São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Excesso de cordialidade do brasileiro atrapalha a pesquisa"

DE SÃO PAULO

"Enquanto a Argentina está se perdendo nos últimos 35 anos, com uma decrepitude na sua classe média, educação e ciência, o Brasil evoluiu", diz o neurocientista argentino Martín Cammarota.
"Há 35 anos mal existia ciência brasileira. A argentina é muito mais antiga, tem cinco prêmios Nobel", diz, aos 41 anos e desde 2002 em Porto Alegre, hoje na PUCRS.
Apesar de muito otimista com a ciência brasileira, "que já é a melhor da América Latina", ele acredita que na Argentina se valoriza mais a universidade. "Muitos brasileiros ainda a encaram como uma fábrica de canudos."
Foi na Universidade de Buenos Aires, no doutorado, que conheceu uma gaúcha com quem se casou. Passaram cinco anos na Austrália e, na volta, com a Argentina sob instabilidade econômica, vieram para o Brasil.
"Quando vi, já tinha nascido nossa filha, ela já falava português, tomava chimarrão e torcia para o Inter." Na Copa, porém, ela usa uma camiseta da Argentina, diz ele.
Adaptado ao Brasil, ele pensa que o país já atingiu uma massa crítica de cientistas, e que é hora de selecionar os melhores.
"O Brasil tem um enorme complexo de inferioridade, e se colocou na cabeça que o país precisa de uma imensidade de doutores. Precisa é apoiar os que são bons."
"O problema é que o brasileiro evita o confronto, é muito diplomático, cordial. Há enorme dificuldade de falar para um aluno que ele não é bom o suficiente. O brasileiro diz "ah, por que não pensas um pouquinho? A ciência talvez não seja para ti. Não estou dizendo que você não serve! Serve, mas veja...'"
Outro problema é a pontualidade, diz. "Nesses anos, participei de 45 mil reuniões e nenhuma começou na hora. Aí falamos sobre a Copa, mulheres, Maradona, o tempo acaba e marcamos outra."
Ele só não gosta da pecha de argentino. "O que incomoda não é a propaganda da Skol. É a ideia de que, por você ser argentino, não entende os problemas do Brasil. Como se todos tivessem vindo com os portugueses." (RM)


Texto Anterior: Fuga de cérebros tem via na contramão
Próximo Texto: "O país não gosta de premiar os melhores e penalizar os piores"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.