência cai para R$ 6 milhões. "Uma estação científica
não é como uma mulher, que está
melhor aos 23 do que aos 15. Precisa de investimentos", resumiu o
secretário da comissão.
Conseguir esse dinheiro, na
prática, é difícil. De 1994 para cá, o
valor máximo previsto no Orçamento para a logística na Antártida jamais ultrapassou R$ 3 milhões. Para este ano, a previsão é
de R$ 2 milhões.
Para Souza, as áreas do governo
trabalham de forma coordenada
para liberar os recursos e impulsionar as pesquisas feitas em Comandante Ferraz. Como exemplo, ele citou a proposta do Ministério da Ciência e Tecnologia de
fazer repasses ao Proantar usando
recursos de fundos setoriais.
"Mas o ideal é que o Proantar tenha recursos orçamentários próprios, sem vinculação específica a
um ministério, porque ela dá
margem a contingenciamentos."
Entre 2007 e 2008 acontecerá o
Ano Polar Internacional. Em comemoração a 50 anos de empenho para a pesquisa científica na
Antártida, pesquisadores do
mundo inteiro vão realizar intercâmbios. "Temos de estar com
nossa casa em ordem para receber as visitas. E trarão conhecimento que, mais tarde, será usado
em nosso favor", resumiu Souza.
De acordo com a Marinha, 81
pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa trabalham em regime de revezamento na estação Comandante Ferraz,
formada por 60 módulos de acomodação. Os projetos são desenvolvidos nas áreas de ciências da
terra, tecnológicas, biológicas e
meteorológicas.
Em Ferraz alternam-se também
militares e técnicos, além de alpinistas que atuam como guias nas
operações antárticas, anuais.
No momento, com recursos
emergenciais, o Arsenal da Marinha faz um trabalho de recuperação de módulos, camarotes, alojamentos, câmaras frigoríficas, laboratórios, paióis, sistemas de esgoto, de água e elétrico.
Além de Ferraz, o Proantar conta com um navio, o Ary Rongel, e
dois refúgios, o Emílio Goeldi
(ilha Elefante) e o Astrônomo
Cruls (ilha Nelson). Cada um deles tem capacidade para abrigar
até seis pesquisadores trabalhando por até 40 dias.
A jornalista Janaína Leite viajou a convite da Marinha e da Telemar
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