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Diretor do Inpe critica carbono de floresta
Para Gilberto Câmara, créditos comercializáveis por desmatamento evitado são "dinheiro sujo" que "premia ilegais"
Para cientista, problema da
Amazônia é de governança,
não de dinheiro, e Brasil
conseguiu reduzir ritmo da
derrubada sem verba extra
Greenpeace - 16.jun.09
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Queimadas na Indonésia, país que se beneficiaria de venda de
créditos por redução de desmate
DO ENVIADO A MANAUS
Gilberto Câmara, diretor do
Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) e principal responsável pelo monitoramento da Amazônia, chamou
de "dinheiro sujo" os recursos
que poderão vir a ser trocados
entre os países por meio do
REDD, um dos mecanismos em
discussão no âmbito internacional para reduzir o desmate.
A definição sobre se e como o
mundo vai usar ou não esse esquema no combate ao aquecimento global pode sair da conferência do clima de Copenhague, em dezembro.
O desmatamento e a posterior queima da floresta desmatada emitem grandes quantidades de gás carbônico para a atmosfera. Isso ajuda a esquentar
ainda mais o planeta.
Daí a proposta, aprovada na
conferência de Bali, em 2007,
de usar o desmatamento evitado para ajudar a solucionar a
crise do clima. Só não há acordo
sobre como isso será feito.
O governo brasileiro é contra
mecanismos de mercado no
REDD (sigla em inglês para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), pelos quais países que reduzissem seu desmatamento
poderiam vender créditos de
carbono para países com metas
de redução a cumprir. Prefere
que o REDD seja abastecido
por doações, como os US$ 110
milhões que a Noruega já empenhou no Fundo Amazônia.
Mas governadores de Estados da Amazônia Legal, como
Blairo Maggi (MT) e Eduardo
Braga (AM), se mostraram favoráveis à medida.
"É quase como se o Brasil
vendesse o seu ar", disse Câmara ontem, em Manaus (AM),
durante o último dia da 61ª
Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). "Com essas negociações, os países desenvolvidos deixarão de fazer sua lição
de casa", disse Câmara.
Para ele, se o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento
da Amazônia de 27 mil quilômetros quadrados por ano para
uma média de 12 mil quilômetros quadrados sem esse dinheiro, é sinal que o país não
precisa dele. "O problema do
desmatamento da Amazônia é
de governança", afirmou.
Números
Câmara questiona até mesmo o tamanho da contribuição
do desmatamento nas emissões mundiais de carbono. Hoje estima-se que as mudanças
no uso da terra, principalmente
o desmatamento tropical, respondam por 20% das emissões.
Segundo Câmara, esses números poderiam até ser válidos
para os anos 1990. Hoje, diz,
tanto o Brasil quanto a Indonésia, os maiores desmatadores
do planeta, reduziram de forma
considerável suas emissões.
"Estamos refazendo esses
dados. Mas, hoje, com certeza,
o número deve ser de pelo menos 10%", disse Câmara. Deste
total, metade é a contribuição
exclusiva do Brasil. "Desse total, 0,5% é referente ao desmatamento legal. Vamos receber
dinheiro do REDD para pagar
os ilegais?"
(EDUARDO GERAQUE)
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