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"Excesso de cordialidade do brasileiro atrapalha a pesquisa"
DE SÃO PAULO
"Enquanto a Argentina está se perdendo nos últimos 35
anos, com uma decrepitude
na sua classe média, educação e ciência, o Brasil evoluiu", diz o neurocientista argentino Martín Cammarota.
"Há 35 anos mal existia
ciência brasileira. A argentina é muito mais antiga, tem
cinco prêmios Nobel", diz,
aos 41 anos e desde 2002 em
Porto Alegre, hoje na PUCRS.
Apesar de muito otimista
com a ciência brasileira,
"que já é a melhor da América Latina", ele acredita que
na Argentina se valoriza mais
a universidade. "Muitos brasileiros ainda a encaram como uma fábrica de canudos."
Foi na Universidade de
Buenos Aires, no doutorado,
que conheceu uma gaúcha
com quem se casou. Passaram cinco anos na Austrália
e, na volta, com a Argentina
sob instabilidade econômica, vieram para o Brasil.
"Quando vi, já tinha nascido nossa filha, ela já falava
português, tomava chimarrão e torcia para o Inter." Na
Copa, porém, ela usa uma camiseta da Argentina, diz ele.
Adaptado ao Brasil, ele
pensa que o país já atingiu
uma massa crítica de cientistas, e que é hora de selecionar os melhores.
"O Brasil tem um enorme
complexo de inferioridade, e
se colocou na cabeça que o
país precisa de uma imensidade de doutores. Precisa é
apoiar os que são bons."
"O problema é que o brasileiro evita o confronto, é muito diplomático, cordial. Há
enorme dificuldade de falar
para um aluno que ele não é
bom o suficiente. O brasileiro
diz "ah, por que não pensas
um pouquinho? A ciência
talvez não seja para ti. Não
estou dizendo que você não
serve! Serve, mas veja...'"
Outro problema é a pontualidade, diz. "Nesses anos,
participei de 45 mil reuniões
e nenhuma começou na hora. Aí falamos sobre a Copa,
mulheres, Maradona, o tempo acaba e marcamos outra."
Ele só não gosta da pecha
de argentino. "O que incomoda não é a propaganda da
Skol. É a ideia de que, por você ser argentino, não entende os problemas do Brasil.
Como se todos tivessem vindo com os portugueses."
(RM)
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