São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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ANTÁRTIDA

Sem verba para manter logística de operações no continente, militares querem atrair bancos e empresas privadas

Marinha quer dinheiro privado na Antártida

JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A PUNTA ARENAS (CHILE)

A Cirm (Comissão Interministerial para os Recursos do Mar) decidiu recorrer às empresas para impedir que pesquisas científicas desenvolvidas por brasileiros na Antártida sejam paralisadas. O primeiro acordo está sendo costurado com a Petrobras. A estatal doará 20 novos tanques de combustível para a estação Comandante Ferraz, a base brasileira instalada desde fevereiro de 1984 na península Antártica.
A intenção é impedir vazamentos de óleo diesel, uma vez que o mais novo dos atuais tanques foi instalado há uma década. Isso preocupa a Marinha, que vê risco com o desgaste nos equipamentos provocado pelo tempo. "Qualquer acidente teria efeito duplo", disse o contra-almirante José Eduardo Borges de Souza, secretário da Cirm. "Seria um desastre para a natureza e para a imagem do país. Temos de nos prevenir."
Os tanques em funcionamento têm, juntos, capacidade para armazenar ate 320 mil litros de óleo diesel. O combustível é fornecido pela Petrobras e serve para movimentar os geradores de energia da estação. Lá trabalham até 28 pesquisadores nos meses de verão, além do grupo-base de dez militares, o ano inteiro.
A estimativa, segundo o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, é que os novos tanques custem entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. "Estamos avaliando apenas quem vai construí-los", disse.
Outras empresas, além da Petrobras, estão na mira dos militares para desenvolver projetos conjuntos na Antártida. Representantes de bancos privados e de empresas de telecomunicações participam, a convite da Marinha, de uma missão que visita Ferraz neste final de semana.
"Para os bancos pode ser um bom negócio estreitar o relacionamento com as Forças Armadas, até para disputar a sua folha de pagamento. Não dá para esquecer que a modalidade de financiamento que mais cresceu nos últimos tempos é o crédito consignado", diz o superintendente da área de negócios com o governo do Unibanco, Marcos Bonel.
Segundo cálculos da Cirm, o Proantar (Programa Antártico Brasileiro) necessita de pelo menos R$ 10 milhões em 2006 para não ser paralisado. Outros R$ 8,45 milhões são necessários em 2007 e 2008, respectivamente. No ano de 2009, a exigência cai para R$ 6 milhões. "Uma estação científica não é como uma mulher, que está melhor aos 23 do que aos 15. Precisa de investimentos", resumiu o secretário da comissão.
Conseguir esse dinheiro, na prática, é difícil. De 1994 para cá, o valor máximo previsto no Orçamento para a logística na Antártida jamais ultrapassou R$ 3 milhões. Para este ano, a previsão é de R$ 2 milhões.
Para Souza, as áreas do governo trabalham de forma coordenada para liberar os recursos e impulsionar as pesquisas feitas em Comandante Ferraz. Como exemplo, ele citou a proposta do Ministério da Ciência e Tecnologia de fazer repasses ao Proantar usando recursos de fundos setoriais. "Mas o ideal é que o Proantar tenha recursos orçamentários próprios, sem vinculação específica a um ministério, porque ela dá margem a contingenciamentos."
Entre 2007 e 2008 acontecerá o Ano Polar Internacional. Em comemoração a 50 anos de empenho para a pesquisa científica na Antártida, pesquisadores do mundo inteiro vão realizar intercâmbios. "Temos de estar com nossa casa em ordem para receber as visitas. E trarão conhecimento que, mais tarde, será usado em nosso favor", resumiu Souza.
De acordo com a Marinha, 81 pesquisadores de diversas instituições de ensino e pesquisa trabalham em regime de revezamento na estação Comandante Ferraz, formada por 60 módulos de acomodação. Os projetos são desenvolvidos nas áreas de ciências da terra, tecnológicas, biológicas e meteorológicas.
Em Ferraz alternam-se também militares e técnicos, além de alpinistas que atuam como guias nas operações antárticas, anuais.
No momento, com recursos emergenciais, o Arsenal da Marinha faz um trabalho de recuperação de módulos, camarotes, alojamentos, câmaras frigoríficas, laboratórios, paióis, sistemas de esgoto, de água e elétrico.
Além de Ferraz, o Proantar conta com um navio, o Ary Rongel, e dois refúgios, o Emílio Goeldi (ilha Elefante) e o Astrônomo Cruls (ilha Nelson). Cada um deles tem capacidade para abrigar até seis pesquisadores trabalhando por até 40 dias.


A jornalista Janaína Leite viajou a convite da Marinha e da Telemar


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