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ANTROPOLOGIA
Estudo revela que ancestrais do homem e do chimpanzé podem ter produzido híbridos por 4 milhões de anos
Humano e símio se acasalavam, diz DNA
RICARDO BONALUME NETO
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Humanos e chimpanzés normalmente não se consideram
mutuamente atraentes em termos
sexuais nem seriam capazes de ter
filhotes férteis. Mas nem sempre
foi assim entre os ancestrais evolutivos desses dois primatas.
Uma análise detalhada do genoma das duas espécies indica que a
separação definitiva entre suas linhagens ocorreu 1 milhão de anos
mais tarde do que se imaginava.
Além disso, os genes revelam uma
longa história de cruzamentos entre hominídeos e os ancestrais dos
chimpanzés.
A hipótese foi levantada para
tentar compatibilizar o que se conhece do registro fóssil com os
dados genéticos.
A duração do período de intercâmbio sexual entre ancestrais de
humanos e de macacos promete
polêmica. Os genes indicariam
que as linhagens do homem e do
chimpanzé se dividiram entre 6,3
milhões e 5,4 milhões de anos
atrás, mas que antes disso houve
troca de genes entre indivíduos
híbridos por 4 milhões de anos. O
estudo está na edição de hoje da
revista científica britânica "Nature", assinado por pesquisadores
do grupo de Eric Lander, do Instituto Broad da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts, de Cambridge,
nordeste dos EUA.
Comparando o genoma (conjunto do material genético) das
espécies é possível ver quais áreas
são mais antigas e se preservaram
e quais foram mudando ao longo
do tempo, sinal da "especiação"
(desenvolvimento de novas espécies a partir de uma ancestral).
Os dados surpreenderam, pois
os fósseis conhecidos -deve-se
admitir que são poucos- contam outra história. São candidatos a ancestrais de humanos (diretos ou indiretos), como os fósseis
chamados Toumaï (Sahelanthropus tchadensis) e Homem do Milênio (Orrorin tugenensis), que teriam mais de 6 milhões de anos.
"É possível que Toumaï seja
mais recente do que previamente
imaginado", disse um dos autores
do estudo, Nick Patterson, em comunicado divulgado pelo Instituto Broad. "Mas se a datação for
correta, o fóssil Toumaï precederia a separação entre homem e
chimpanzé. O fato de que ele tem
características humanas sugere
que a especiação entre homem e
chimpanzé pode ter ocorrido durante um longo período com episódios de hibridação", diz.
A observação que levou os cientistas a especularem sobre isso foi
a idade recente da separação evolutiva medida a partir do cromossomo sexual X.
David Pilbeam, paleoantropólogo que participou da descrição
do Sahelanthropus em 2002, classificou o trabalho de Reich como
"tremendamente estimulante e
importante", mas fez ressalvas
quanto às implicações para interpretações de alguns restos fósseis.
"Acho bastante provável que Sahelanthropus, Orrorin e Ardipithecus sejam hominídeos, com
base em evidências de bipedalismo [postura ereta sobre dois pés]
e morfologia dentária", disse.
Pilbeam também disse não
acreditar que quadrúpedes possam ter tido descendentes férteis
ao se acasalar com primatas bípedes. "Provavelmente a diferença
entre seus programas de desenvolvimento embrionário era muito grande.", disse.
O paleontólogo Dan Lieberman, também de Harvard, é mais
pragmático: "Meu problema é
imaginar um hominídeo e um
chimpanzé olhando um para o
outro como parceiros adequados
-para não ser muito grosso".
Pilbeam elogiou a maneira com
que os geneticistas autores do estudo apresentaram suas idéias,
sem tentar desqualificar trabalhos anteriores. "Eles não entraram nessa para arranjar briga,
marcar pontos ou buscar publicidade", disse. A razão: "Eles não
são paleoantropólogos nem paleoprimatólogos."
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