São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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São Paulo foi lar de "crocodilo do deserto"

Réptil de apenas 50 cm habitava zona árida no atual interior paulista na mesma época que os dinossauros, revela fóssil

Grupo do Rio que descreveu novo animal diz que espécie tinha a mesma versatilidade evolutiva que os mamíferos apresentam nos dias de hoje

Divulgação
Concepção artística do crocodiliano A. navae comendo um inseto


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A região de Bauru, interior paulista, era o habitat de um "crocodilo do deserto", revela um novo fóssil. Foi anunciada ontem no Rio a descoberta de uma nova espécie de crocodilomorfo -parente dos atuais crocodilos- que viveu há 90 milhões de anos na bacia Bauru (região que abrange áreas hoje dos Estados de São Paulo, Goiás, Paraná, Minas e Mato Grosso do Sul).
O fóssil foi encontrado no município de Marília (SP) e sua reconstituição, feita por pesquisadores do Departamento de Geologia da UFRJ, indica que a espécie tinha pequena dimensão (50 cm de comprimento e 10 kg), era terrestre, onívora (se alimentava de carnes e vegetais) e viveu num ambiente semelhante a um deserto por sua aridez e altas temperaturas (em torno de 60ºC).
O trabalho dos pesquisadores Pedro Henrique Nobre e Ismar de Souza Carvalho foi publicado na revista científica "Gondwana Research". Os fósseis foram encontrados em 1998 pelo paleontólogo amador William Nava. Em sua homenagem, a nova espécie foi batizada Adamantinasuchus navae.
Apesar de ser classificada como um crocodilomorfo, a nova espécie pertence a uma linhagem diferente daquela que originou os crocodilos e jacarés atuais e possui características anatômicas inéditas.
Em vez de viver a maior parte do tempo na água, o A. navae habitava áreas secas e quentes e era capaz de percorrer por terra grandes distâncias.
Além do pequeno porte, os cientistas citaram como traços únicos e peculiares o focinho curto e alto, grandes órbitas, ossos da perna longos e estrutura dentária com atributos semelhantes aos dos mamíferos.
Essa última característica reforça para Carvalho a hipótese de que esses pequenos crocodilos ocuparam um espaço ecológico na cadeia alimentar semelhante ao dos mamíferos hoje.
"Eram animais pequenos e com dieta onívora. Além disso, eram oportunistas, ou seja, ocupavam todos os espaços ecológicos. Um ambiente tão árido e seco não é favorável a esse tipo de forma, mas eles lá estavam, da mesma maneira que encontramos hoje mamíferos nos ambientes mais diversos e extremos."
Apesar dessa maior capacidade de adaptação, Carvalho afirma que a linhagem se extinguiu no final do Cretáceo (o último período dentro da era dos dinossauros).
"Como o final do Cretáceo é um momento de transição para condições cada vez mais úmidas e chuvosas, essa espécie deve ter tido dificuldade para sobreviver nesse novo ambiente. Eles deviam se afogar com muita facilidade."
A pesquisa de Carvalho e Nobre contou com apoio da Faperj, CNPq (Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico), prefeitura de Marília e do Museu de Paleontologia de Marília, onde ficará exposta a reconstrução do minicrocodilo.


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