São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Grupo acha gene-chave da leptospirose

Cientistas brasileiros e franceses identificam trecho de DNA responsável pela eficácia de infecção da bactéria patogênica

Descoberta aponta novo alvo para pesquisa de vacina contra a doença, diz grupo; micróbio infecta 3.600 por ano no Brasil e mata 10%

GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um grupo de cientistas brasileiros e franceses identificou na bactéria causadora da leptospirose um gene responsável por sua eficácia em infectar animais. Num experimento em que o trecho de DNA foi desativado, o micróbio ficou incapaz de causar a doença em hamsters. A descoberta aponta um alvo para o desenvolvimento de uma vacina contra a moléstia.
Desde que o genoma da bactéria Leptospira interrogans foi seqüenciado, cientistas da unidade da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Salvador (BA) e do Instituto Pasteur, em Paris, investigam métodos para modificar geneticamente o micróbio. O trabalho demorou a render frutos porque os mecanismos patogênicos da Leptospira permaneciam desconhecidos.
Agora, cem anos após a descoberta da bactéria, os pesquisadores das duas instituições encontraram um dos genes-chave para o comportamento virulento do patógeno. Micróbios mutantes que tiveram o gene Loa22 inativado se mostraram inofensivos quando inoculadas em hamsters -os animais não adoeceram.
Para confirmar o experimento, os cientistas repetiram o procedimento reativando o gene na bactéria. O micróbio retomou sua virulência e deixou os roedores doentes.
"Ainda vamos investigar se existem outros fatores de virulência no patógeno, mas acreditamos que esse gene é um forte candidato para a produção de vacinas contra a leptospirose", afirma o norte-americano Albert I. Ko, que liderou a equipe brasileira na Fiocruz. O trabalho foi publicado na semana passada na revista científica "PLoS Pathogens".
Atualmente não existe nenhuma vacina para a doença, que atingiu no ano passado cerca de 3.600 pessoas no Brasil -10% dos infectados morreram-, segundo dados do Ministério da Saúde. Em outros países tropicais, a taxa de infecção por ano é de cerca de 10 por 100 mil, número que cresce exponencialmente em períodos de epidemia e fortes chuvas, afirma a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Geralmente, a leptospirose é transmitida aos humanos pela urina de ratos, mas também pode ser passada por cachorros, porcos e gado. A doença se manifesta no início como uma forte gripe e às vezes é até mesmo confundida com dengue.
Nos estágios mais avançados, no entanto, pode provocar convulsão, insuficiência renal e hemorragia pulmonar. O tratamento mais eficaz ainda é a administração de antibióticos, mas não são raras as mortes por falta de diagnóstico, sobretudo em áreas pobres.


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