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Grupo acha gene-chave da leptospirose
Cientistas brasileiros e franceses identificam trecho de DNA responsável pela eficácia de infecção da bactéria patogênica
Descoberta aponta novo alvo para pesquisa de vacina contra a doença, diz grupo; micróbio infecta 3.600 por ano no Brasil e mata 10%
GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um grupo de cientistas brasileiros e franceses identificou na
bactéria causadora da leptospirose um gene responsável por
sua eficácia em infectar animais. Num experimento em
que o trecho de DNA foi desativado, o micróbio ficou incapaz
de causar a doença em hamsters. A descoberta aponta um
alvo para o desenvolvimento de
uma vacina contra a moléstia.
Desde que o genoma da bactéria Leptospira interrogans foi
seqüenciado, cientistas da unidade da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Salvador (BA) e
do Instituto Pasteur, em Paris,
investigam métodos para modificar geneticamente o micróbio. O trabalho demorou a render frutos porque os mecanismos patogênicos da Leptospira
permaneciam desconhecidos.
Agora, cem anos após a descoberta da bactéria, os pesquisadores das duas instituições
encontraram um dos genes-chave para o comportamento
virulento do patógeno. Micróbios mutantes que tiveram o
gene Loa22 inativado se mostraram inofensivos quando
inoculadas em hamsters -os
animais não adoeceram.
Para confirmar o experimento, os cientistas repetiram o
procedimento reativando o gene na bactéria. O micróbio retomou sua virulência e deixou
os roedores doentes.
"Ainda vamos investigar se
existem outros fatores de virulência no patógeno, mas acreditamos que esse gene é um
forte candidato para a produção de vacinas contra a leptospirose", afirma o norte-americano Albert I. Ko, que liderou a
equipe brasileira na Fiocruz. O
trabalho foi publicado na semana passada na revista científica "PLoS Pathogens".
Atualmente não existe nenhuma vacina para a doença,
que atingiu no ano passado cerca de 3.600 pessoas no Brasil
-10% dos infectados morreram-, segundo dados do Ministério da Saúde. Em outros
países tropicais, a taxa de infecção por ano é de cerca de 10 por
100 mil, número que cresce exponencialmente em períodos
de epidemia e fortes chuvas,
afirma a OMS (Organização
Mundial da Saúde).
Geralmente, a leptospirose é
transmitida aos humanos pela
urina de ratos, mas também
pode ser passada por cachorros, porcos e gado. A doença se
manifesta no início como uma
forte gripe e às vezes é até mesmo confundida com dengue.
Nos estágios mais avançados,
no entanto, pode provocar convulsão, insuficiência renal e hemorragia pulmonar. O tratamento mais eficaz ainda é a administração de antibióticos,
mas não são raras as mortes
por falta de diagnóstico, sobretudo em áreas pobres.
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