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Ibama quer proteger maior cratera da América do Sul
Unidades de conservação podem "engolir" seis cidades no domo de Araguainha, situado entre Mato Grosso e Goiás
Sítio geológico, de 40 km de diâmetro, foi formado por impacto de um meteorito
há 250 milhões de anos; proteção divide moradores
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARAGUAINHA E PONTE BRANCA (MT)
O Ibama de Mato Grosso
concluiu e encaminhou a Brasília um relatório que prevê a
criação de um "mosaico" de
unidades de conservação para
proteger a área do domo de
Araguainha, a maior cratera de
meteorito da América do Sul e a
17ª do mundo. O sítio geológico
que abriga o domo -uma referência ao formato abobadado
do núcleo da cratera- está localizado na divisa de Mato
Grosso e Goiás e abrange o território de seis municípios.
Dois deles, Araguainha e
Ponte Branca (475 km de Cuiabá), foram erguidos dentro da
cratera, que tem 40 quilômetros de diâmetro e cuja curvatura só é perceptível se vista de
um avião. Geólogos da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas) e da USP (Universidade de São Paulo) estimam que o local seja o resultado do choque de um corpo celeste ocorrido há aproximadamente 250 milhões de anos.
O meteorito, segundo eles, tinha até 4 quilômetros de diâmetro, e seu impacto teve potência equivalente à de 28 milhões de bombas nucleares semelhantes à de Hiroshima.
No local, há rochas deformadas que só surgem em eventos
dessa magnitude e fragmentos
fossilizados de organismos marinhos -no momento do choque, a região era um mar raso.
Além de cidades, a área da
cratera -que se estende por
281 mil hectares- abriga pelo
menos 20 cavernas de arenito e
já teve 12 sítios arqueológicos
identificados. Concentra ainda
nascentes de vários formadores do rio Araguaia e espécies
da flora e da fauna do cerrado
ameaçadas de extinção -como
o tamanduá-bandeira, a onça-parda, o lobo-guará e a arara-azul-grande.
Esse patrimônio natural está
ameaçado pela exploração inadequada da região. Cercas, pastos e centenas de quilômetros
de estradas vicinais também fazem parte do cenário do domo
de Araguainha. Além da pecuária e da agricultura intensiva,
que já chegaram aos municípios do entorno, o lugar é alvo
da ação de carvoarias, que destroem vastas porções das matas
nativas da região.
"A remoção da vegetação
causa impactos visíveis, como o
aumento da suscetibilidade do
solo à erosão e o aumento da
fragmentação de habitat terrestre", diz um trecho do relatório do Ibama.
"O processo erosivo, facilmente perceptível, pode comprometer a viabilidade ao médio e longo prazos de diversas
nascentes e córregos, além de
potencialmente alterar significativamente variáveis hidrológicas do rio Araguaia."
Concluído em março deste
ano, o documento é o resultado
de um extenso levantamento
de campo coordenado há quatro anos pelo técnico ambiental
José Guilherme Aires Lima, ligado ao ICMBio (Instituto Chico Mendes) e ao Cecav (Centro
Nacional de Estudo e Proteção
e Manejo de Cavernas). Segundo ele, ainda falta mapear cerca
de 50% da área.
"Ainda há muito por descobrir. Mas certamente, por tudo
o que pudemos identificar e catalogar até agora, podemos dizer que se trata de um local raro, único e que precisa ser conhecido e conservado", disse.
O estudo propõe a criação de
um "mosaico" composto por
cinco áreas prioritárias de proteção. Três delas, incluindo a
região dos morros formados no
núcleo da cratera, seriam constituídas como unidades de conservação -o grau de proteção e
as restrições a serem impostas
serão estabelecidos em uma segunda etapa do trabalho.
Nos municípios, a idéia causa
polêmica. Em Ponte Branca e
Araguainha, não falta quem diga que os futuros parques inviabilizarão a já combalida economia dos municípios. Aires Lima, no entanto, acredita que
possa ocorrer o inverso.
"São poucos os lugares no
mundo que podem dispor de
uma riqueza como esta. Além
de um campo de pesquisas para
ciência e uma área muito relevante para a preservação do
cerrado, estamos falando de
um potencial imenso para o
ecoturismo e o turismo científico. É uma oportunidade única, que não pode ser desprezada", disse Aires Lima.
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